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Robbins, receita de best-seller para vencer a crise

Apesar do número reduzido - menos de 40 - livrarias existentes no Paraná, refletindo, aliás, uma realidade nacional, o carioca Carlos Alberto Tenassi Maia, 42 anos, há dois anos representante territorial da maior Editora do Brasil - Record, não tem motivos de queixas. Mensalmente ultrapassa as cotas de vendas e tem merecido de Sérgio Machado, presidente da empresa fundada por seu pai, Alfredo Machado, não só elogios e estímulos financeiros, como é hoje considerado um vendedor-padrão. Para este verdadeiro "milagre editorial-comercial" - numa época em que acomodados (e incompetentes) comerciantes tradicionais se limitam a se queixar da crise e oferecer números pessimistas, Carlos Alberto é um dos homens que mais viaja pelo Paraná. Afora as (poucas) livrarias tradicionais - existentes apenas em cidades maiores, Carlos Alberto tem estimulado a abertura de novos pontos de vendas, com idéias que vão desde a colocação de gôndolas até prateleiras especiais em farmácias, postos de gasolina, supermercados e até mesmo bares e restaurantes, "para que os produtos editoriais tenham seu espaço" garante, num trabalho que beneficia colegas e concorrentes - com os quais, aliás, mantém bons contatos. Sérgio Van Der Berg, 45 anos, 10 de vida editorial, ex-Nova Fronteira, hoje dividindo-se entre outras duas excelentes editoras - Siciliano e Companhia das Letras, é outro exemplo do profissional que trabalhando nas livrarias do Paraná e Santa Catarina, tem confirmado que mesmo com toda a crise, os lançamentos editoriais quando bem produzidos, podem alcançar várias faixas de público. Por exemplo, um dos lançamentos mais audaciosos feitos este ano, o primeiro volume de "Vínculos do Fogo" (1.054 páginas, Cr$ 137.000,15), exaustiva biografia do dramaturgo Antônio José da Silva, e Judeu (RJ, 1705 - Lisboa - 1739) - dentro de um panorama histórico da inquisição em Portugal e no Brasil, no qual o jornalista Alberto Dines, ex-"Manchete", ex-"Jornal do Brasil", vem trabalhando há anos, está tendo uma procura ascendente, especialmente por parte de judeus. "É um livro especial, que não aparece como best-seller mas tem grandes potencialidades", diz Sérgio. Já "Os Estupradores", 20º romance do maior "fabricante" de best-sellers dos Estados Unidos, Harold Robbins, é um romance de consumo fácil, rápido, que colocado nas livrarias há menos de um mês já aparece entre os mais vendidos na categoria de ficção. Em poucos dias, Carlos Alberto vendeu mais de 500 exemplares no Paraná, pois Robbins, com sua fórmula que sempre funciona - sexo, aventura, contemporaneidade das histórias - tem um público dos mais fiéis e já vendeu 685 milhões de cópias de seus romances em 81 edições. Calcula-se que a cada dia do ano, 40 mil pessoas em todo o mundo compram um romance do autor, cujas obras já foram traduzidas para 32 línguas e têm sido catapultuadas [catapultadas] em adaptações para o cinema e televisão. Sabendo desenvolver uma boa ficção, levemente inspirado, em alguns casos em personagens reais - como Howard Hughes (1906-1976) em "Os Insaciáveis" (The Carpetbargers), que Edward Dmyk filmou em 1963, com um superelenco - e que em 1966, no auge da repressão militar no Brasil chegou a ser proibido pela censura. A vida do playboy Porfírio Rubirosa foi disfarçada em "Os Insaciáveis" filmado em 1970 pelo inglês Lewis Gilbert e que, medíocre como filme, valeu pela trilha sonora de Antônio Carlos Jobim, na qual saiu o tema "Wave" (mais tarde, ganhando letra e o título de "Vou Te Contar"). O assassinato do gangster Stopanatto, amante da atriz Lana Turner, por sua filha adolescente, se transformou em "Escândalo na Sociedade" - também adaptado para um filme (estrelado por Susan Hayward). Robbins - como seu colega, Sidney Sheldon, 75 anos (este com ligações ainda mais diretas com o cinema, inclusive tendo dirigido a biografia de Buster Keaton (1895-1966 em "O Palhaço Que Não Ri", 57), escreve seus romances já pensando nas adaptações para outros veículos e dentro de esquemas que o tornam leituras rápidas, digestivas, para um público mundial. Assim, "Os Estupradores", que quebra um descanso de alguns anos (seus últimos romances haviam sido "79 Park Avenue" e "Stiletto"), traz como cenário a Wall Street dos anos 90, misturando negócios obscuros, crime organizado e o personagem central, Jed Stevens, jovem sobrinho de um cappo mafioso, meio siciliano, meio judeu, procura um caminho longe dos "negócios da família" - mas as tramas se interligam, inclusive uma viagem à Amazônia dentro de um roteiro de narcotráfico. Robbins sabe dosar seus romances, com cenários, ação ininterrupta e personagens desenvolvidos por um profissional competente, que mesmo visto com restrições pela crítica, é reconhecido como habilidoso contador de histórias. A Record tem em catálogo toda sua obra, algumas com sucessivas edições como "Escândalo na Sociedade" (16ª), "Os Herdeiros" (14ª), "Os Insaciáveis" (14ª), "Ninguém é de Ninguém" (18ª), "Stiletto", (14ª), entre outros exemplos de como se produz obras para massificante leitura. Por sua importância histórica, o primeiro volume de "Vínculos de Fogo", contando a primeira parte da vida do dramaturgo Antônio José da Silva, conhecido como o Judeu, consolida o jornalista Albert Dines como um verdadeiro historiador, já que, nos últimos anos, publicou livros sobre o escritor Stefan Zweig (que se suicidou no Brasil) e a família Abravanel, reconstituindo a trajetória de antepassados e Señor Abravanel, ou seja o nacionalmente conhecido Sílvio Santos. O Judeu - cuja vida o cineasta Tom Azulay vem tentando levar ao cinema há quase 10 anos (uma produção complicadíssima, iniciada em Portugal e interrompida por falta de recursos) foi a mais famosa vítima da Inquisição portuguesa, que o garroteou e queimou em uma fria madrugada de outubro de 1739. Ao longo de mais de mil páginas, numa obra enriquecida com centenas de documentos, ilustrações, num cuidadoso trabalho gráfico-editorial o ex-editor-chefe do "Jornal do Brasil" - hoje residindo em Portugal (veio ao Brasil, há algumas semanas, especialmente para o lançamento deste livro) traça a biografia de um escritor novo nascido no Brasil mas cujas óperas cômicas fizeram rir toda Lisboa. Entretanto, não se limita a biografia, sendo sobretudo um painel minucioso abrangendo um período de dois séculos - o XVII e o XVIII -, no qual ressurge palpitantes o cotidiano dos habitantes da metrópole e da Ecolônia - e, principalmente, a peregrinação aos cristãos-novos de ambos os lados do Atlântico, obrigados a viver sob a intolerância religiosa e o terror promovidos pelo Santo Ofício.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
10/07/1992

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