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Aramis

Sarah, a divina jazz singer

Que alegria poder ouvir, numa edição remixada, sem ouvir ruídos, uma das mais belas vozes do jazz, nos seus anos de esplendor? É isto que temos em "The Divine" (CBS, álbum duplo), com Sarah Vaughan em seus "Columbia Years" (1949/53). Como a brasileira Elizeth Cardoso - de quem aliás é grande amiga e admiradora, Sarah (Lois) Vaughan (Newark, New Jersey), 65 anos completados no dia 27 de março, é chamada "A Divina". Só que nos Estados Unidos, a idade só faz com que aumente o prestígio, a admiração e o público por sua arte maravilhosa, enquanto que, infelizmente, neste nosso Brasil de sucessos descartáveis, Elisete Cardoso, 68 anos, com toda a dignidade que sempre lhe caracterizou, não tem sido devidamente valorizada - sendo que seu último e maravilhoso lp (1986, pela extinta Arca, produção amorosa de Hermínio Bello de Carvalho) não encontrou o público que merecia. Pobre país que não sabe enaltecer suas vozes maiores... Sarah Vaughan, nos anos em que gravou centenas de canções na CBS, das quais James Isaac e Joe McEwen extraíram as 28 faixas deste álbum duplo, estava em sua fase máxima de esplendor. Com uma carreira, então, de 10 anos (em 1939, no Apollo Theatre, como vocalista do grupo de Earl Hines, havia surgido como grande revelação), Sassy já havia passado pelas orquestras de Billy Eckistine (1944) e trabalhando no Cafe Society, em Nova Iorque, despertava o entusiasmo de músicos como Parker e Gillespie. Em 1949, quando assinou com a Columbia, teve também a projeção ampliada por participações em programas de rádio e na iniciante televisão. Com sua voz marcante, diferente de Billie Holiday (1915-1959), Sarah trouxe ao jazz a combinação da tonalidade controlada e o vibrato e, sobretudo, o bom gosto para a escolha de um repertório sofisticado. Provas disto estão nas 28 faixas deste "Columbia Years". Cada uma, se houvesse espaço, mereceria um registro à parte - com descrição de sua importância, dos músicos (sempre excelentes) que delas participaram e da importância na música americana. Nove faixas são de 1949, entre as quais standards definitivos como "Just Friends" e "Summertime"; onze pertencem ao fértil ano de 1950, no qual Sarah gravaria "It Might As Well Be Spring" (Rodgers/Hammerstein), "I'll know" (F. Loesser), "Ain't Misbehavin" (Razaf/Waller/Brooks) e "Nice Work If You Can Get It" (Gershwin). Do ano de 1952, quatro faixas ("Deep Purple", "My Reverie", "After Hours" e "Pink"), sendo também quatro os registros escolhidos do ano seguinte ("Street of Dreams", "Spring Will Be a Little Late This Year", "Blues Serenade" e "Ooh What-Cha Doin't To Me"), todas gravadas em janeiro de 1953. Um álbum documento precioso. Se já há muitos discos da (imensa) fonografia de Sarah no Brasil, este "The Divine" é aquilo que se pode definir apenas numa palavra: indispensável.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
12
02/04/1989

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