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Aramis

A trágica "love story" de Anayriz em segunda edição

A estréia nacional de "Parahyba, Mulher Macho", a polêmica fita de Tizuca Yamasaki sobre o romance de Anayde Beiriz e João Dantas há mais de rneio século - e cujo trágico final com a desculpa para a explosão da revolução de 1930, que conduziu Getúlio Vargas ao Catete - motivou a Record a reeditar o livro "Anayde – Paixão e Morte na Revolução de 30" (144 páginas, Cr$ 1.490,00). A reedição acontece quando á mesma editora está lançando "Morte na Ulen Company- 50 anos depois" - do mesmo autor, José Jofily. Paraibano radicado em Londrina há 13 anos - onde implementou a Herbitec - Jofily é um incansável pesquisador da história brasileira, ex-secretário de Agricultura, Viação e Obras Públicas da Paraíba (1942-1945), deputado federal por quatro legislaturas, um dos primeiros cassados em 1964, Jofily tem se preocupado em resgatar aspectos da memória brasileira. Assim é que como acompanhou, ainda estudante, os acontecimentos que provocaram a morte de João Pessoa (24-1-1878/26-7-1930), então governador da Paraíba, decidiu, há alguns anos, procurar dar novas interpretações para aquele agitado período. Suas aprofundadas pesquisas resultaram inicialmente em "Revolta e Revolução - Cinquenta Anos Depois" (Paz e Terra, 1979) e depois em "Anayde - Paixão e Morte na Revolução de 30", cuja reedição aparece agora. O primogénito de Jofily, o "Zezinho", jovem cineasta com algumas experiências bem sucedidas (curtas -metragens, assistência de direção de "O Sonho Não Acabou" e, agora, em "Parahyba, Mulher Macho"), foi co-roteirista de Tizuka (a premiada diretora de "Gaijim") neste filme que traz o dramático romance de Anayde e João Dantas, vividos por Tânia Alves (atriz e cantora, com seu segundo Ip sendo lançado pela Polygram) e Claudio Marzo. Walmor Chagas interpreta João Pessoa e no elenco estão também José Dumont, Oswaldo Loureiro e Grande Otelo. xxx Em "Morte na Ulen Company - 50 anos Depois", José Joffily faz o primeiro ensaio sobre a participação política de uma empresa americana no Maranhão dos anos 20/30 - e o assassinato de um executivo da empresa, o norte-americano John Harold Kennedy pelo maranhense José de Ribamar Moreira (1908-1952). Com precisão de detalhes, como aqui registramos há alguns dias. Joffily, um pesquisador incansável e detalhista, resgata os personagens que participaram dos acontecimentos, mostrando os aspectos econômico-sociais-políticos da época. Igualmente em "Anayde", Joffily faz justiça à personalidade independente da professora pela qual se apaixonou João Dantas (18-5 -1888/610-1930), advogado, e opositor político de João Pessoa - que assassinaria no Recife, a 26 de julho de 1930. Embora o episódio tenha sido um fato de certa forma isolado (o que levou o advogado a tal atitude foi a invasão de seu apartamento e a publicação em "A União" de documentos e cartas pessoais) o assassinato de João Pessoa (candidato a vice-presidente da República na chapa de Getúlio Vargas) foi o estopim da revolução de 1930 -com Vargas, saindo do Rio Grande do Sul, em direção ao Palácio do Catete. Xxx O livro de Joffily é rico em detalhes, destacando a personalidade de Anayde Beiriz (18-2-1905/22-l0-1930), urna mulher intelectual de temperamento romântico, jovial, cintilante e ousada. Abertas as inovações, impulsionada pelo amor, escritora talentosa, sofre influências do grupo modernista de São Paulo e passa a ser considerada urna agressora da moral e costumes da sociedade repressiva da época; devido nos seus textos de linguagem audaciosa e livre, assim como o seu próprio comportamento. Perseguida, vítima de sua própria sexualidade, Anayde vive sob um clima de extrema preconceituosidade dentro da sociedade limitada e medieval da Paraíba dos anos 30. Assim como em seus outros livros, Joffily só reconstitui os fatos do aspecto histórico, como oferece um completo levantamento iconográfico, com dezenas de fotos, reproduções de páginas de jornais, documentos etc. da época. Sem dúvida, a Record teve visão de marketing ao relançar "Anayde" simultaneamente a estréia do filme de Tizuca - destinado a ser o assunto de destaque neste início de mês, em termos cinematográficos. xxx Há 3 anos, quando do cinquentenárío da revolução de 1930, houve muitas publicações, conferências e cursos a respeito daquele importante fato histórico - documentado, aliás, em filme pelo pioneiro João Baptista Groff, no filme "Pátria Redimida". Em Porto Alegre, de 3 a 10 de outubro de 1980, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul promoveu um simpósio com a participação de vários conferencistas e expositores, em debates que buscaram analisar os vários aspectos do episódio histórico. A íntegra das conferências e sessões de depoimentos orais, ocorridos naquela semana, foi transcrita em textos que há poucos meses saíram num robusto volume de 720 páginas, editado pela UFRGS em colaboração com a Companhia Unido de Seguros Gerais. Esta empresa criou há alguns anos a Estante Rio-grandense União de Seguros-EURS, que vem dando urna grande contribuição à bibliografia daquele Estado. Tanto é que já publicou 12 volumes, com obras abordando aspectos da história, economia, política do Rio Grande do Sol, de autores como Antonio José Gonçalves Chaves, Hemetério José Velloso da Silveira, Severino de Sá Unto, Jodo Cezimbras Jacques, general Borges Fortes, Achyiles Porto Alegre, Moyses Velinho, Asais Brasil e Antonio Álvares Pereira Coruja. xxx Já que falamos em livros ligados a revolução de 30 é interessante registrar que Pedro Calmon, 81 anos, professor, historiador, ex-reitor da Universidade do Brasil - familiarmente ligado ao Paraná, em "Miguel Calmon, Uma Grande Vida" (Editora Civilização Brasileira, coleção Documentos Brasileiros) trará uma biografia deste engenheiro e político. Formado pela antiga Escola Politécnica do Rio de Janeiro, destacou-se como engenheiro, dirigindo as obras de ampliação do abastecimento de água de Salvador e a reconstrução do elevador Lacerda. Foi secretário da Agricultura e Viação da Bahia e no governo Afonso Pena ocupou o cargo de ministro da Viação e Obras Públicas. Permaneceu a frente do ministério durante três anos, iniciou um programa de saneamento no País,. projetou a iniciou a construção de grande número de linhas ferroviárias. Instalou mais de 3.000 km de linhas telegráficas, introduziu o tráfego mútuo entre as ferrovias e o Telégrafo Nacional, na direção Oeste da Bahia até o Amazonas, empreitada dirigida pelo então coronel Cândido Rondon. Contratou e instalou as primeiras linhas submarinas para as comunicações internacionais. Em 1910 elegeu-se deputado federal pela Bahia. No governo Arthur Bernardes, de 1922/26, ocupou o Ministério da Agricultura. Em 1927 foi eleito senador pela Bahia, perdendo o mandato com a revolução de 1930, que dissolveu o Congresso. Faleceu em 24 de fevereiro de 1935, aos 56 anos de idade.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
12
07/09/1983

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