Tempo de promoção para a música 87
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 16 de janeiro de 1987
O boom na indústria fonográfica em 1986, provocando uma demanda muito além da capacidade de produção das fábricas de discos não fez as gravadoras dormirem sobre os louros. Sabendo de que pelo próprio produto oferecido as variações do mercado são inesperadas, quatro multinacionais do setor começam 1987 com vigorosos planos de marketing em favor de seus contratados.
A EMI-Odeon, por exemplo, aceitou todas as exigências do múltiplo Egberto Gismonti, 40 anos, hoje o instrumentista-compositor brasileiro de maior carreira no Exterior, para que tivesse condições de percorrer as várias capitais brasileiras, catituando seu novo álbum - "Alma", mesmo junto a emissoras que pelo seu próprio tipo de programação jamais o divulgarão, como ele fez em Curitiba, na semana passada.
Hoje à noite, um grupo de executivos da CBS - Alfredo Perneto, Nélio Di Carlanthio e Roberto Augusto, da área de divulgação e marketing em companhia do divulgador local, Djalma Gomes e do representante territorial, Caetano Machado, recebem jornalistas, radialistas e gente de televisão num sofisticado coquetel no Letage. Farão a exposição dos planos para 1987, novos projetos e, naturalmente, relato dos sucessos atuais - como o disco de Roberto Carlos, que deve emplacar 3 milhões de cópias vendidas (superando Xuxa, que pela Sigla/Som Livre, já passou dos 2,5 milhões). Só no Paraná, Caetano Machado tirou pedidos da ordem de 50 mil cópias - mas até agora, pela falta de matéria-prima, só 40% das encomendas foram atendidas. A fila de espera para ouvir o novo disco do Rei é grande.
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Segunda-feira, no luxuoso Plaza São Raphael, em Porto Alegre, a diretoria da RCA, recebe jornalistas de vários Estados para o lançamento oficial de "Domingos", o novo álbum de Maria Bethânia - e o primeiro que ela faz na nova gravadora, após 19 anos de contratada da Polygram.
Bethânia não gravava há dois anos e, ao decidir deixar a multinacional holandesa teve dois convites: CBS e RCA, aceitando o da última, mais por razões sentimentais. Tomás Muñoz, o diretor da CBS que a convidou, foi transferido para os Estados Unidos. "Como eu não iria para a CBS sem o Tomás, resolvi aceitar o convite da RCA voltando à minha primeira gravadora" (foi na RCA que Bethânia recém-chegada de Salvador, em 1964, fez seus primeiro dois compactos e elepê).
Primeira cantora a vender, no Brasil, mais de um milhão de discos (com "Álibi", em 1979), Maria Bethânia naturalmente quer repetir a dose e quebrar seu próprio recorde com este Dezembros", um disco, segundo ela, feito "com menos cabeça e mais coração", produzido pelo mano Caetano Veloso, que já havia produzido dois de seus discos, "Drama" e "Pássaro Proibido".
Para ocupar o espaço que a imprensa sempre lhe ofereceu, Bethânia saiu de seu reservado mundo e está tendo uma série de encontros com jornalistas, chegando agora a vez do Sul. Explicando o título do LP, diz:
- "Além de eu sempre lançar meus discos no mês de dezembro, queria uma coisa calorosa, forte, quente, como o verão".
Mas a inspiração para o título do LP veio da expressão "insanos dezembros" que Chico Buarque incluiu na sua letra para a música de Tom Jobim "Anos dourados", tema de abertura do seriado de Gilberto Braga. Além de "Dezembros", o contrato de Bethânia com a RCA prevê a gravação de mais dois discos, com intervalo de dezoito meses entre um e outro. Assim ela terá mais de um ano para "trabalhar" este "Dezembros", tempo em que além de novo show com Fauzi Arap, Bethânia pretende aproveitar para uma longa excursão pela Europa, começando por Paris e que se estenderá a Cuba, Israel e Japão.
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Uma nova etiqueta - a 3M, surgida da união da poderosa multinacional com a RCA, também está investindo firme no marketing promocional. Há 10 dias, 1.500 outdoors estão distribuídos determinadamente em 15 capitais e 3 cidades brasileiras promovendo lançamentos para faixas diferentes: um, divulgando seus artistas mais populares, do selo Terra Nova (Leo Canhoto, Trepediant's, um grupo de pagodeiros), o selo 3M (Gilliard) e, por último, o selo Scotch, destinado a produções classe A e que começa com um oportuno álbum da Orquestra Sinfônica de Campinas, sob a regência de Benito Juarez, gravado ao vivo, entre os dias 25 e 28 de junho de 1986, com cinco peças de Antonio Carlos Gomes, a protofonia de "O Guarany", abertura de "Salvador Rosa", o intermezzo "Alvorada" de "Lo Schiavo", o prelúdio do 1º ato de "O Condor" e a abertura de "Fosca".
Graças à agilidade com que entrou no mercado, em apenas sete meses a 3M já conquistou uma fatia considerável.
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