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Aramis

Trilhas Sonoras

Até há pouco tempo, quando se falava em trilhas sonoras, o sujeito era olhado com restrições, como se estivesse se referindo a algo absurdo, sem qualquer interesse. Hoje, a chamadas sound track já constituem um gênero fonográfico tão importante quanto qualquer outro e mesmo os record-men brasileiros, que torciam o nariz para a chamada "música de cinema" entendem que existe um público seguro, capaz de garantir no mínimo o retorno (com lucros) do investimento que se faça na produção de uma sound track com o mínimo gabarito. Mas até agora, todas as edições vinham sendo feitas sem maior critério, sem qualquer planejamento entre a fábrica de discos e a distribuidora do filme, ocorrendo assim que uma trilha só aparecia nas lojas, meses depois do filme ter estreado - perdendo assim a motivação maior de vendas. Maurício Quadrio, gerente de projetos especiais da Phonogram, há quatro anos já tinha em sua notável coleção, uma série de álbuns duplos, editados pela MGM Records, nos Estados Unidos, que constituíam uma espécie de manjar dos deuses para todos que se deliciam com a música de cinema: as bandas sonoras das grandes produções da MGM, realizadas entre 1929 (ano do advento do som no cinema) até a década de 60. Lançadas originalmente nos EUA e depois, na Inglaterra, estes álbuns pareciam condenados a só chegarem ao Brasil em caras edições importadas, se não fosse o entusiasmo e a fé de Quadrio no bom gosto e na elevação cultural do consumidor de discos no Brasil. Tanto é que, em março último, antes de seguir para a Alemanha, deixou pronta uma nova produção que agora, em princípios de outubro, finalmente foi colocada nas lojas: "Hollywood History". Uma série de 10 álbuns duplos, 20 elepes, com mais de 25 musicais da MGM, que aparecem com todo o cuidado, acompanhados cada um de notas explicativas do filme e da época em que surgiu. Em edição limitada, a aceitação desta coleção fará com que em breve - a exemplo do que ocorreu com a "Jazz History", outra façanha de Quadrio - saiam mais dez volumes, com as bandas de outros filmes que ficaram faltando nesta primeira fornada. Não há absolutamente uma única pessoa que tenha se emocionado com uma época gostosa (e dourada) dos musicais, que não se entusiasme perante esta coleção - vendia avulsamente, mas cuja reunião completa constitui um panorama, se não completo, ao menos muito bem colocado, de grandes momentos do cinema. Para os curitibanos que viram os filmusicais da Emegeme lançados no Ópera, nas décadas de 40 a 60, "Hollywood History" é uma espécie de máquina do tempo, que faz mergulhar num passado não tão distante assim - mas hoje já saudade e nostalgia. Assim, apenas rapidamente, como registro, vamos falar, desta coleção fantástica - para nós, em termos de reedição internacional, o mais importante evento deste ano. VOLUME I - CANTANDO NA CHUVA / DESFILE DE PÁSCOA - "Singin'In The Rain", que Gene Kelly e Stanley Donen realizaram em 1951/52 (a estréia foi em março de 52, no Rádio City Music Hall, de Nova Iorque), é considerado o melhor musical na história do cinema. O retorno deste momento iluminado do musical, com Gene Kelly, Donald O'Connor, Debbie Reinolds e Cyd Charisse, há menos de 2 anos, veio dar oportunidade do público com menos de 30 anos conhecer esta obra tão citada em livros, críticas e ensaios sobre o cinema musical dos anos 50. Agora, a oportunidade de ter as canções originais - "Singin'In The Rains", "Fit As Fiddle", "All I Do Iis Dream Of You", "Good Morning", "Moses" e a clássica "You Are My Lucky Star", de Nacio Herb Brown e Arthur Freed, também produtor do elepe, neste disco de excelente qualidade técnica. Menos famoso do que "Cantando na Chuva", "Desfile de Páscoa" (Easter Parade, 1948), de Charles Walters, não mereceu siquer ter algumas de suas [seqüências] incluídas na antologia "Era Uma Vez em Hollywood" (That's Entertainment, EUA, 74, de Arthur Halley Junior), cujo sucesso deve ter contado muito para o lançamento agora da série "Hollywood History". Mas "Easter Parade" foi um filme marcante no final dos anos 40, com canções belíssimas de Irving Berlin, como "Steppin'Out Wiht My Baby", "A Fella With Na Unbrella", "Beter Luck Nex Time" e "It Only Happens When I Dance With You", interpretadas por Judy Garland (1922-1969), Fred Astaire, Peter Lawford e An Miller. VOLUME 2 - O BARCO DAS ILUSÕES /BONITA E VALENTE - O romance "Show Boat", que Edna Ferber (1887-1968) escreveu em 1926, já no ano seguinte transformava-se num dos musicais de maior sucesso da história da Broadway, onde estreou a 27 de Dezembro de 1927. Com "Show Boat", o lendário Florenz Ziegfeld (1869-1932) inaugurou o famoso "Ziegfeld Theatre", onde a peça completou, ali, nada menos de 572 apresentações. Verdadeiro marco na história musical americano, "Show Boat" teve sua popularidade confirmada nas mais diversas versões teatrais e em três adaptações cinematográficas. Em 1929, com Laura La Plante no papel de Magnólia, Joseph Schidkraut como Gaylord e a dramática cantora Helen Morgan (1900-1941) como Julie. Como já se entrava na era do cinema falado, o prólogo musical teve algumas partituras refeitas da versão teatral, com exceção apenas de "Ol'Man River", que conservou sua estrutura original. Em 1936, um filme já totalmente sonorizado, Irene Dunne, Alan Jones, e outra vez Helen Morgan (cuja vida foi contada em "Com Lágrimas na Voz", 1956, com Ann Blyth) seriam os protagonistas. Em 1951, a MGM comprou um elenco de astros: Kathryn Grayson, Howard Keel, Ava Gardner, Joe E. Brown, Agnes Moorehead, Marge e Gower Champion e Willian Warfield. O resultado foi extraordinário - tanto é que por várias vezes o filme foi reprisado, e não será surpresa se, animada com a onda da nostalgia, a própria MGM relançar este filme dirigido por George Sidney. Das músicas que Jerome Kern (1885-1945) e Oscar Hamerstein, II (1895-1960) criaram para este clássico, estão "Ol'Man River", "Make Believe", "I Might Fall Back Of You", "You Are Love" e "Life Upon The Wicked Stage". Uma curiosidade é ouvir Ava Gardner cantando ("Bill", faixa 2, lado B, disco 1) Se muitos se lembram de "Show Boat", já "Bonita e Valente" (Annie Get Your Gun, 1950, do mesmo George Sidney) não é tão popular. Mas foi na trilha sonora deste musical de Irving Berlin, inspirado na vida da incrível Annie Oakley, figura histórica do oeste americano, que apareceu uma canção que se tornará uma espécie de hino da vida artística: "There's no Business Like Show Business", "Annie Get Your Gun" estreou na Broadway em maio de 1946, registrando 1.147 apresentações e consagrando a atriz-cantora Ethel Merman. Quando foi levada ao cinema, pensou-se em Judy Garland para fazer "Annie", mas problemas de saúde obrigaram a substituição por Betty Hutton, ao lado de Howard Keel, Louis Calhern, J. Carrol Naish e Keenan Wynn. VOLUME 3 - ROMANCE CARIOCA / NÚPCIAS REAIS / JOVEM, RICA E BONITA - Aparentemente são três filmes menos importantes entre tantos musicais da MGM. Mas cada um tem seu significado. "Romance Carioca" (Nancy Goes To Rio, 1950, de Rober Z. Leonard), teve sua ação ambientada (em estúdios) no Rio de Janeiro, marcando a presença de Carmen Miranda em seu segundo filme para a MGM e interpretando duas canções: "Yipsee-I-O", de Ray Gilbert e "Ca-Room! Papa!, que outra não é senão o "Baião" de Luiz Gonzaga, Jane Powell, canta pelo menos uma música (Grever / Pasquale) que merece ser guardada: "Magic Is The Moonlight". Mas o melhor da trilha sonora deste "Nancy Goes To Rio" é a versão que Ray Gilbert fez de "Carinhoso", do santo Pixinguinha (Alfredo da Rocha Viana Filho) que era cantado no filme por Jane Powell. Só esta faixa já justifica aos fãs do grande "Pixinga" a compra do álbum: "Love is Like This". Em 1950, aproveitando a publicidade em torno do casamento da Princesa Elizabeth, da Inglaterra, o produtor Arthur Freed encomendou ao compositor e roteirista Alan Jay Lerner uma história contendo esse enredo. O resultado foi o musical "Núpcias Reais" (Royal Wedding, 1951, de Stanley Donen), que reuniu Fred Astaire, Jane Powell, Peter Lawford e Keenan Wynn, marcando a estréia no cinema americano de Sarah Churchill, filha de Sir Winston Churchill, então Primeiro Ministro da Inglaterra. Em termos musicais, entre outras curiosidades, "Núpcias Reais" trouxe a música com o título mais comprido da história: "How coul You Believe Me When I said I Loved You When You Know Ive Been A Liar All My Life", como todas as outras da trilha , de autoria de Lerner e Burton Lane. Ainda no volume 3 desta coleção temos a trilha sonora de "Jovem, Rica e Bonita" (Rich, Young And Pretty, 1951, de Norman Taurog), cinematograficamente talvez o menos importante dos musicais incluídos nesta coleção. Com Jane Powell, a francesa Danielle Darrieux, Wendell Corey e Fernando Lamas, esta trilha vale principalmente pela gravação de L'Amour Toujours", com Danielle Darrieux, então uma atriz francesa de grande sucesso e tendo o seu lançamento no cinema americano. Originalmente, essa película se chamava "Welcome To Paris" e em sua trilha sonora então, entre outras músicas, "There's Danger In Your Eyes", Cherie" e "My Little Nest of Heavenly Blue".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
25
16/11/1975

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