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Aramis

"Tommy", o Ben-Hur da fonografia (o lp que custou 400 mil dólares).

A ópera-pop "Tommy", composta pelo grupo The Who em 1968, quatro anos depois do conjunto ter sido formado (em 1967, faria seu primeiro álbum importante, "Sell Out", inédito no Brasil), só apareceu completa, no Brasil, no ano passado,. A Phonogram, que em 1969 havia feito uma edição mutilada desta obra classificada como um "marco histórico" dentro do universo pop (reduzindo as músicas a um lp e excluindo o libreto do espetáculo), em abril-71, relançou a ópera-pop criado por Peter Townshend (líder, compositor, guitarrista e o mais velho do quarteto: 26 anos), num álbum de dois lps (Phonogram 1184.216/7), mas, infelizmente, ainda incompleto: não trazia as ilustrações e o livreto da edição original. Passados seis anos de estréia de "Tommy" nos EUA, ela permanece inédita no Brasil: talvez temendo uma ação mais drástica da Censura, talvez julgando não haver condições da encenação de um espetáculo de vanguarda pop como este em nosso País, nenhum empresário-diretor pensou ainda em montá-la. E se tão cedo (ou nunca) veremos "Tommy" e as duas edições feitas pela phonogram não chegaram a traduzir todo o clima fantástico-musical do espetáculo de Townshend, temos agora uma compensação: a Odeon está importando 10 mil cópias de uma nova montagem desta ópera-rock, produzida pela Ode Records, em Londres, classificada de o "Bem Hur" da música pop. No elenco, foram reunidas estrelas do 'rock" britânico, retratadas por alguns dos mais importantes desenhistas da Inglaterra para o livreto de vinte e seis páginas que integra o álbum; como figurantes, os músicos da London Symphony Orchestra e do Chambre Choir. Enfim um álbum tão caro (a produção ficou em 400 mil dólares), que a Odeon, representante no Brasil da Ode Records, preferiu importar 10 mil cópias a produzir o álbum duplo aqui. "Tommy" em sua edição original, foi importada por algumas lojas da Guanabara e São Paulo, mas agora, com a decisão da Odeon, ela será colocada, a um preço mais acessível, junto a revendedores de todo o País. A partir de 1970, o universo do rock se transformou em uma réplica exata da grande fase de Hollywood. As grandes companhias cinematográficas das décadas de 40 e 50 servem de modelo para as atuais gravadoras. Os diretores famosos cedem lugar aos produtores de discos, enquanto astros e estrelas do passado influenciam a conduta de cantores e conjuntos. Os Rolling Stones possuem uma mansão do Século XVII na Riviera Francesa Bob Dylan imita Greta Garbo distribuindo pistas falsas e escondendo-se da imprensa. Rod Stewart e Keith Moon colecionam carros de corrida feitos sob encomenda em fábricas italianas. Alice Cooper e sua jibóia de estimação são recebidos no Aeroporto de Heathorow (Londres) com honras só comparadas a recepção de um ministro de Estado. E Aretha Franklin exige cinco milhões de dólares para assinar contrato com sua gravadora. Os planos para a edição de um disco obedecem rigorosamente ao mesmo sistema de promoção das superproduções. A partir do momento que um cantor entra em um estúdio de gravação, encontra centenas de repórteres ávidos por novidades que não existem. Os jornais e revistas dedicadas ao rock parecem ser editados pelas equipes que criaram "Photoplay", "Screen Gems" e "Movie Stars". E, finalmente, o lançamento de um LP é precedido da mesma agitação mundana das grandes noites de estréia no Chinese Theatre. Todo esse consumido esquema comercial, responsável direto pelo descrédito atual do rock foi posto a serviço da produção de um álbum-duplo lançado recentemente pelos EUA e Inglaterra, pela ODE Records. E a regravação, feita em Londres, da ópera rock de Peter Townshend. "Tommy", cujo surpreendente resultado final pode, e deve ser considerado como o Ben-Hur do Universe Pop. O álbum ficou em 400 mil dólares para a Ode Records. Aqui, o diretor William Willer foi substituído pelo produtor Lou Reizner, que também foi muito feliz na escolha do "elenco milionário", composto, em sua maioria por "astros e estrelas de primeira grandeza" do rock britânico. "Pela primeira vez juntos" encontramos "por ordem de entrada em cena", Peter Towshend, Sandy Denny, Grahan Bell, Steve Winwood, Maggie Bell, Richie Havens, Merry Clayton, Roger Daltrey, John Entwistle, Ringo Starr, Rod Stewart e Richard Harris. Os "milhares de figurantes" são os integrantes da London Symphony Orchestra e do Chambre Choir. A produção gráfica do álbum, idealizada pela firma Wilkes e Braun Inc., (a mesma que fez a capa para "School's Out") atinge requintes raramente igualados nos últimos lançamentos internacionais. Sendo o jogo de Flipper (Divisões Eletrônicas) elementos importantes no desenrolar da história, ele serve de tema para fotos e desenhos que ilustram em abundância o álbum. Os dois discos vem protegidos por um estojo de papelão que, por sua vez serve de envelope protetor para uma desdobrável mesa de Flipper (em alto relevo), de cores pasteis - como as usadas no estilo, (Afinal a ópera se passa em 1921). Um libretto de 28 páginas contém a história e as letras das canções, acompanhadas ainda de fotos coloridas, de insólidas paisagens. Nada menos que 12 dos mais categorizados desenhistas ingleses (Richard Amsel, Jim Manos, Alex Gnidziejko Roberto Heidel, David Byrd, Robert Gronsman, Charles White III etc) foram convocados para retratar os cantores vestidos com as roupas de seus personagens. Em um certo sentido é bons testemunhas que a música composta por Peter Townshend resiste até mesmo aos mais ribombantes e acadêmicos ataques sinfônicos e energia da gravação original, se ela perdeu a primitiva ganhou em grandiosidade e clareza. A ópera-rock deixou de existir cedendo lugar a um simpático "musical-éptico" bem no estilo da década de 50. Em parte isso se deve ao fato de arranjador Wil Malose ter imprimido a partitura um "som sinfônico" muito próximo ao do produtor Phil Spector. (Que por coincidência teve como mestre Dimitry Tiom Kine etc) Se ele errou em algumas partes (a Overture e a Underture, por exemplo, são pomposas e arrastadas), acertou bastante em outras. O instrumental "Sparks", que precede a entrada do cantor Richie Havens, é criativa e emocionante. As intervenções do Chambre Chair em "Christmas" são também equilibrados, fazendo uso perfeito do canto e contracanto. O fato dos papéis serem defendidos por diferentes cantores fez também com que a odisséia de Tommy (garoto cego, surdo e mudo por culpa da opressão dos pais), chegue até vocês mais mastigada. Os intérpretes é que decepcionam um pouco. Perderam a espontaneidade adquirida em vários anos de rock'n roll, trocando-a por uma falha e solene empostação "erudita". Maggie Bell (mãe de Tommy), Merry Clayton (a Rainha Lisérgica), Richard Harris (doutor) e Rod Stewart (Feiticeiro do Flipper), atacam suas partes como se estivessem cantando uma ópera de Wagner. As surpresas são oferecidas por Ringo Star (Tio Ernnie), extrovertido e divertido; Roger Daltrey (Tomy), ágil e vibrante; Peter Townshenr (narrador) Steve Winwood ( Capitão Walker) e Sandy Denny. A julgar pelos últimos resultados de vendagem publicados na revista "Cash Box" Tommy, na versão épico hollywoodiana da Ode Records, será um dos maiores êxitos de bilheteria da temporada fonográfica 72/3. Resta saber quantos Oscars irá conquistar na entrega anual de prêmios oferecidos pela Academia de Musica Popular Internacional a RIAA. LEGENDA FOTO 1- Richard Harris, ator de alguns dos melhores filmes dos últimos anos ("O Dilema de uma Vida", "Um Homem Chamado Cavalo") também presente no elenco de "Tommy". LEGENDA FOTO 2 - Ringo Starr, ex-baterista dos Beatles, está nesta nova versão de "Tommy".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música Pop
19
18/02/1973

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