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Aramis

Teatro

Apesar de sua admiração pelo Paraná - onde sempre apresentou suas produções - o empresário e ator Sandro Polônio comentava no sábado passado, na penúltima apresentação de "Bodas de Sangue", a total impossibilidade de trazer a Curitiba este clássico de Federico Garcia Lorca (1899-1936), desde a primeira quinzena de outubro apresentado no Auditório Itália, em São Paulo. Com um elenco numeroso, cuidadosa produção, "Bodas de Sangue" encerrou no domingo passado sua carreira e possivelmente, não será levada nem a Guanabara, já que Sandro não conseguiu nenhum teatro vago em março e será difícil manter inativo um elenco cuja folha de pagamento chega quase a Cr$ 50 mil. Teatralmente o espetáculo mais perfeito da temporada paulista, "Bodas de Sangue" marca o retorno de Maria Della Costa (foto) ao palco, após uma ausência de três anos e meio, período em que ao lado de Sandro, seu marido, preferiu cuidar de seu hotel em Parati - "Coxixô" - do que se arriscar em aventuras artísticas, embora seja, sem dúvida, uma das poucas grandes atrizes do Brasil capaz de atrair um público fiel ao teatro em que estiver - independente do texto escolhido. Em 1970, montou "Tudo no Jardim", uma corajosa "tragédia americana" de Edward Albee (o autor de "Quem Tem Medo de Virgínia Woolf?"), com a qual esteve em Curitiba, numa temporada de sucesso no auditório Salvador de Ferrante. Agora, após o sucesso de "Bodas de Sangue" - onde ela interpreta uma personagem de 22 anos e, no palco, aparece lindíssima, jovem, com extraordinária garra dramática - Maria pensa na encenação de um divertido "vaudeville" de Feydeau (1862-1921), inédito no Brasil e que, com um elenco bem mais reduzido, proporcionará a oportunidade de viajar por vários Estados. Sandro Polônio produtor executivo de "Bodas de Sangue", há 25 aos no teatro, vê com pessimismo, ao menos momentaneamente, as possibilidades das grandes produções apresentadas na Guanabara ou São Paulo - como é o seu caso - poderem se deslocarem a praças menores, de bilheterias incertas. Um espetáculo como este que acabou de produzir apresenta um alto custo operacional, com um elenco numeroso e a participação de um Coro de jovens intérpretes - entre universitários e alunos de cursos de arte dramática - cuja saída na cidade-base encarece, enormemente, a produção. Lamentavelmente, o Plano de Ação Cultural do MEC não inclui em sua programação o patrocínio a excursões de espetáculos como o de Maria Della Costa - sem dúvida um momento de grande riqueza poética e dramática em nosso teatro, onde o diretor Antunes Filho, com muita sensibilidade, recriou com força, vigor e imaginação a tragédia espanhola da noiva que abandona o marido na noite de casamento para fugir com o antigo amor. A força dramática de Garcia Lorca, a poesia de seus diálogos, o calor do clima que o texto sugere, tiveram em Antunes Filho um diretor inteligente, que soube fazer destas "Bodas de Sangue" um espetáculo de grande comunicabilidade, como nos mais felizes momentos do teatro brasileiro. Como o cineasta Pater Bogdanovich ("A Última Sessão de Cinema", "Lua de Papel"), Sandro-Antunes poderiam dizer: "Faço teatro como eu gostaria de assistir".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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21/02/1974

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