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Aramis

Sobe ao palco uma peça de inverdades

No mínimo, uma lamentável desinformação é o que pode explicar a entrevista do ator carioca Oswaldo Loureiro, assumindo - a contragosto da classe artística paranaense - a superintendência da Fundação Teatro Guaíra ao fazer deselegantes declarações visando atingir a administração que o antecedeu. A afirmação de que eram distribuídas milhares de ingressos "para elites que poderiam pagar entrada" é contestada com números. Por decisão tomada há muito tempo pelo conselho de administração da Fundação Teatro Guaíra, contratualmente são reservadas 73 ingressos mais os quatro camarotes (cada um com capacidade para oito lugares) que sempre foram distribuídos criteriosamente - atendendo principalmente a solicitações da própria área do governo. Para um auditório de 2.200 lugares como é o Bento Munhoz da Rocha Neto, este número não chega a representar nem 5% do total de entradas vendidas - índice, inferior ao exigido por outros teatros oficiais. Somente nas produções da própria Fundação Teatro Guaíra - especialmente ballet e concertos da Sinfônica - é que eram distribuídos maior número de ingressos, visando beneficiar estudantes de primeiro e segundo grau. Seria criminoso que espetáculos financiados pelo Estado, de qualidade, fossem apresentados para platéias vazias, quando há necessidade de oferecer as novas gerações a oportunidade de conhecer arte do ballet, da música e do teatro. Esta saudável política de abrir espaços para amplas faixas de público - seja com a distribuição de ingressos ou a venda dos mesmos a preços simbólicos (como acontece nos concertos matinais, aos domingos, da Sinfônica do Paraná) sempre mereceu aplausos. Contratualmente, quando os auditórios são cedidos para espetáculos trazidos por empresários (no auditório Salvador de Ferrante, são apenas 20 ingressos que ficam com a administração do teatro) a quaota é reservada prioritariamente a própria Secretaria da Cultura e ao Palácio Iguaçu (um dos camarotes é privativo do governador, mesmo quando ele e seus familiares não o ocupam). Elegantemente, o advogado Constantino Baptista Viaro, que após quatro anos e dois meses de administração da Fundação Teatro Guaíra, deixou voluntariamente, o cargo confirmando sua inegável honradez e capacidade administrativa, preferiu ignorar as críticas feitas por seu sucessor. Embora merecendo a solidariedade da classe artística - que sempre manteve o melhor diálogo com a direção da FTG no governo Álvaro dias - e que mesmo sugestões para responder, de público, as críticas injustas que lhe foram feitas, Viaro preferiu evitar qualquer polêmica com seu sucessor (que não conhece pessoalmente), inclusive porque a transição do governo do Estado foi feita em clima de aparente tranqüilidade, com o ex-secretário René Dotti, da Cultura, tendo sido um dos homens que mais se empenhou para a vitória de roberto Requião. Como as mentirosas acusações feitas no setor cultural - tanto pela nova diretoria da Biblioteca Pública do Paraná, como agora de Oswaldo Loureiro, representam indiretamente, provocações ao próprio ex-secretário da Cultura, caberá a este - se achar conveniente - vir a público respondê-las. Acontece que como jurista reconhecido hoje em termos internacionais, requisitado para importantes funções no Exterior, René encontra-se atualmente na costa Rica e só quando de seu retorno tomará conhecimento das provocações que estão sendo feitas à sua administração. Privilegiado pela amizade pessoal do governador Roberto Requião e de seu irmão, o psiquiatra Eduardo Mello e Silva, que o indicou para o cargo, Oswaldo Loureiro terá recursos que, conforme as primeiras declarações oficiais, seriam ao redor de um milhão de dólares para seu programa cultural - o que será inédito em toda a história do Paraná e caso raro mesmo em termos de programação cultural nos Estados. Esperava-se, entretanto que, assumindo uma função para a qual foi repudiado pela classe artística, Oswaldo Loureiro procurasse representar ao menos o papel de diplomata e conciliador, buscando o diálogo, o entendimento e a simpatia com aquelas pessoas de que, afinal, depende as artes. Embora almoçando algumas vezes na cantina do Teatro e aparentemente procurando aproximar-se de alguns funcionários, o que Loureiro mostrou nos primeiros dias de sua administração está longe de lhe dar o título de administrador e diplomata.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
18/06/1991

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