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Aramis

Trapalhadas na fusão das escolas de arte

A questão da fusão das escolas de música e a criação de uma nova unidade de ensino superior ainda vai dar motivos para muita polêmica. Pelo menos é o que se desprende da disposição de luta dos professores e alunos da Escola de Música e Belas Artes do Paraná, que não abrem mão de suas colocações - feitas já a secretária Gilda Poli, da Educação e, na última terça-feira, 13, discutidas com o deputado Tadeu França, presidente da Comissão de Educação da Assembléia Legislativa. Há muitos dados ainda a serem levantados nesta questão. Inclusive do interesse de 60 professores que, numa fusão das escolas serão dispensados. A Escola de Música e Belas Artes, fundada há 36 anos, tem mais de 100 mestres - enquanto a Faculdade de Educação Musical abriga 58 professores. Como existirão apenas 109 vagas no quadro proposto para a futura unidade, muitos vão ter que procurar outras unidade. Curiosamente, há uma previsão também de 109 cargos para funcionários burocráticos - ou seja o mesmo número do corpo docente. xxx De princípio, a comunidade da Embap - professores, alunos e funcionários - revoltou-se porque somente tomou conhecimento em 24 de outubro último, da proposta que nove meses antes, em 2 de janeiro, a sua direção havia encaminhado ao Conselho Estadual de Educação. Ou seja: a congregação da Escola não foi ouvida, contrariando o artigo 42, letra h, de seu regimento interno. Em ofício encaminhado a secretária Gilda Poli, os professores se posicionaram contra a fusão das escolas. Embora seja irracional o Estado manter onerosas estruturas para duas escolas isoladas de ensino superior na mesma cidade, com idênticos objetivos, alguns pontos devem ser esclarecidos. De princípio, a única semelhança existente no tocante aos cursos oferecidos pela Escola de Música e Belas Artes e Faculdade de Educação Musical é com relação ao curso de Educação Artística da FEMP e os de Licenciatura em Música e Desenho da Embap, cuja finalidade é formar professores para o primeiro e segundo graus. Mas o Curso de Educação Artística da Faculdade de Educação Musical dá apenas uma informação, enquanto os de Bacharelado em Música e em Artes Plásticas pela Embap propiciam uma formação integral e de arte. A Escola de Música e Belas Artes tem como finalidade e formação de pintores, desenhistas, músicos-instrumentistas, cantores, regentes, compositores, escultores e gravadores - preparando, ao mesmo tempo, professores de Arte a nível superior. Sendo o currículo artístico cultural da Escola tão abrangente, o curso de Educação Artística que agora se propõe será um simples apêndice da atividade didática já existente há 36 anos e com grande número e profissionais atuantes na área e no mercado de trabalho. Importante ver também o produto resultante destas instituições: entre os artistas plásticos e músicos que se destacaram no Estado e a nível nacional, muitos tiveram sua formação no velho casarão da Rua Emiliano Perneta, 179, onde a Escola funciona desde 1948. Quanto a Faculdade de Educação Musical do Paraná, fundada há pouco mais de 20 anos, nunca formou artistas. No máximo professores de nível médio. xxx Claro que a Escola de Música e Belas Artes do Paraná tem seus pontos frágeis. O velho casarão que a abriga desde que foi fundada, hoje está em zona central e poluída sonoramente. Precisaria uma grande reforma para atender as finalidades didáticas. Pelo menos três cursos foram desativados por falta de alunos e professores: escultura, gravura, composição/regência. Aliás, conta-se que nos 36 anos da Embap, o único a receber o diploma de bacharel em Escultura foi Armando Maranhão, hoje aos 57 anos, que veio de São Luiz nos anos 40, aqui fundou o Teatro do Estudante do Paraná e apesar de ser diplomado, nunca fez uma escultura. xxx A idéia de criar uma nova escola e a extinção tanto da Embap e Femp revolta professores e alunos. Assim como a proposta de que a mesma venha a se localizar no bairro do Boqueirão, ao lado do Centro de Treinamento do Magistério. Organizados e decididos, os professores e alunos vão brigar bonito para que seus pontos-de-vista sejam respeitados. E a "tia" Gilda terá que ser muito habilidosa para não se desgastar ainda mais nesta delicada questão. xxx Em tudo isto, uma fato muito curioso: a professora Cloris Matilde Rohrig que, como presidenta da Associação dos Docentes da Escola de Música e Belas Artes do Paraná, está comandando - ao menos em termos oficiais - a luta contra a fusão, foi, por quase duas décadas, diretora da Faculdade de Educação Musical do Paraná. Substituída naquela unidade pela jovem professora Icléa Rodrigues Passos de Paula, Clotilde - que é também professora há quase 30 anos da Embap - foi escolhida para presidir a entidade que os docentes fundaram há 3 meses.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
17/11/1984

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