Terra, o nosso filme que ganhou o "Kikito"
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 18 de abril de 1986
Na noite de sábado, 12, quando o cineasta Arnaldo Jabor subiu ao palco do cine Embaixador para anunciar os vencedores do 10º Festival do Filme Super 8 - promoção paralela ao 14º Festival do Cinema Brasileiro de Gramado - o primeiro Kikito foi anunciado para uma realização paranaense: "Terra", 15 minutos, mostrando a erosão e o empobrecimento do Noroeste do Estado, considerado o melhor documentário entre os 20 filmes que disputaram o festival nesta bitola. A narração inteligente, as boas imagens e a atualidade do tema abordado levaram o júri, formado por Jayme Leite de Sá (diretor da AGACINE, que agrupa os superoitistas gaúchos), crítico Hyron Goidanich (da "Zero Hora"), roteirista Rubens Francisco Luchetti, ator Colé Santana e jornalista Jorge Alberto Furtado a premiarem o filme realizado por dois jovens radicados em Curitiba, Beto Carminatti (Luís Alberto Carminatti Gonçalves), 25 anos, catarinense de Caçador, e Mauro Andrade, 27 anos, engenheiro agrônomo. Só na terça-feira, 14, souberam da premiação e neste final de semana devem receber o Kikito e o cheque da premiação.
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Cinemaníaco entusiasta, Beto Carminatti idealizou "Terra" há 4 anos passados. De um encontro com seu amigo Mauro Andrade, então estudante de agronomia da Universidade Federal, nasceu o roteiro de um filme que mostrasse o empobrecimento da região Noroeste, devido à devastação de florestas, a falta de planejamento agrícola, a erosão e, em conseqüência, o êxodo rural. "Enfim, uma visão objetiva de um problema nosso, real, mas pouco denunciado" explica Beto.
Para conseguir recursos que possibilitassem adquirir os rolos de filme super 8, alugar o equipamento e custear as viagens à região Noroeste, Beto e Mauro bateram em inúmeras portas oficiais. "Foi o Dr. Razera, da Secretaria de Agricultura, o primeiro que acreditou em nosso projeto", recorda Carminatti, que - a exemplo de tantos outros jovens cineastas, comeu o pão que o diabo amassou para poder concluir seu filme - cujas filmagens aconteceram em 1982. O Setor de Ciências Agrárias da UFP e o Bamerindus, deram alguma ajuda para a finalização deste filme, visto até agora apenas em reuniões de técnicos em problemas agrícolas, ilustrando conferências sobre erosão, mas sem qualquer lançamento oficial.
Por sugestão do cineasta Fernando Severo, outro superoitista que tenta há 5 anos chegar a um longa-metragem em 35mm, Beto inscreveu ("sem muitas esperanças"), o filme à mostra de Gramado, que desde 1976, reúne realizações em super 8 - bitola que teve, particularmente no Rio Grande do Sul, um grande boom nos anos 70, inclusive formando cineastas e artistas que hoje já estão profissionalizando-se, com obras em 35mm.
Mesmo com o relativo desaquecimento do Super 8, substituído pelo vídeo (Carminatti, aliás, vem operando em vídeo, com trabalhos junto ao Tape Clube do Paraná e produções independentes, como o sentimental documentário que realizou sobre a citarista curitibana Inge Bruns), ainda há uma razoável produção em Super 8, que anualmente compete no Festival realizado no Hotel Serrano, em Gramado. Ali, este ano, foram apresentados 20 filmes - desde uma cansativa e pretensiosa superprodução de 90 minutos ("1930 - Entre o Amor e a Morte") até curtas inventivos e baseados em textos de autores famosos, como "Lar Desfeito" (de uma crônica de Luís Fernando Verissimo) e "O Homem Nu", que Flávia Seligman e Jacqueline Nunes, estudantes de cinema em São Paulo, realizaram com base na crônica de Fernando Sabino.
Responsável pelo roteiro, câmera e montagem de "Terra", Beto Carminatti dividiu a direção com Mauro Andrade, responsável pela parte técnica do roteiro, já que como estudante de agronomia na época de sua realização, tinha os conhecimentos para fazer do mesmo um documentário correto em termos de informação e cujos méritos tiveram, agora, seu reconhecimento nacional, na premiação com o Kikito no Festival de Gramado.
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