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Aramis

A revisão da história das potências em cinco séculos

Há quase dois anos, quando saiu a primeira edição de "The Rise and Fall of the Great Powers", de Paul Kennedy, nos Estados Unidos, um amigo do professor Constantino Comninos, do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná, lhe enviou um exemplar. Apesar de ser uma obra robusta - 671 páginas - Comninos cruzou madrugadas em sua leitura, entusiasmado com as idéias e a forma com que o historiador contemporâneo Paul Kennedy traça a ascensão e queda das grandes potências mundiais num período de cinco séculos. Por achar que as idéias de Kennedy mereciam ser conhecidas de seus alunos, Comninos traduziu trechos da obra e baseou várias de suas aulas com este material então inédito. Agora, a Campus, editora que inicialmente vinha editando apenas títulos na área informática mas amplia seu catálogo com obras da maior importância, publica tradução de Waltensir Dutra para este livro fundamental sobre as transformações econômicas e os conflitos militares de 1500 ao ano 2000. Começando no século XVI, com a ascensão do Império Habsburgo e concluindo com uma brilhante análise das tendências econômicas e tecnológicas de hoje para o equilíbrio de forças no século XXI, Paul Kennedy mostra como a interação das forças econômicas e militares governa o progresso das nações. Seja no século XVII ou no século XX, uma nação projeta o poder militar de acordo com seus recursos econômicos. O alto custo da manutenção da supremacia militar, porém, enfraquece a base econômica. As grandes potências em declínio reagem gastando mais com a defesa, e desse modo intensificam seu processo de enfraquecimento, desviando recursos essenciais dos investimentos novos e produtivos. Ao descrever a ascensão e posterior queda dos principais países no grande sistema de poder desde o avanço da Europa Ocidental no século XVI - de nações como a Espanha, Holanda, França, Império Britânico e atualmente Estados Unidos - Paul Kennedy mostra a correlação significativa que sempre houve em toda a História entre a capacidade produtiva e criadora de receitas e a força militar. Assim, Kennedy desenvolveu um estudo de amplas proporções e ao mesmo tempo detalhado em suas análises, esclarecendo a política das grandes potências durante mais de cinco séculos e focaliza o dilema crítico enfrentado hoje pelos Estados Unidos, União Soviética, Europa Ocidental e as potências emergentes da Ásia. Professor há seis anos em Yale, Kennedy formou-se pelas universidades de Newcastle, Oxford e Bonn e hoje é respeitado como um dos mais importantes historiadores contemporâneos. xxx Dentro da linha de estudos profundos de história, outro lançamento importante é "Um Espelho Distante", de Barbara Tuchman, falecida em fevereiro último. Anteriormente, a mesma José Olympio Editora já havia publicado outro livro de Barbara Tuchman, "A Marcha da Insensatez" (já na terceira edição). Barbara Tuchman pertence à grande tradição dos historiadores não acadêmicos que escrevem história como literatura. Nos Estados Unidos, vendeu mais de 600 mil exemplares e permaneceu entre os cinco best-sellers em 1978, durante 26 semanas. "Um Espelho Distante" vai sacudir algumas teses de historiadores conservadores. Assim, os que aceitam a Idade Média como uma época de paz e estabilidade terão um ponto de revisão dos conceitos. A começar pelo título: "Espelho" lembra as várias e surpreendentes semelhanças entre aquele período e o nosso; hostilidades quase que constantes, tanto internas como internacionais; instabilidade política em extensas áreas e sublevações populares; uma crise de confiança com relação a quase todas as instituições, especialmente no que se refere à Igreja e o início do individualismo combinado com um declínio geral da autoridade. Já "Distante", indica diferenças marcantes, como uma paixão inabalável pela luta, a ostentação pública por parte dos ricos e a falta de organização no que diz respeito a qualquer esforço em larga escala. O subtítulo ("O Terrível Século XVI") expõe uma conclusão fundamental da autora: foi uma das piores épocas da história Universal. São 640 páginas, escritas em estilo claro e discreto, levantando a história das lutas e das ações dos homens. São séculos analisados sobre a ótica da razão, da pesquisa e da lucidez. Barbara Wertheim Tuchman (1912-1989) costumava dizer: - "Sou uma escritora de história. Nunca me doutorei, não dou PhD e acho que isso é que me salva. Um doutorado teria esmagado minha capacidade de escrever". Para ela, os livros de história deveriam ter uma introdução, depois um desenvolvimento e um final, criando "um certo suspense para atrair a atenção do leitor". Isto, obviamente, faz os historiadores oficiais espumarem de indignação, mas o fato é que seus livros chegaram sempre a grandes faixas de leitores. Didática, criteriosa em suas pesquisas, Barbara nunca deixou de escrever para ser lida e compreendida. Por todos. xxx Os 200 anos da Revolução Francesa estimularam lançamentos de dezenas de livros a respeito, ampliando, assim, a bibliografia para o público interessado. Um dos mais interessantes foi o do professor Michel Vovelle, da cadeira de História da Revolução Francesa da Universidade de Paris, diretor do Instituto de História da Revolução, um dos principais historiadores marxistas da atualidade: "França Revolucionária 1789-1799", em tradução de Denize Bottman (565 páginas, Brasiliense) não se limitou a colocar as suas observações em relação aos fatos da Revolução que modificou os destinos da humanidade. Ao contrário, formou uma equipe de quase 100 historiadores entre os quais repartiu pelos temas os mais diversos e, especialmente, pelos menos conhecidos, porém, quem sabe, mais importante. Como era a vida cotidiana dos franceses no século XVIII e como passaram a viver depois da Revolução? Poderia haver divórcio, enquanto a Igreja Católica mandava nas mentes e corações? O detalhamento deste belo volume organizado por Vovelle vai ao ponto de apresentar a bibliografia da literatura gerada pela revolução de 1789 até uma filmografia de obras que focaram a Revolução, seus líderes, suas histórias - a partir de 1978 ("Mort de Robespierre", de G. Hatot) até 1983 ("Casanova e a Revolução/Le Nuit à Varenoss; "Danton", de Wajda).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
28/10/1989

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