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Aramis

Resgate das crônicas de Gabriel na década de 40

A aceitação que certos escritores conseguem com seus romances, novelas e contos é tão grande que justifica os editores a lançarem em livros, textos avulsos, publicados em diferentes épocas, na imprensa - jornais e revistas. Ganham com isto os leitores interessados na obra do autor, pois assim passam a ter reunidos aqueles textos que, de outra forma, dificilmente conheceriam. Só isto já faz com que se saúde "Textos do Caribe" de Gabriel Garcia Marquez lançados em português, em cuidadosa tradução de Joel Silveira, pela Record. Dois volumes, num total de 689 páginas, foram necessários para conter os textos de Garcia Marquez, desde os tempos em que começou a escrever para o jornal "El Universal", na cidade de Cartagena, em 1948, até 1952, já então escrevendo há 3 anos uma coluna diária no "El Heraldo", sob o pseudônimo de Séptimus. Como parte da obra do autor de "Cem Anos de Solidão", estes textos apresentam interesse duplo: por um lado são constituídos pelos primeiros escritos de um jovem de 20 anos, que chegaria a ser o romancista hispânico mais importante da atualidade; por outro, são um testemunho do convulsionado mundo colombiano após a morte de Jorge Eliecer Gaitán, no dia 9 de abril de 1948. Ambos aspectos deram lugar a acontecimentos revolucionários. A morte de Gaitán traria consigo para a Colômbia um estado de violência que iria modificar para sempre a estrutura política e social do país, descobrindo por trás de um falso liberalismo, as pústulas da miséria, da injustiça e do terror. Também o começo de Gabriel Garcia Marquez como redator de "El Universo" seria o ponto de partida de uma coleção literária que deixou e deixa profundas marcas nas letras modernas. São textos que, a despeito de sua origem jornalística, não deixam de ser capítulos do livro único que são os livros de Garcia Marquez. Compilados por Jacques Gillard, que também escreveu seus prólogos, trazem coisas amenas, observações irônicas, elogiosas, cáusticas e até mesmo ferinas sobre acontecimentos mundiais, desde o mito sexual da época, Rita Hayworth, até o mau gosto no vestir do presidente Truman, passando por considerações sobre a obra de Faulkner, os filmes da época, o entusiasmo das novelas de rádio e até as profecias de Nostradamus. A linguagem já pronunciava o futuro criador de romances como "Cem Anos de Solidão", "O Outono do Patriarca" e "Crônica de uma Morte Anunciada". Embora muitos dos artigos e crônicas jornalísticas de Marquez, escritos há quase 40 anos, versem sobre temas e personagens totalmente locais - e portanto sem maior interesse ao leitor brasileiro - não deixa de ser uma prova de confiança em seu prestígio literário, o editor Alfredo Machado lançar estes dois volumes, vendidos a Cr$ 21.900,00 cada. Leitores devem existir. LEGENDA FOTO - Garcia Marquez: crônicas da imprensa.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Leitura
27
10/02/1985

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