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"Spirit" empata o sonho da nova peça de Edson

Edson Bueno, 35 anos, que divide seu tempo entre o teatro e a secretaria-executiva da Fundação Sidônio Muralha, passou uma semana pendurado no telefone da direção artística da Fundação Teatro Guaíra. Ou melhor, ao lado de seu maior amigo, o fotógrafo-ator Francisco, que como fala um pouco de inglês era quem tentava estabelecer as conversações com Will Eisner, em sua mansão na Flórida, sobre uma questão que angustia os dois curitibanos: os direitos para encenar uma peça com personagens retirados de histórias-em-quadrinhos do criador de "O Espírito". Tudo começou há dois anos, quando - conforme aqui noticiamos - o arquiteto Key Imaguire, nossa maior autoridade em comics, dividiu com Eisner, um júri do salão internacional de cartoons no Canadá. Os conhecimentos de Imaguire sobre quadrinhos impressionaram a Eisner que ficou seu amigo - presenteando-o, inclusive, com obras raras. De volta a Curitiba, Edson procurou Key e convenceu-o a que ele fizesse um contato com Eisner, sobre a possibilidade de ser autorizada uma montagem teatral inspirada em duas de suas mais famosas histórias - "Contrato com Deus" (edição brasiliense, 1988, 194 páginas, Cr$ 840,00) e "O Edifício" (Abril Jovem, fevereiro 1989, esgotada), nas quais aliás, o famoso personagem The Spirit não aparece. Só que na cabeça de Edson - autor de várias montagens, com textos seus ("Um Rato em Família", que manteve em várias temporadas durante quase 4 anos) e alheios, o famoso herói noir entraria no palco. xxx De princípio, Eisner concordou em autorizar o uso de suas estórias e personagens. Edson correu ao gabinete do advogado Constantino Viaro, superintendente da Fundação Teatro Guaíra e apresentou um orçamento bastante gordo para uma superprodução. Cortado em seus exageros, a proposta acabou aprovada, mas só que nestas alturas os personagens de quadrinhos tiveram sua alta no mercado. Depois que Bob Kane viu "Batman" se tornar a maior bilheteria dos últimos anos e Chester Goud ter seu detetive "Dick Tracy" transformado no filme-marketing 1990 (lançamento mundial em duas semanas, com uma campanha promocional tão grande quanto foi a de "Batman"), naturalmente que "The Spirit" voltou a interessar os tycoons da indústria cinematográfica. Embora já tivesse merecido versões cinematográficas - como a medíocre produção "O Espírito" (The Spirit, 87, de Michael Schultz), 78 minutos, com Sam Jones, Nana Visitor e Bumper Robinson, exibida no último domingo, 9, pela televisão, há intenção de fazer uma produção sofisticada com "O Espírito", nos mesmos moldes de "Batman" e "Dick Tracy". xxx Portanto, em negociações com uma das majors da indústria cinematográfica, Will Eisner cancelou, de princípio, qualquer utilização de seus personagens em todo mundo. A esperança de Bueno, até a tarde de sexta-feira, era que como sua proposta é de adaptar duas estórias em que The Spirit pode ser excluído, haja uma autorização especial. Só que para a montagem que aconteceria em setembro, esta reviravolta já fez o balão explodir: dificilmente haverá tempo para preparar uma produção, mesmo que chegue o OK de Eisner. A Edson, portanto, restará o consolo de ler as aventuras de "O Espírito", que a partir de agora, a Abril Jovem está colocando mensalmente nas bancas. LEGENDA FOTO - Auto-quadrinho do autor: Eisner criando "The Spirit", seu personagem mais famoso - e que o curitibano Edson Bueno quer colocar no palco do Guaíra.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
17/06/1990

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