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Aramis

"Rio-Leningrado", um filme de aproximação

Até agora, só houve uma exibição pública: "Rio-Leningrado Sem Fronteiras" foi mostrado numa sessão às 23 horas durante o V FestRio (17 a 26 de novembro de 1988) para um público que lotou o Cine Roxy, ansioso para conhecer a primeira co-produção Brasil-Rússia. Dentro das glastone, este documentário realizado a quatro mãos por Carlos Ribeiro Prestes e Valery Naumov poderá fazer mais pela aproximação maior entre o Brasil e a Rússia do que milhões de dólares gastos oficialmente. Simplesmente porque tanto Carlos Ribeiro Prestes como seu colega Valery Naumov partiram do olhar espontâneo para, em sequências bem escolhidas mostrarem cenas do quotidiano no Rio de Janeiro e Leningrado - cidades-irmãs dentro de um programa desenvolvido quando Saturnino Braga ocupou a Prefeitura do Rio de Janeiro. xxx A primeira (e até agora única cópia) de "Rio-Leningrado", finalizada em laboratório daquela cidade, foi trazida, em mãos, pelo vice-prefeito de Leningrado, que chegou durante o Festival e compareceu na sessão especial - na qual estavam, naturalmente, políticos de vários partidos de esquerda. Aplaudido, em pé, ao ser anunciada a sua presença, Luís Carlos Prestes, na dignidade de seus 91 anos, completados no último dia 3 de janeiro. Ao lado da esposa Maria, uma satisfação pessoal do velho líder marxista: o filme foi realizado por seu filho caçula, Carlos, 34 anos, nascido no Rio mas que o acompanhou no exílio da família em Moscou. Aluno da Faculdade de Cinema de Moscou por 5 anos (é bom lembrar que a primeira escola de cinema russa foi fundada em 1919, dois anos após a revolução, pois Lenin entendeu a importância deste meio de comunicação), Carlos Ribeiro Prestes realizou seus primeiros filmes em Moscou - "Persistência", sobre os exilados brasileiros durante a Ditadura Militar; "Saudações a Ricardo" (homenagem ao líder uruguaio Ricardo Sakslund) e uma média sobre a ampliação do metrô na Capital soviética ("A Próxima Estação"). De volta ao Brasil, Carlos fez um lírico filme intitulado "História de Violões - tomando por roteiro um poema de Garcia Lorca. xxx A idéia de uma co-produção com a URSS que Carlos trouxe ao voltar ao Brasil, há seis anos, entusiasmou o ator e diretor Antônio Pedro, quando secretário da Cultura da Prefeitura Socialista do Rio de Janeiro - como ele sempre anunciava. A primeira etapa foi fazer uma aproximação oficial entre o Rio e Leningrado, ambas cidades que foram capitais federais e perderam estas condições - a primeira com a inauguração de Brasília, há 28 anos, Leningrado depois da revolução de outubro de 1917. Coincidentemente, a idéia de fazer um filme sobre duas cidades-irmãs, filmadas por cineastas dos dois países - numa integração de visão e comportamento, surgiu paralelamente a outro projeto com a mesma concepção: o "BrasCuba", produção de Ney Srolevich e que trouxe o cubano Santiago Alvares para filmar no Brasil e levou o brasileiro Orlando Senna para filmar em Cuba - mostrando as semelhanças e os nexos culturais entre os dois países apesar das diferenças geográficas e políticas entre a Ilha do Caribe e o "continente" Sul-americano. Inédito ainda comercialmente, "BrasCuba" concorreu no XXI Festival do Cinema Brasileiro de Brasília. Agora, Tetê Moraes, que com seu "Terra para Rose" conquistou os mais importantes prêmios na temporada 1987/88 (inclusive o Gran Coral, no Festival de Cinema Livre de Havana, dezembro/1987), está preparando uma co-produção com a Nicarágua: irá filmar naquele país, enquanto o mais ativo cineasta nicaragüense, Ivan Argues, realizador de "Mulheres da Fronteira" (que até agora teve algumas projeções reservadas no Brasil, promovidas por Valkiria Barbosa, diretora do Rio-Cine Festival) virá fazer o mesmo no Brasil. Só que, ao que nos antecipou Tetê, o projeto terá um enfoque diferente de "BrasCuba" e também de "Rio-Leningrado". Não deixa, entretanto, de seguir a mesma fórmula de integração, via cinema, de dois países. xxx Em "Rio-Leningrado", além de aspectos diferentes nas duas cidades há também depoimentos de brasileiros e russos. No lado carioca, aparecem Xuxa, o jogador Zico, o homem de teatro Amir Haddad, as bailarinas Heloísa Vigiani, Norma Telles e Marta Freire (filha do deputado Roberto Freire), as duas estudando no Bolshoi, em Moscou. A atriz Dina Sfat, que na época das filmagens encontrava-se em Moscou, fazendo um documentário para a Rede Globo (agora lançado em vídeo) também aparece em algumas sequências. Naturalmente, o depoimento mais longo é do ex-prefeito Saturnino Braga, que mostra sua bela voz (foi coralista na juventude) cantando, afinadamente, "Carinhoso". Do lado soviético há também depoimentos - mas no caso os nomes ficam sem registros, pois faltou, na primeira cópia, legendas que os identificassem, o que deverá ser corrigido agora, com a finalização de outras cópias - a serem apresentadas em circuitos especiais no Brasil - e possivelmente também na televisão. Na União Soviética, "Rio-Leningrado" já foi exibido em cadeia nacional na segunda quinzena de dezembro, atingindo um público de mais de 200 milhões de telespectadores. xxx O filme que Carlos e Valery realizaram é apenas o primeiro momento de um amplo programa cultural, e sua importância cresce também para o lado econômico e diplomático. A decisão do presidente Sarney em incluir Leningrado no seu roteiro ao viajar à URSS foi, diz Carlos, consequência do programa das cidades-irmãs - e uma grande feira Brasil-Leningrado deverá acontecer este ano, com maciça participação de empresários brasileiros. Olhos postos num grande mercado, a Mendes Júnior já iniciou os contatos para a construção de um super hotel na Rússia. LEGENDA FOTO: Carlos Ribeiro e Valery Naumov filmando a entrevista de Zico para "Rio-Leningrado Sem Fronteiras".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
15/01/1989

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