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Aramis

A semana com "Delicatessen" só tem "Um Tiro de Misericórdia" estreando

Uma semana com apenas duas estréias pode, a primeira vista, parecer catastrófica a quem busca novidades. Entretanto, considerando os interessantes filmes em exibição - e que foram vistos por poucos devido ao esvaziamento da cidade no feriadão - a tranqüilidade na dança de lançamentos é benéfica. Das duas estréias, apenas uma que realmente merece que se dedique maior espaço: "Tiro de Misericórdia" de Phil Joanou (cine Groff, 5 sessões). Em compensação, elogiadíssimo "Delicatessen", mesmo ainda com um público pequeno, foi mantido em cartaz no Lido I e é possível que a propaganda boca-a-boca, faça com que possa se repetir em Curitiba o que vem ocorrendo em todas as cidades onde esta anárquica comédia entre o comportamental e a science fiction surrealista vem conseguindo: um público ascendente. Realizado por Jean Pierre Jeunet e Marc Caro, com uma atmosfera sugerindo um day after nuclear, envolve canibalismo, suicidas, criadores de caixinhas que mugem, trogloditas underground vegetarianos - enfim uma tribo surrealista, em época e local não definido, mas num clima que faz com que o público que esteja cansado do cinema certinho, convencional e principalmente comercial - nas regras hollywoodianas - se deslumbre com uma proposta nova. A requintada direção de arte, acentuada por banhos de saturação de cores em tom sépia, dá um tratamento plástico especial ao filme, que em seu aparente non sense de clima de ficção científica, de uma futura sociedade aterradora, lembra outra jóia recente - "Brazil" de ex-Monthu Pythoy, Terry Gillan. Não se assuste, da primeira vez, não compreendê-lo inteiramente. Marc Caro, costuma repetir quando lhe pedem explicações: "Vejam o filme pelo menos 12 vezes. Sempre descobrirão novidades. UM TIRO DE MISERICÓRDIA (State of Grace) não deve ser confundido com "Tiro de Misericórdia" (Der Fangschuss, 1976) do alemão Volker Schlondorff, baseado no romance de Margareth Youcemar. Este "Um Tiro de Misericórdia" é o terceiro longa metragem de Phil Joanou, o mesmo diretor do badalado documentário sobre o grupo pop irlandês U2 e de "Desejos", o sexy-thrilling com Richard Gere e Kim Bassinger que há duas semanas atrai um bom público no Astor. Escrito por Dennis McIntyre, que faleceu logo após as filmagens, "State of Grace" é baseado em fatos e personagens reais, focalizando a amizade, família, amor e lealdade no famoso Hell's Kitchen de Nova York. Um bairro irlandês onde se formou uma máfia independente da comunidade italiana, mas com gangsters cruéis e poderosos. Partindo de elementos reais, foi construída uma história densa, que nesta produção da falida Orion Pictures reuniu um elenco da maior expressão. Começa com Sean Penn, 32 anos, que desde sua estréia em "Toque de Recolher" ("Taps", de Harold Becker) vem se firmando como bom ator. Penn pode ser apreciado duplamente como ator nesta semana: neste inédito "Um Tiro de Misericórdia" e na reprise de "Caminhos Violentos" no Guarani. Ed Harris, outro notável ator da nova geração ("o Segredo do Abismo" Gary Oldman (que estreou em "Sid & Nancy" e fez Lee Oswald em "JFK") e o ótimo John Torturro ("Faça a Coisa Certa"), também estão no elenco, que traz o veterano Bugess Meredith. A trilha sonora é de Ennio Morricone, um mestre e a direção de arte das várias vezes premiada Patrizia von Brandenstein. O diretor, Phil Joanou, tem apenas 30 anos e está fazendo uma carreira que merece ser acompanhada. ESCOLA DE KICKBOXERS (College Kickboxers), de Eric Sherman, a segunda estréia da semana (São João) é descartável totalmente. LEGENDA FOTO "Um Tiro...": bom elenco em trama sobre a máfia irlandesa, no Groff.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
21
24/04/1992

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