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Aramis

Sambistas

A programação de marketing das grandes gravadoras já estabeleceu cronogramas fixos para a disputa do mercado em determinadas faixas. E na área das sambistas os campos estão definidos: a Odeon ataca com Clara Nunes, que de elepe para elepe vem vendendo cada vez mais, a RCA tem Beth Carvalho (ex-Tapecar) para dividir o orçamento dos fãs e a Phonogram vem tendo na ascendente Alcione uma candidata forte a garantir excelentes vendas. Este ano, afora Alcione, a Phonogram reforçou a área com a contratação de Sonia Lemos, que há 12 anos passados fez sucesso com a bossanovista "Viola Enluarada" (Marcos/Paulo Sérgio Valle), andou desaparecida e retornou, em 1976, colocando "Sete Domingos" (Agepê/Canário) nas paradas, via Continental. E a CBS, multinacional que afinal se voltou a dar atenção ao elenco nacional graças a direção artística de Jairo Pires, decidiu promover uma fraterna disputa, colocando na praça a excelente Vania Carvalho, irmã mais velha de Beth (há também um primo, Lula Carvalho, cujo primeiro disco saiu pela GTR, mas sem ter conseguido agora qualquer divulgação). Clara Nunes ("Guerreira", Odeon), volta-se para uma linha umbandista, com orações nagô, com ilustrações de pontos umbandistas na contracapa no melhor estilo de Maria Bethânia. E, afinal, Clara Nunes, uma das cantoras de maior popularidade no Brasil, que tem encontrado em seus maridos excelentes produtores (primeiro o paranaense Adelson Alves, agora o letrista Paulo Cesar Pinheiro) nem precisaria tais preocupações. Ótimos músicos e um repertório bem escolhido - incluindo sambas de gente como Paulo Vanzolini/Eduardo Gudin ("Mente"), Candeia Casquinha ("Outro Recado"), Nelson Cavaquinho/Guilherme de Brito ("O Bem e o Mal"), naturalmente o marido Paulinho Pinheiro ("Guerra"), parceria com João Nogueira; "Jogo de Angola", parceria com Mauro Duarte; ("Ninguém"), e encerrando até uma música que o pernambucano Capiba fez sobre um poema de seu conterrâneo Manuel Bandeira ("Tu Que Me Deste O Teu Cuidado"). Descontraída, depois dos botequins da vida do ano passado, Beth Carvalho está agora "De Pé no Chão" (RCA), dedicado, muito justamente a Cartola (Angenor de Oliveira, 70 anos), de quem gravou agora "Quem Sejam Benvindos". Aliás, além dos arranjos perfeitos - e que não comprometem a espontaneidade de interpretação de Beth, com músicos excelentes - o disco reúne um repertório de sambas autênticos: Nelson Cavaquinho/Guilherme de Brito ("Meu Caminho"), Nelson Sargento ("Agoniza Mas Não Morre") (a propósito: quando será que darão a Nelson Sargento a chance de fazer seu lp ?), Candeia ("Você, Eu e a Orgia"), parceria com Martinho da Vila, Monarco ("Lenço", parceria com Francisco Santana; "Linda Borboleta", antigo samba feito com Paulo da Portela, falecido há 20 anos passados), Rubens da Mangueira ("O Isaura"), entre outros. E se o disco de Beth é ótimo, a mesma classificação merece sua irmã, Vania, estreando em lp, com produção de Paulinho Tapajós, que mostra toda sua competência: basicamente, a mesma linha de qualidade dos autores que Beth interpreta, mas com muita personalidade fazem de Vania (CBS, 1380082), uma das grandes revelações deste ano. Vania gravou sambas de Cartola ("Peito Vazia", parceria com Elton Medeiros), Francisco Santana ("Pranto"), Nelson Cavaquinho/Guilherme de Brito ("Minha Honestidade Vale Ouro"), Elton Medeiros/Antonio Valente ("Unha de Gato"), regravou Noel Rosa ("Quando O Samba Acabou"), Adoniram Barbosa/Hervê Cordovil ("Prova de Carinho"), e mostra surpresas agradabilíssimas, como músicas de Ruy Quaresma ("O Importante É Ser Feliz"), do desconhecido F.Malfinato ("Mente Ao Meu Coração", e da dupla Arthur Verocai - Paulinho Tapajós ("Saudade Demais"), que há 10 anos, a época dos FICs fizeram muita coisa bonita. Mas o melhor do disco é a homenagem Egberto Gismonti e Paulo Cesar Pinheiro a um dos mais admiráveis compositores de todos os tempos: "Nelson Cavaquinho". Egberto, compositor-instrumentista dos mais vanguardistas, mostra que também faz melodia simples, encontrando na poesia de Paulo Pinheiro as palavras certas para a homenagem a Nelson Cavaquinho, que ninguém melhor que Vania poderia cantar. De todos os produtores fonográficos que conhecemos, o baiano Roberto Santana, hoje diretor do elenco nacional da Philips, é um dos que tem melhor visão artística-comercial: lançou o Quinteto Violado, descobriu Fafá de Belém e agora trabalha na promoção de Marku e Zizi [Possi]. Alcione, cantora (e pistonista, nas horas vagas de seus shows) foi outra das descobertas de Santana, que tem cuidado do repertório dos seus elepês. "Alerta Geral" (Philips, 6349383), como os discos anteriores de Alcione está [vendendo] muito; a moça canta bem, há balanço e o repertório é dos mais equilibrados - indo desde os autores mais comerciais (Chico da Silva/Antonio José, "Sufoco", Roberto Correia Sylvio Som: "Eu Sou a Marrom") até gente como Candeia ("A Profecia"), passando por muitos baianos (Gil: "Entre a Sola e o Salto", Ederaldo Gentil: "A Volta do Mundo"; Veve Calazans/Idázio Tavares: "Mal Negócio"), uma música que marca a volta de João do Vale ("Todos Cantam Sua Terra"), além da gravação "Zelão", clássico de Sérgio Ricardo. Alcione mostra principalmente toda sua bossa na interpretação descontraída do samba de breque "Eu Sou a Marrom". "O Amor Seja Benvindo" (Polydor, outubro/78) representa muitos passos adiantes em relação dos discos que Sonia Lemos fez na Continental, onde o sucesso de sambões-jóias (sic) tipo "Sete Domingos" a obrigou a gravar repertórios medíocres. Voltando a Phonogram, onde fez há muitos anos o seu primeiro lp ("Viola Enluarada"), Sonia teve da parte do produtor Pedro da Luz oportunidade de gravar um excelente repertório; que por si justifica a audição cuidadosa deste lp. Por exemplo, os veteranos Claudionor Cruz - Pedro Caetano ("A Vida É Amor"), Cartola ("Autonomia"), Monarco ("Aurora da Minha Vida"), os baianos Edil Pacheco - Paulinho Dini ("Coração Vadio"), Leci Brandão ("Momento Exato"), Eduardo Gudin - Paulo Cesar Pinheiro ("Caso"). Sambista dosimi cariocas, cada vez mais esquematizados também comparecem: Noca da Portela ("Que o Amor Seja Benvindo"), Sidney da Conceição - Aurinho da Ilha ("Amor Negro"), Noca da Portela ("Canto Nenhum"). Enfim, Sonia Lemos cantando sambas deste pessoal pode ter muito mais chance do que se limitar aos Agepês e Benitos Di Paula.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
34
29/10/1978

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