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Aramis

Shorty Rogers e o estilo West Coast

Depois de editar três extraordinários álbuns de jazz - com Sonny Rollins (o histórico "The Bridge", de 1962), Paul Desmond (1924-1977) e uma aventura mexicana jazzística de Charlie Mingus (1922-1979), a BMG/Barclay (ex-RCA), fez novo e precioso lançamento, como aqueles, com produção nacional, textos de apresentação e supervisão do curitibano Roberto Muggiati, editor da revista Manchete e um dos maiores especialistas em jazz no Brasil. Assim, a edição de "Short Stops", com Shorty Rogers with his orchestra and the giants proporciona que se tenha uma verdadeira introdução ao chamado jazz West Coast. Em sua linguagem jornalística e didática - e que tanto tem valorizado seus livros sobre música - Muggiati começa lembrando que "dos cismas que marcaram o pós-guerra (pintura concreta x abstrata, Dixieland x Bebop), nenhum foi mais estéril do que aquele que opôs o jazz West Coast ao East Coast. historicamente, o West Coast foi um estilo que surgiu no início dos anos 50, na Califórnia, mais particularmente na área de Los Angeles. O baterista Shelly Manne, um dos principais integrantes desta escola, costuma(va) ironizar ao apresentar sua banda: "No sax alto, Frank Strozier, de Menphis, Tenesse; ao piano, Russa Freeman, de Chicago, Illinois. Ao trompete, Conte Candolli, de Mishawaka, Indiana. Ao baixo, Monty Budwig, de Pender, Nebraska. Eu sou Shelly Manne, de New York City. Todos nós tocamos o West Coast Jazz". Mesmo botando abaixo as simplificações, é preciso admitir que um estilo West Coast existiu. E um dos principais responsáveis por sua criação foi Milton Michael Rajonsky, nascido em Lee, Massachusetts (em 14/04/1924) e batizado jazzisticamente como Shorty (de "shorty", baixinho) Rogers. Trompetista, arranjador, compositor, Rogers fez o seu PhD nas bandas de Woody Herman e Stan Kenton e saiu para a afirmação pessoal com as gravações de 1951 para a Capitol, conhecidos como Modern Sounds. O octeto Shorty Rogers & His Giants, incluindo trompa e tuba, se assemelham formalmente ao noneto das gravações históricas de Miles Davis para a mesma Capitol, sob o título de Birth Of The Coll. E nesta antologia que agora sai no Brasil, em forma de álbum duplo, Shorty ataca inicialmente com um noneto que só difere fisicametne do de Miles Davis por usar um sax tenor em vez de barítono. Mas o espírito é totalmente diferente, pois embora guarde a mesma complexidade orquestral, Shorty operava com estruturas mais soltas, abrindo mais espaço à improvisação e envolvendo o solista numa atmosfera mais espontânea. Muggiati, em suas esclarecedoras notas, chama a atenção para o alto nível do grupo de all stars jazzísticas presentes neste elepê, como o sax alto Art Pepper, o tenorista Jimmy Giuffre, o trombone moderno de Milt Bernhardt, o piano suingante de Hampton Hawas e a bateria polivalente de Shelly Manne. No trombone John Graas, se impondo como solista. Para os que apreciam cinema, uma atração especial: no lado A do disco, há quatro faixas históricas da trilha do filme "O Selvagem" (The Wild One, 1953, de Lazlo Benedek) que ficou como um marco do cinema dos anos 50: consagrou Marlon Brando, então com 29 anos, embora ele já houvesse aparecido em quatro outros filmes ("Espíritos Indômitos/The Men", 50; "Uma Rua Chamada Pecado/ A Streetcar Named Desired", 51; "Viva Zapata", 52 e "Julius Cezar", 53"); o lançamento de Lee Marvin (1924-1987) como um dos mais marcantes bad guys da tela e o uso do jazz como música incidental no cinema, o que seria levado às últimas conseqüências pela nouvelle vague. "O Selvagem" foi também um dos primeiros filmes a tratar de jovens rebeldes, motoqueiros, que, dois anos depois, teria um filme-base - "Rebel Without A Cause" (Juventude Transviada, 55, de Nicholas Ray), que consagrou James Dean. No encerramento, há 12 faixas do Lp "Shorty Rogers Courts The Count", um tributo sonoro e descontraído a William Baslee e sua banda lendário, com temas de Basie. Há outras do próprio Rogers, escritos a maneira de Basie. Nas 32 faixas deste álbum duplo, gravados numa das melhores fases de Shorty & amigos - de janeiro de 1953 a março de 1954 - conservam, passados 35 anos, uma impressionante força e atualidade. Com toda razão, o curitibano Roberto Muggiati escreveu: para ouvidos cansados da mesmice funk-roqueira do falso jazz que prolifera por aí, a viagem pela estética clean dos anos 50 oferecida por este álbum é uma autêntica festa.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
16
04/12/1988

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