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Aramis

"Spartacus", quando o histórico é político

Poucas vezes na história das superproduções históricas, houve um filme com o vigor, profundidade e visão política de "Spartacus"(1961). Uma produção na qual o próprio astro Kirk Douglas - intérprete do personagem título, o escravo que liderou uma rebelião contra os exércitos de Roma, conduzindo seu povo à liberdade - associou-se a realização, e foi responsável pela direção de Stanley Kubrick, então com 33 anos e vindo de filmes reconhecidos pela crítica ("A Morte Passou por Perto", 55; "O Grande Golpe", 56; "Glória Feita de Sangue", 57), mas sem, até então, ter dirigido uma grande produção. A amizade com Kirk Douglas - que havia estrelado, quatro anos antes ao contundente "Paths of Glory" (um dos mais sérios filmes antimilitaristas já produzidos nos EUA) convenceu ao ator-produtor de que Kubrick seria o realizador certo para transpor à tela não apenas um espetáculo de aventuras, mas, sim, um filme de pensamento político. Afinal tanto o autor do romance original, Howard Fast, como o roteirista Dalton Trunbo (1905-1976), eram conhecidos por suas idéias de esquerda, vítimas, inclusive, de perseguições no período maccarthista. "Spartacus" surpreendeu: ao mesmo tempo que trazia elementos para conquistar o grande público e ganhar quatro Oscars - ator coadjuvante (Peter Ustinov), fotografia (Kussel Metty) e direção de arte/vestuário, envolvia a faixa mais politizada com a profunda discussão que o fazia em torno do líder revolucionário, as elites de nobres da Roma antiga - o poder e o fascínio de uma época. Kirk Douglas no personagem título, amparado num elenco excelente - Jean Simmons, no auge de sua beleza, como a escrava Varinia (sua mulher), Laurence Olivier como Crasso, inimigo mortal de Spartacus - mais John Gavin, Charles Laughton, Ustinov, Tony Curtis, Nina Fock, Herbert Lom, John Ireland, Charles McGraw, Woody Stroode. Um filme tão fascinante, que mesmo com sua longa-metragem (183 minutos) não cansava o público - ao contrário, estimulando-o para revisões. Agora, mesmo perdendo um pouco de sua beleza original na redução para o vídeo, seu lançamento pela CIC se constitui numa excelente oportunidade para quem ainda não as conhece assistir um dos 10 filmes mais importantes dos anos 60. E, aos mais velhos, o prazer de revê-lo, em versão original, com legendas. Vale a locação. xxx Dentro de um criterioso projeto em que alterna edições de filmes importantes como "Spartacus" ao lado de sucessos recentes, a CIC Vídeo está trazendo em seu pacote de novembro um dos grandes êxitos de bilheteria dos últimos meses: "Irmãos Gêmeos", de Ivan Reitman, diretor de "Perigosamente Juntos" e "Os Caça-Fantasmas" (o segundo da série chega no circuito em dezembro). Reunindo Arnold Schwarzenegger e Danny De Vito como irmãos gêmeos - totalmente diferentes fisicamente - o resultado foi uma comédia hilariante que, para alguns críticos, na linha de duplas humorísticas pode ser comparado a Stan Laurel e Oliver Hard (O Gordo e o Magro), Abott e Costello, Jerry Lewis e Dean Martin etc. Não chega a tanto, pois pela própria história será difícil manter uma continuidade da série - mas diverte bastante. xxx Outro lançamento de primeira categoria da CIC Vídeo é "Cliente Morto Não Paga" (Dead Men Don't Wear Paid), 1982, Carl Reiner. A originalidade está no fato de Reiner ("O Panaca", "Um Espírito Baixou em Mim") ter conseguido realizar um esplêndido trabalho de montagem, fazendo com que o detetive particular Rigby Derdon (Steve Martin), na melhor linha dos private eyes criados por autores como Raymond Chandler e Dashiel Hammett nos anos 40, contracena com nomes dos mais famosos nos chamados filmes noir que marcaram época. Assim, não apenas Humpherey Bogart - o mais conhecido dos atores da Warner daquela fase - mas cenas que trazem Alan Ladd, Burt Lancaster, Ava Gardner, Barbara Stanwyck, Gary Grant, Lana Turner, Bette Davis, Joan Crawford, Kirk Douglas e outros nomes que trazem memórias aos espectadores mais velhos, foram utilizados com perfeição dentro da história. Inventivo em sua montagem, com ótimo roteiro e tendo além de Martin, também a atriz Rachel Ward e o diretor Carl Reiner como ator - "Cliente Morto Não Paga" foi dedicado à famosa figurinista de Hollywood, Edith Head - que fez aqui seu último e excelente trabalho.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
8
02/11/1989

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