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Aramis

Roqueiros bebem sangue na sede do CTG de Cascavel

Aconteceu em Cascavel, há duas semanas. Durante o "Baile do Recadinho", realizado na sede do Centro de Tradições Gaúchas Gaudérios do Oeste, "atração artística" - o grupo "Dragões do Heavy Metal", ao apresentar um "show pauleira" matou uma galinha a dentadas, enquanto um de seus integrantes, Fábio Ramos, 18 anos (incompletos), bebia o sangue da ave - numa cena repugnante e que levou dezenas de pessoas a deixarem o local. O fato, denunciado pelo jornal "O Paraná", provocou, naturalmente, muitos comentários contrários ao exibicionismo "brutal e imoral" do grupo musical (sic), mas, mais do que a simples repulsa à cena inspirada nos momentos mais cruéis do chamado "rock heavy" dos anos 70/80 - é mais uma confirmação do colonialismo cultural a que chegamos no Brasil. xxx De princípio, é chocante imaginar que a sede de um Centro de Tradições Gaúchas, instalado numa cidade jovem e colonizada basicamente por imigrantes vindos do Rio Grande do Sul, abrigue festas de rock nas quais são contratados, como atração, grupos de rock da pior espécie, amadoristicamente macaqueando aquilo que de mais medíocre existe no Exterior. No chamado heavy rock, o grupo Black Sabbath (Sábado Negro), surgido no final dos anos 60, envolto numa onda de crenças místicas e associações com o ocultismo, embora recebido com críticas pela imprensa mais consciente, conseguiu atingir sucesso internacional ultrapassando os meios da promoção convencional. Seu líder, Ozzy Osbourne (Aston, Birmingham, Inglaterra, 3/12/1948), após ter sido boxeador, fundou a Black Sabbath, onde ficou até 1978. Caracterizando-se por extrema violência, Ozzy chegou até a comer um morcego vivo, durante um de seus shows - o que o levou ao hospital. Os discos do Black Sabbath - a exemplo de outros grupos heavy (como o Kiss, que já esteve no Brasil) sempre foram ensurdecedores e violentos com o culto ao demonismo nas ilustrações da capa e, ao vivo, com seus integrantes, apelando para os mais baixos recursos. Este péssimo exemplo do que há de pior no pop internacional, catapultado pelas poderosas multinacionais do disco, reflete-se sobre jovens sem nenhuma base cultural, que desprezando a cultura de seu país, adotam, da forma mais colonizada, exemplos tão negativos. Lendo-se a entrevista de Fábio Ramos, o líder do grupo "Dragões do Heavy Metal", ao jornal "O Paraná" (8/8/86), no qual tenta justificar de sua atitude, percebe-se que este adolescente está na barreira da debilidade mental, sem qualquer instrução ou formação musical - totalmente corrompido pela preocupação de fazer som jovem, "o rock da pesada" e outras bobagens. xxx A gravidade no incidente é que uma firma de espetáculos artísticos (sic), dirigida por um certo Juarez Story(?), foi a intermediária na contratação dos "Dragões do Heavy Metal" com os promotores do "Baile do Recadinho". O patrão (presidente) do CGT Gaudério do Oeste, Jaime João Argenta, tentando justificar os fatos disse que "eles nos enganaram, nos deram uma rasteira". Mas é de se indagar, de que nível o movimento tradicionalista gaúcho, desenvolvido a partir do CGT Júlio de Castilhos, em Porto Alegre, quando Paixão Cortes e Barbosa Lessa o fundaram (em 1948), pode ter chegado no Paraná? Desde quando que um CGT, voltado as tradições gaúchas, como especifica em seu próprio nome, pode se permitir que, mesmo indiretamente, sua sede seja utilizada para festas de rock, na qual a atração é um grupo de adolescentes idiotas beirando a debilidade mental e que na ausência de qualquer formação musical, matam no palco uma galinha, a dentadas, para, vampirescamente, ali beberem, diante do público, o seu sangue?
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
12/08/1986
lembro-me desse episódio, foi algo constrangedor para toda a comunidade gauchesca regional. tempos depois, esse CTG enfim parou com as atividades

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