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Aramis

A transcrição que Leminski fez de Lennon

Paulo Leminski, 40 anos sempre foi um grande fã dos Beatles. Há mais de 20 anos. Quando ainda era um nome desconhecido nos meios literários mas já tinha propostas revolucionárias e idéias avançadas, defendida a música de Lennon e McCartney com tanta paixão quando os poetas da geração Noigrandis ou filmes de Golard, que assistia, embevecido, ao lado de seu discipulo Lelio Sottomaior, nas sessões que o Zé Augusto Iwersen promovia no Cine de Arte Riviera, onde tanta gente boa teve sua iniciação cultural. Hoje elevado a categoria de golden boy de nossas letras, com uma intensa atuação intelectual - faz inúmeras traduções, resenha livros, assina colunnas, no "Correio de Noticias" e na " Folha de S. Paulo", publica contos na "Playboy". Leminski fez um trabalho encomendado por Caio Graco, da Brasiliense, que lhe trouxe muita satisfação: a tradução dos dois livros de John Lennon - "John Lennon in his own Write" e "A Spainard in the Works", Um deles, lembro-me bem, trouxe de uma primeira visita o Lonodres e mostrei na época a Leminski, um dos poucos que já conseguia entender o texto inventivo ( e dificilimo ) de Lennon. Na verdade, Leminski não apenas traduziu Lennon. Com toda razão criou o termo " Transcriação " para justificar o verdadeiro trabalho de recriação dos textos inventivos de Lennon. Mas para um intelectual que sempre adorou as palavras, poliglota e precursor no montagen de textos difcílimos - como no até hoje ainda não suficiente absorvido " Catatau ", Leminski fez, por certo, um trabalho Fascinante - merecendo a cobertura que vem merecendo desde que esta obra, volume 28 da coleção "Circo de Letras", foi para as bancas. No Longo ( e educativo ) pósfacio, ocupando 22 páginas no final, Leminski oferece várias informações e faz apropriados comentários. Começa, por exemplo, lembrando que este livro são dois " Lennon On His Own Write", de 1964. E " A Spaniard In The Works", publicado em 1965, estranhas miscelâneas de textos de natureza vária. Flash contos, esboços de peças, poemas nonsense, acompanhados de desenhos, todos marcados por extrema criatividade de linguagem, conduzida ao absurdo por um humor sarcástico e cínico". Leminski diz, linhas adiantes, que "os dois livros do betle ocupam lugar especial no quadro da criação textual da segunda metade do século XX. Pela linguagem, seus textos remetem a James Joyce, o mais radical dos prosadores do século, o Joyce das inovações de "Ulysses" e das montagens de palavras de "Finnegans Wake", Assim que seriam, os livros de Lennon foram traduzidos para várias linguas. E consta até que, na finlândia, traduziu-os o próprio tradutor finlandês de "Ulisses". Os 20 anos que levaram para chegar ao Brasil, em português - não envelheceram, em absoluto, a estes textos provocantes e dificeis. E que, se constituem em quase um desafio para quem espera apenas uma leitura poética, como nas letras imortais que Lennon deixou para o todo o sempre. Sem dúvida. Leminski fez um trabalho apaixonante. Tão pessoal e criativo que justifica seu neologismo : " Transcrição ".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Leitura
28/04/1985

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