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Aramis

Solistas de piano e grandes orquestras clássicas

Falecido há quatro anos, só recentemente o pianista canadense Glenn Gould (1932-1982) começou a ter sua obra editada no Brasil. Após conquistar renome internacional, Gould abandonou as apresentações em concerto no ano de 1964, dedicando seu tempo a escrever, gravar e, eventualmente, participar de programas radiofônicos. Graças à sensibilidade de Maurício Quadrio, na orientação dos suplementos clássicos da CBS, as gravações de Gould têm saído em nosso País. Ainda agora, mais três excelentes álbuns: na série Masterworks Portraits. Gould interpreta um programa de autores ingleses - William Byrd (1543-1623) e Orlando Gibbons (1583-1625) - sobre cujas peças - pavanas, galhardas, rounds - faz curiosas observações na contracapa do disco. Embora especialistas na obra de Bach, Gould deixou uma obra eclética. Outro exemplo de seu talento é o registro das quatro Baladas Opus 10 e as duas Rapsódias, Opus 79, de Johannes Brahms, incluídas em álbum na série Masterworks Digital, também da CBS. Um disco de requintado valor para os apreciadores do Brahms intimista das pequenas peças pianísticas que definem o compositor em seus momentos mais introspectivos. Tanto a Balada quanto a Rapsódia são formas livres de composição, e nelas Gould extravasa seu sentimento romântico sem estar muito preso às exigências de construção neoclássica da Sinfonia e do Concerto. É assim um Brahms mais livre, o que este recital nos oferece - mas não desatento às tradições dos mestres que o antecederam. Dentro de um suplemento classe A com concertos para piano e orquestra, a CBS edita outra preciosidade: Murray Perahia, solista e regente da Orquestra de Câmara Inglesa. Reuniu os três primeiros concertos de Mozart. São obras de muito apelo, tanto pela circunstância que nos mostra o gênio que ele foi no momento praticamente da revelação de seus dons criadores, como também porque nos dão um vislumbre do processo de nascimento do próprio concerto como forma: uma fascinante fusão do minguante período barroco com o emergente período clássico. Além desses três primitivos concertos de Mozart, este disco nos oferece também um belo concerto de autoria de Johann-Samuel Schroter, um polonês radicado na Inglaterra, contemporâneo de Mozart, o qual apreciava e muitas vezes executou esse mesmo concerto (Opus 3, nº 3 em dó maior), cuja graça e encanto chegou a exaltar em carta ao pai. Um terceiro volume com Gould ao piano. Este diferente, pois é intérprete de obras praticamente desconhecidas de dois autores conhecidíssimos. Assim, encontramos peças de Grieg e Bizet raramente presentes em concertos. De Grieg, a Sonata em mi menor, opus 7, que o próprio Glenn Gould classificava como "um exercício seguro, bem articulado de pós-graduação, no qual os ornamentos cromáticos dão vida a uma simetria ocasionalmente complacente". Quanto às composições de Bizet - o Primeiro Noturno e as Variações Cromáticas - mostram a influência de Liszt no cromatismo e de Beethoven no gosto pelas variações. ORQUESTRAS - Quatro álbuns com música sinfônica. Em primeiro lugar, a Berliner Philarmoniker, regida por Herbert von Karajan, em gravação da Deutsche Grammophon/Digital, trazendo nova interpretação do poema sinfônico de Jean Sibelius - "Finlândia", composto em 1899, o último de uma série de quadros musicais apresentados durante uma manifestação nacionalista. Complementando, o "Der Schwan von Tuonela" (O Cisne de Tuonela), a "Valsa Triste" e "Tapiola", outras peças de Sibelius. Já pela CBS Masterworks, outros álbuns sinfônicos: a Orquestra Filarmônica de New York, regida por Bruno Walter, interpretando uma obra memorável de Gustav Mahler: "A Canção da Terra" (Das Lied von der Erd), inspirado em poemas chineses em tradução de Hans Bethge. Participam da interpretação o meio-soprano Mildred Miller e o tenor Ernst Haeflinger. A obra literária de que se origina esta sinfonia é profundamente melancólica e Mahler acentua musicalmente essa melancolia, alimentada por fortes acidentes biográficos: a perda da filha mais velha, as intrigas políticas que o levaram a demitir-se da direção da Ópera de Viena e o conhecimento, por acaso, de seu grave problema cardíaco. Com George Szell e a Orquestra de Cleveland temos as 16 Danças eslavas do checo Antonin Dvorak. Estas dezesseis Danças, compostas em duas séries, surgiram no auge da floração da música romântica européia de caráter nacional. Dvorak foi para os checos o que Grieg significou para os noruegueses, Albeniz para os espanhóis e Sibelius para os finlandeses. Por último, temos Leonard Bernstein, 66 anos, que regeu a Filarmônica de Nova Iorque por 11 anos (1958-1969) e volta sempre, como convidado, a conduzir a grande orquestra. Por exemplo, em 1979, numa excursão ao Japão, ali gravou a Sinfonia nº 5 de Shostakovitch, agora editada pela CBS Masterworks. Esta Sinfonia de Dmitri Shostakovitch (1906-1975) representou um marco da mais absoluta grandeza na carreira do criador de mais de uma dezena de obras do gênero. Em linguagem orquestral absolutamente vigorosa, Shostakovitch reflete anseios, angústias e sentidas esperanças da alma humana. Foi composta em apenas três meses (abril-julho/1937), quando se adensavam sobre a Europa as sombras da II Guerra Mundial.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
2
11/05/1986

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