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Aramis

Testemunha da história, o exemplo de jornalista

A Universidade Federal do Paraná tem uma dívida com o jornalista Samuel Guimarães da Costa: o título de "Doutor Honoris Causa". Afinal, ninguém mais do que este parnanguara de 71 anos - completados em 12 de dezembro do ano passado - merece esta distinção da também septuagenária instituição. Poucos - muito poucos - paranaenses tem se dedicado tanto ao estudo das coisas paranaenses como Samuel Guimarães da Costa, que sem ter feito curso superior é, entretanto, um professor eclético e, sobretudo, didaticamente atingindo amplos auditórios, via quase meio século de imprensa - que dignifica e honra em sua presença ainda constante, embora hoje merecendo uma justa aposentadoria. Entretanto, mesmo duplamente aposentado - pelo Estado e como jornalista - Samuel não pára de produzir. Em sua acolhedora biblioteca, repleta de livros e informações basicamente sobre o Paraná - (mas sem dispensar, jamais, a boa literatura mundial), Samuca - como seus amigos o chamam - não pára de produzir: nos próximos dias sairá um novo livro, sobre a erva-mate - assunto do qual é um dos maiores conhecedores do Paraná, em edição da Secretaria do Planejamento. Recentemente publicou "O Último Capitão Mor", biografia de Manoel Antônio Pereira (1782-1857), seu tetravô. Entre os originais que se transformarão em livros ainda este ano, "A Terra Paranaense na Geografia da Conquista", enquanto pela Editora Scientia et Labor, sairá um outro livro - este com muitas ilustrações - intitulado "Assim é o Paraná". Jornalista atuante desde os tempos de estudante do Instituto Paranaense, Samuel começou como revisor na "Gazeta do Povo", ao lado de Wilson Martins, seu amigo fraternal desde a adolescência - e que com o inesquecível Percival Charquetti (1914-1987) formava uma trindade intelectual nos anos 30. "Foi a época em que lemos praticamente todos os livros que existiam na biblioteca do antigo Instituto Paranaense - e base daquela que seria a Biblioteca Pública do Paraná", recordou Samuel na gravação de seu emocionante depoimento para o projeto Memória Histórica do Paraná na semana passada. Um depoimento que pode se alongar por várias etapas, tal a grandeza de conhecimentos que Samuel tem do Paraná, ao lado de sua cultura geral - vindo de uma época em que os jovens se faziam intelectuais realmente lendo os grandes autores - sem a diluição audiovisual que existe em nossos dias. De família humilde - ficou órfão, com seus 4 irmãos, aos 5 anos - quando a peste bubônica matou seus pais, em Paranaguá - Samuel foi criado por um avô-madrinha e, enfrentou, desde cedo, sérias dificuldades financeiras - "que me fizeram aprender a ver o mundo com realismo". Ainda nos tempos de ginasiano começou a escrever e participar de revistas, "de vida efêmera mas com intenso entusiasmo" - como "A Idéia", "A Ilustração" e "Moços" - esta juntando jovens que se identificavam desde as idéias diretas (como Manoel de Oliveira Franco Sobrinho) a marxistas ferozes como Moacir Arcoverde e Herculano Torres Cruz. Mais tarde, junto com um de seus maiores amigos e companheiros, José Curi - sempre um editor, Samuel participou de experiências mais profissionais, a partir de "O Livro" e da revista "Guaíra" - chegando depois a "Panorama", de quem foi o grande esteio para sua ampliação, de modesta publicação nascida em Londrina, fundada em 1953 pelo professor Adolfo Soethe, para uma revista mensal, oposicionista ao governo Moyses Lupion e que, no final dos anos 50 - correspondia no Paraná ao que representavam a "Revista do Globo" no Rio Grande do Sul e "Alterosa" em Minas Gerais - as duas já desaparecidas, enquanto a "Panorama" - da qual se afastou há alguns anos - ainda circula. Fazedor de revistas, sempre com idéias amplas e espírito democrático, Samuel foi um professor de várias gerações de jornalistas - que com eles conviveram em diferentes redações. Recorda: - "Houve uma época em que todas as publicações buscavam a minha participação. Surgia uma nova revista e eu era intimado a integrá-la. Muitas não passavam do segundo ou terceiro número..." Aos 17 anos, Samuel faz aquilo que muitos jovens evitam: fez questão de entrar no Exército. Foi servir no 15º BC, no qual teve a felicidade de ter como superior um oficial altamente intelectualizado, o capitão Aníbal Santos, que lhe deu uma bela missão: bibliotecário de caserna. - "Foi o capitão Aníbal quem me recomendou a leitura de "Casa Grande e Senzala", quando saiu a primeira edição. E disse: preste atenção nesta obra de Gilberto Freyre que ela tem idéias muito importantes! Ele tinha razão".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
07/05/1989

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