O grande premiado no Salão Curitiba Arte V, fotógrafo Osval Dias de Siqueira Filho (Tiomkin), 35 anos, é o mais novo videomaker da cidade. Com uma sensibilidade visual adquirida em mais de 25 anos de freqüência aos bons filmes (é um dos mais bem organizados e informados cinéfilos e pesquisadores do Paraná) desenvolveu uma visão poética do mundo, resultando o original trabalho que lhe valeu o primeiro prêmio do mundo no Salão promovido por Alcy Ramalho Filho. Pela primeira vez um salão da dimensão do Curitiba Arte V - com mais de 500 participantes, a maioria de artes plásticas - premiou um trabalho fotográfico. Ricardo Cravo Alvim, ex-diretor do MIS-Rio de Janeiro e Instituto Nacional do Cinema, marchand e crítico de artes plásticas, membro do júri, foi um dos que defendeu a premiação do trabalho de Tiomkin, "pela sua originalidade, graças a competência". Naturalmente muitos artistas plásticos torceram o nariz - pois a fotografia ainda sofre preconceitos. O prêmio maior - uma passagem a Paris, será usado por Tiomkin no último trimestre, quando realizará o seu grande sonho: conhecer os museus franceses "e especialmente a vida cinematográfica a partir da cinemateca francesa", diz o artista. Utilizando uma filmadora Panasonic, Tiomkin já fez algumas bem sucedidas experiências em vídeo, como um (ainda não editado) chamado "Viriante", focalizando um jovem e talentoso artista plástico, Edilson Viriato, paranaense do Paraíso do Norte, 22 anos, há pouco radicado em Curitiba, mas que apesar de sua pouca idade já participou de mais de 40 eventos culturais. O projeto maior de Osval - associado a alguns amigos - é um documentário sobre os músicos paranaenses, a partir do depoimento de seu pai, o pistonista, arranjador e maestro Osval, 65 anos, líder da orquestra que há mais tempo atua no Paraná. O trabalho premiado de Osval Dias Siqueira Filho foi um conjunto de três fotografias ao qual deu o título de "As Horas Nuas" - nome claramente inspirado no primeiro longa-metragem do cineasta italiano Marco Vicário ("Le Ore Nude", 1964), estrelado pela bela Rossana Podestá (na época sua esposa). Tiomkin fotografou os modelos Patrícia Filizola e Luís Augusto Loureiro, com toques de sensualidade e melancolia ("São corpos em contato com cenários despojados, rudes, vazios", explica), obtendo belíssimo resultado. Desenhista e programador visual, Tiomkin criou cartazes para a peça teatral "Solidão, Amiga dos Fantoches de 3960", de César Almeida (1983), do II Festival de Teatro Amador de Curitiba (Teatro de Bolso, 1984), participou dos III, IV e V Salão de Artes Plásticas do Círculo Militar, do XIII Salão de Artes Plásticas de Jacarezinho, da IX Mostra de Artes da Casa do Estudante Universitário e, em 1985, no Bar Ocidente, fez sua primeira individual de desenhos. Em 1986, participou de uma mostra interestadual de artistas paranaenses na Galeria Portinari. E expôs suas fotos na Galeria da Caixa Econômica Federal do Paraná. Há dois anos foi um dos artistas selecionados para a I Mostra de Arte Brasil-Holanda, com dois trabalhos levados a World Trade Galery, em Amsterdã. Fotógrafo e teletipista da assessoria de imprensa da Secretaria do Trabalho e Ação Social, humilde e modesto (como são os verdadeiros talentos), Tiomkin (o pseudônimo artístico também é uma referência cinematográfica, em homenagem ao grande compositor Dmitri Tiomkin) tem garra e sensibilidade para realizar grandes vôos pelos caminhos do vídeo, "o irmão mais moço e flexível da fotografia", diz, com entusiasmo, mostrando seus primeiros trabalhos nas imagens movimentadas. LEGENDA FOTO 1 - O trabalho que valeu a Tiomkin o grande prêmio do Salão Curitiba Arte V. LEGENDA FOTO 2 - Tiomkin, vencedor do V Salão de Arte Curitiba: após as fotos, primeiras experiências em vídeo.

Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:

Veiculo: Estado do Paraná

Caderno ou Suplemento: Almanaque

Coluna ou Seção: Tablóide

Página: 3

Data: 14/05/1989