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Aramis

Todos fricoteiam com o baiano Luiz Caldas

Pois é! Esta baianada não toma jeito. E graças a isto está sempre em evidência. No ano passado, surgiu um novo vigor em Salvador: Luiz Caldas. Se o gaúcho Renatinho Borghetti, com sua gaita-de-ponto vendeu mais de 100 mil cópias sem sair do seu Rio Grande do Sul, o garotão Luiz Caldas não precisou deixar a Bahia para emplacar mais de 150 mil cópias de seu primeiro lp "Magia", que o sempre astuto Roberto Sant'Anna produziu através da etiqueta Nova República. Experiente olho clínico, responsável pelo lançamento de artistas que vão desde o Quinteto Violado a Alcione, sem esquecer o grande Elomar Figueira, Sant'Anna sentiu as possibilidades de Caldas, de sua ginga, seu reggae jamaicano-nagô e com "Fricote", Caldas foi o grande acontecimento do Carnaval no ano passado. Sentindo suas possibilidades, a Polygram contratou Caldas diretamente e armou um super-esquema para lançamento de seu segundo lp "Flor Cigana", novembro/86: levou mais de 50 convidados a Salvador, fez uma grande festa e agora o disco está funcionando. Se no Sul ainda não estourou, no Nordeste já deu o retorno. Realmente, Luiz Caldas é um sopro de juventude na música popular, pois se de um lado busca o clima afro-caribenho em muitas faixas, mostra, sensibilidade de compositor em canções mais suaves como "É Tão Bom", numa interpretação dividida com Caetano Veloso - num estilo suave, romântico - quase bossanovista, no que Caetano, quando apaixonado, é muito bom. Outro momento de especial suavidade é a regravação de "Canção de Amor" (Chocolate/Elano de Paula), prefixo da Divina Eliseth Cardoso. Ouvindo-a desde a infância, cantada por sua mãe, Luiz decidiu regravá-la e trouxe sua mãe, dona Zuleika, para o estúdio e a gravou com um arranjo novo. Outra participação especial é a de Moraes Moreira em "Yalorixá". Mas "Flor Cigana" tem mais: um hino de amor ao Rio ("Beverly Hills"): Vendo centauros montados/Em simples cavalos Vi que eu estava tão doido/A ponto de delirar Mastroiani, Delon, Jack Lemmon, estripador Romeu, Notre Dame, corcunda, estrelato pavor Se o estrelato maior/É Beverly Hills Ainda prefiro o Rio Não foi sem razão que a Polygram fez uma festa para 150 mil pessoas na praça Castro Alves, em Salvador, na qual esteve presente até Aart Dalhuisen, vice-presidente da Polygram - que veio de Nova Iorque para ver o show (afinal, "Flor Cigana" saiu com 250 mil cópias vendidas). O disco é alegre - incluindo uma canção infantil, "Lobo Bobo", com coro de onze crianças e um reggae de encerramento, "Reggae do Camaleão". Luiz Caldas, baiano de Vitória da Conquista, vinte e poucos anos, teve uma formação bossanovista e admiração explícita por Orlando Silva. Isto explica, inclusive a suavidade de "É Tão Bom". Em termos de consumo, para estourar neste carnaval, a faixa mais forte é "Ajayô", parceria com Jorge Dragão. Mas de qualquer forma, todo o disco é agradável, de alto astral, mostrando que esta produção de Antonio Foguete foi feliz. Um disco comercial, feito para o sucesso, e um compositor-intérprete capaz de produzir coisas ainda melhores. Torcemos para tanto! xxx É claro que ninguém vende mais de 200 mil cópias impunemente. E no filão do "Fricote" de Luiz Caldas já surgem outros artistas. No singular ou plural, a Continental, por exemplo, lançou há poucas semanas a banda Chiclete com Banana, com um repertório na linha de músicas afro-caribenhas. O grupo é formado por Bell (baixo, vocal solo), Rey (bateria), João (guitarra, vocal), Deny (percussão), Rubinho (ritmos, vocal), Walter (percussão) e Wadinho (teclados). Não há maiores detalhes biográficos mas o repertório - quase todas as músicas são de Bell - é incrementado. Há fusão de instrumentos como o acordeon e a parafernália eletrônica, mas o básico é o ritmo, com algumas letras agradáveis - outras apenas oportunistas "Gritos de Guerra", "I Love You Chiclete", enquanto que em outros instantes há mais inspiração, como em "Aririô" ("Choro, mas deixo um sorriso no ar/Nada pode me assustar/Donos do mundo querem sangrar a beleza de amar"). Enfim, os baianos, mais uma vez, estão na praça. Como sempre, aliás! LEGENDA FOTO - Caldas & Caetano: juntos em "É Tão Bom", a melhor faixa do lp "Flor Cigana".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
7
18/01/1987

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