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Aramis

A realidade Latino-Americana vista em muitos documentários

Salvador - Dentro da multiplicidade temática que faz com que se lamente a impossibilidade física de acompanhar os diferentes programas que ocupam os vários espaços nos quais vem acontecendo a XVIII Jornada Internacional de Cinema da Bahia, é oferecido uma - rara - possibilidade de se conhecer um pouco da produção em vídeo e de documentários de alguns países do continente, especialmente da Argentina e Chile. Há anos, desde quando Roberto Farias presidia a extinta Embrafilme, que se tenta estabelecer canais que possibilitem uma permuta ao menos informativa do que se faz em países vizinhos, com a nossa produção. Infelizmente, apesar de vários encontros internacionais, documentos, convênios e discussões, continuamos praticamente na estaca zero. Com exceção de alguns filmes brasileiros de maior apelo comercial que tiveram lançamento na Argentina e Chile, nosso cinema continua desconhecido de nossos vizinhos - e mais ainda os filmes (e agora vídeos) que se produzem nestes países. Há exceções que só confirmam a regra, como "História Oficial", de Luiz Puenzo - mas este catapultado por carreira em festivais na Europa e o Oscar de melhor filme estrangeiro há três anos. Assim, tanto o mercado de cinema e vídeo - que procura estabelecer canais exeqüíveis para exibição de ao menos alguns títulos, desta produção - como os trabalhos nas mostras competitivas e informativas, merecem ser vistos com atenção. Além de uma vigorosa presença do cinema chileno - especialmente com documentários denunciando os anos de repressão e tortura do governo Pinochet - há produções argentinas que também documentam a história recente. Exemplos disto são os vídeos "Porque Somos La Plaza" (37 minutos, 1991, coletivo) e "A La Aurora Salieron Las madres com la Tierra", de Diana Iceruck (1990, 48 minutos), que lembra a luta das mães desesperadas que ficaram conhecidas como "Las Locas de la Plaza de Mayo" por seus protestos de massa contra os desaparecimentos de maridos e filhos, vítimas da repressão militar. Do Chile, além dos 10 filmes da mostra que está sendo levada a outras capitais (inclusive Curitiba), há também vídeos que competem aqui em Salvador. Em "No Me Ameaces", de Juan Andres Racz (52', 1990), são focalizados os fatos entre 1988/90, que levaram a abertura naquele país - numa reportagem que procura, com poesia e humor, mostrar a transformação do sanguinário Pinochet para o processo de redemocratização. Já "La Verdadera Historia de Johnny Good", de Andrés Vargas (42', 1990) há um relato dos sobreviventes do campo de prisioneiros de Pesagua e dos familiares que não voltaram (em 1990, descobriu-se o cemitério clandestino com os corpos das vítimas). Outro vídeo na mesma linha é "Chile se Lhama Luan", de Ana Maria Baraona (30', 1990), que lembra "Desaparecido" (Missing, de Costa-Gravas): aqui uma mãe procura seu filho que foi detido em setembro/73 em sua casa. Em "Soy Testigo", de Hermann Mondaça (1990, 45'), o juiz René Garcia Villegas dá um testemunho sobre a tortura no regime autoritário, a ação da justiça e as condições indispensáveis para a reconciliação do povo chileno. Outro vídeo também emocionante: "Huella de Sal", de André Vargas Danus (1990, 16'), traz o relato das viúvas e familiares dos 26 executados na "Caravana da Morte", na cidade de Calama, em outubro de 1973. Autobiográfico, "Una Vez Más Mi País", de Cláudio Sapiain, aborda a questão de um ex-exilado em permanecer ou não no Chile, após 11 anos de exílio. Mas nem só de repressão chilena-argentina foi esta jornada em termos da América Latina. O padre Conrado Berning, em seu "Ameríndia" (premiado em Brasília e que superlotou o Cine Ritz em duas sessões, em 11 de setembro), oferece uma reflexão da presença da Igreja e do branco na destruição da cultura continental nestes 500 anos de "colonização". E a questão financeira - pedra de toque dos problemas de todos os países - tem ao menos dois vídeos dos mais atuais: o argentino "Volviendo a Washington", direção coletiva, sobre a história do Peso, e "O Jogo da Dívida - Quem Deve a Quem", do brasileiro Eduardo Coutinho.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
26/09/1991

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