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Severo vai ao Litoral para filmar "Sombras"

Após mais de seis meses de preparativos (e adiamentos), Fernando Severo, 31 anos, começou a rodar no sábado o seu novo curta, "Longas Sombras no Fim da Tarde" - cujo título esteve na iminência de ser modificado para "A Espera dos Bárbaros", mas que acabou sendo mantido - fiel ao espírito do texto que o inspirou, um conto do escritor argentino Jorge Luís Borges (1899-1986). O mais premiado curta-metragista em 1988 - com "O Mundo Perdido de Kozak" acumulou mais de uma dezena de troféus (e NCz$ 1.500,00) em festivais de Gramado, Rio-Cine, Jornada da Bahia e Brasília - Severo também teve premiado o roteiro que agora começou a filmar. No concurso promovido pela Secretaria da Cultura, o seu projeto foi um dos quatro que mereceram a ajuda de NCz$ 3 mil - o que aplicado há meses já duplicou. Assim mesmo, insuficiente para uma produção profissionalmente cuidada, o que levou Severo a aceitar a proposta de um amigo de muitos anos, o próspero arquiteto Rubens Genaro - que associado ao seu colega Renato Chociaye, criou uma empresa de filmes e vídeos, que começa a aparecer agora. Assim, Severo pode trabalhar com maior tranqüilidade financeira, o que lhe possibilitou contratar um competente fotógrafo paulista, Flávio Ferreira - que anteriormente já atuou em três médias-metragens aqui rodados - "Quarup - Adeus 7 Quedas" e "DDD - Dose Diária Aceitável/O Veneno Nosso de Cada Dia" de Frederico Fullgraf e "A Classe Roceira", de Berenice Mendes. Severo explica a opção por um técnico paulista: - Infelizmente, não temos aqui nenhum profissional com experiência suficiente em 35mm - que exige muita competência para evitar desperdício de caro negativo. Rubens é paranaense de adoção e terá como assistente - que com ele muito aprenderá - Heloísa Passos. xxx Ficção sobre um exilado político, "Longas Sombras no Fim da Tarde" tem apenas um ator central - papel interpretado por José Rubens Siqueira, 45 anos, ator, ensaísta de teatro e também cineasta - autor de "Amor e Medo", longa e dezenas de curtas. Amigo de Severo há muitos anos, José Rubens - apesar de ocupadíssimo em São Paulo, aceitou passar três semanas em Curitiba, interpretando um personagem de difícil composição. Em Morretes - onde foram feitas no último fim de semana as primeiras seqüências, Antonina e Ilha do Mel, Severo está escolhendo moradores que farão diferentes papéis, "numa mostra de espontaneidade", explica. Apesar de dispor de bons recursos, Severo ainda batalha por apoio. Por exemplo, desistiu de utilizar um helicóptero para fazer uma seqüência aérea: o governo do Estado não cedeu o único helicóptero que possui e para pagar NCz$ 300,00 a hora e utilizar o aparelho particular aqui existente, não há orçamento que resista. A produção está orçada em NCz$ 15 milhões - e toda administração financeira ficou a cargo de Rubens Genaro. Para a produção executiva, Fernando trouxe a mais organizada profissional da área no Sul do Brasil, Mariangela Grando, esposa do cineasta Henrique Freitas Lima - um batalhador pelo cinema do Rio Grande do Sul. xxx Na semana passada, Severo recebeu uma ótima notícia: o 35º Festival de Cinema Documentário, em Oberhausen, República Federal da Alemanha, apresentará "O Mundo Perdido de Kozak" - selecionado pela sra. Eva Strauss, diretora da mostra e que passou 5 meses no Brasil e Argentina, escolhendo os trabalhos mais representativos. Como não ganhou a passagem para viajar à Alemanha - e também está decidido a fazer seu filmes - Severo não viajou. Mas será representado em Oberhausen pelo paranaense Marcos Joel Jorge, 25 anos, formado no curso de Comunicação da Universidade Federal do Paraná, que pela segunda vez encontra-se na Europa - e que no sábado viajou de Roma para Oberhausen, especialmente para estar presente, no encerramento do Festival e, quem sabe, receber em nome de Fernando, mais um prêmio para o filme sobre Kozak. Joel Jorge foi assistente de direção em "O Mundo Perdido de Kozak".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
26/04/1989

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