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Aramis

Sem discussão, "Bird" é a melhor estréia da semana

Bastaria um estréia para fazer desta uma semana especial: BIRD. Depois de "Em Torno da Meia Noite" (Round Midnight, 1986, Bertrand Tavernier), era difícil imaginar um filme melhor sobre o mundo dos jazzistas. Para surpresa geral, Clint Eastwood, na maturidade de seus 58 anos (completará 59 neste ano), distante dos tempos de violência do "Harry, o Sujo" ou mesmo dos bangue-bangues à spaghetti, que lhe deram fama como ator, realizou uma honesta, bela e comovente transposição à tela da vida de Charlie Parker (1920-1955), o nome mais lendário do saxofone, pilar do bebop e cujos admiradores devem crescer após conhecerem este filme - que levado ao Festival de Cannes-88 valeu a Forrest Whitaker o prêmio de melhor ator e fez com que a crítica internacional reconhecesse os méritos de Eastwood como diretor - carreira que vem desenvolvendo paralelamente a de ator desde 1971. Por sua importância como filme e por trazer ao grande público uma das personalidades mais fascinantes do jazz, "Bird" (forma afetiva com a qual Parker era conhecido no meio jazzístico) mereceria um tratamento especial, com uma pré-estréia promovida em conjunto com o Note Jazz Clube, motivando ao menos os músicos da cidade - que, com raras exceções pouco freqüentam os cinemas. Infelizmente, o atencioso Aleixo Zonari não pôde programar melhor o filme: as duas fitas que estiveram anteriormente em exibição no Bristol - "Curto Cicuito II" e "O Amor Não Tem Sexo", tiveram rendas tão fracas que foram retiradas em apenas uma semana e, assim, "Bird" chegou apressadamente. O que é pior: se não houver um prestigiamento do público, acontecerá o que houve com "Round Midnight": o filme dança em uma semana. Mais uma prova de que a tão propalada "inteligência" cinematográfica curitibana é uma ilusão e que os melhores filmes fracassam em nossas telas. Cocoon - O Regresso (Cine Plaza, 5 sessões). Não podeira ser diferente: a primeira parte emocionou adultos e crianças enternecendo, especialmente os idosos - que viram uma chama de esperança na parábola do filme lírico e suave. O veterano Don Ameche, 73 anos, acabou até ganhando um Oscar de melhor ator coadjuvante. Assim a 20th Century Fox providenciou, rapidamente, uma continuação para "Cocoon", utilizando basicamente o mesmo elenco: Ameche, Wilford Brimley, Hume Cronyn, Jack Gilpord, Maurren Stapletton, Jessica Tandy. Só o diretor foi substituído: agora é Daniel Petrie, 69 anos, 30 de cinema - após longa experiência na televisão e que estreou com um drama realista para a época ("Espinhos da Carne/The Bramble Bush", com Richard Burton) e cuja carreira tem apresentado altos e baixos. Science-fiction tamanho família, emotivo, com trilha de James Horner e caprichada fotografia do nipônico Tak Tujimoto, "Cocoon - O Retorno" tem tudo para agradar. A conferir. Romance (Luz, 5 sessões). Odiado ou amado, o filme do ponta-grossense Sérgio Bianchi tem sido visto em festivais internacionais: Munique, Canadá e, na semana passada em Berlim, onde foi o único representante brasileiro na mostra informativa. Talvez ainda seja levado aos festivais de Roterdan e - pasmem! - Moscou, mesmo com o deboche e audácia de Bianchi (apesar da glasnost, os soviéticos ainda não aceitam filmes com longas cenas de homossexualismo, como ele mostra). Oportunisticamente, Chico Alves aproveitou o noticiário que "Romance" ganhou por ter ido a Berlim e reprisa o filme. O que é bom, pois mesmo chocando, o cinema de Serjão é de idéias, corajoso e polêmico. Provocativo como deve ser. Algumas seqüências foram rodadas em Curitiba. Lola Montez - É um clássico do cinema: realizado em 1955, biografando livremente a escandalosa cortesã Maria Dolores Porriz y Montez, condessa de Lansfeld, mais conhecida como Lola Montez, uma das favoritas de Luis II, da Baviera, este filme mostrou a exuberância visual de Max Ophuls (1902-1957), cineasta alemão de carreira internacional. Foi seu último filme, com um elenco superstar para a época - a loira Martine Carol (1922-1967) na personagem título, Peter Ustinov como o mestre de cerimônias do circo no qual é reconstituída a vida da cortesã; Anton Walbrook como Luís II; Ivan Desney como um sedutor tenente James e Oskar Warner, praticamente estreando, como o estudante que se apaixona por Lola. Superprodução para a época foi - ao lado de "Vidas Amargas" (64, de Elia Kazam) e "Nasce Uma Estrela" (54, de George Cukor) um dos três primeiros filmes - e a primeira produção francesa - a utilizar o cinemascope. Último trabalho de Ophuls, sofreria cortes por parte dos produtores e distribuidores, o que o irritou bastante. Em 1968, Pierre Braunberger recuperou seus direitos e fez uma remontagem fiel. A cópia que o Groff apresenta está bastante usada (já foi exibida na Cinemateca, há alguns meses) mas vale a pena conferir, já que se trata de um clássico do cinema - ainda não disponível em vídeo. O Picolino (Top Hat), musical de Mark Sandrich, com Fred Astaire e Ginger Rogers no auge da forma (1935), já saiu em vídeo, mas com péssima qualidade. Assim vale a pena vê-lo ainda hoje (20h30, Cinemateca). Amanhã, domingo e terça, outro filme histórico, ali programado: "A Noite Nupcial" (The Wedding Night), 1935, de King Vidor (1895-1982), com Anne Steen e um jovem Gary Cooper. Para quem se dispor a enfrentar o desconforto, calor e insalubridade do asfixiante ambiente, pode ser uma opção. Outros Programas - Dois ótimos filmes nacionais continuam em exibição "Fronteira das Almas", de Hermano Penna (Ritz) e "Feliz Ano Velho", de Roberto Gervitz (Guarani). Na próxima semana, chega a primeira grande estréia nacional do ano: "Jorge, Um Brasileiro", de Paulo Thiago, superprodução baseada no romance de Oswaldo França Júnior, no qual se depositam esperanças. Segunda-feira, no Palace-Itália (o filme também estará em exibição no Lido I), pré-estréia organizada por Dino Bronze. Para os fãs de terror e violência, "A Hora do Pesadelo 4", de Robert Englund, continua no Itália. No São João, uma estréia totalmente dispensável: "Dragão Ninja", produção made in Hong Kong. "Moonwalker", com Michael Jackson e "Uma Cilada para Roger Rabbit" continuam a manter bom público nos cines Astor e Cinema I. Com isto, a estréia de "Bom Dia, Vietnã", de Barry Levinson acabou atrasando. Amanhã, a meia-noite, no Astor, pré-estréia de "Cocktail", comédia com Tom Cruise - sucesso nos EUA. E no Luz, domingo, 10 horas, mais Trapalhões (que continuam também no Lido I): desta vez com Pelé, em "O Rei do Futebol". U2 - Battle and Hum (Condor, 5 sessões). Para o público roqueiro, o documentário da excursão que o grupo pop irlandês U2 realizou em 1988, documentado por Phiu Joanou. A trilha sonora saiu em novembro/88, pela WEA, quando este filme deveria ter encerrado o FestRio. Lutadores da Liberdade (Freedom Fighters). Produção da dupla Menahem Golan e Yoram Globus. Elenco inexpressivo - com exceção de Peter Fonda - numa produção idem (Palace-Itália). LEGENDA FOTO - Honesta biografia do saxofonista Charlie Parker, "Bird" é a melhor estréia da semana.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
8
24/02/1989

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