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Aramis

Um belo álbum para os 80 anos de Alcyr

Radialista e pesquisador musical, filho de um dos grandes compositores brasileiros, pioneiro do jingle no Brasil - Silvan Castello Neto (Ulisses Lelot Filho, 1904-1984), Berto Filho reverenciou a memória de seu pai com a edição (patrocinada pela Petrobrás) de um magnífico álbum duplo e de um livro (financiado pela Brahma, para quem Silvan criou inúmeros jingles) sobre a vida desse importante compositor e pioneiro da publicidade musical em nosso país. A repercussão que as produções de Berto obtiveram o estimularam a realizar no ano passado outra importante edição: dois lps (infelizmente numa capa simples) para marcar os 50 anos de música de Alcyr Pires Vermelho (Murlaté, MG, 8/1/1906), pianista e compositor da maior importância e que tem assim, em vida, uma justa homenagem pelos seus 80 anos. Ainda em plena forma, elegantíssimo, Alcyr Pires Vermelho continua trabalhando como pianista e em novembro último, por ocasião do lançamento desse álbum em homenagem à sua obra (também financiado pela Petrobrás), se apresentou na sala Sidney Miller, na Funarte, com um belíssimo espetáculo - no qual participaram bons instrumentistas, incluindo Ugo Marotta, diretor musical e co-produtor dos dois discos. A exemplo do álbum em homenagem a Silvan Castello Neto, também esse documento a Alcyr Pires Vermelho trouxe inúmeros depoimentos de amigos jornalistas, radialistas, pesquisadores, e parceiros, mostrando a importância de Alcyr dentro da MPB. 14 das mais conhecidas de suas composições (de uma produção imensa, com parcerias notáveis) estão no disco, em interpretações de Tito Madi ("Dorme, Sonharei Contigo"), "Onde o Céu Azul é Mais Azul" (Anna Mazzotti), "Barqueiro do São Francisco" (Hodys e Luiz Eça), "Se Alguém Telefonar" (Regininha) etc. A obra de Alcyr Pires Vermelho é imensa, passando por vários estilos e parcerias e é lamentável que um álbum-documento como esse "Canta Brasil" não tenha uma edição comercial, somente com uma tiragem limitada patrocinada pela Petrobrás. xxx Após dois anos de maré baixa, parece que o alagoano Djavan está voltando em evidência. Uma bem sucedida temporada no Japão, muito otimismo em relação ao seu próximo lp e o lançamento agora de um lp no qual a italiana Loredana Berté interpreta exclusivamente suas composições ("Carioca", CBS, janeiro/86). Romana por adoção, 16 anos de carreira, um belo visual, Loredana se integra na linha mais roqueira da música italiana e com o álbum "Streaking" chegou às paradas de sucesso. Posteriormente gravou "Treslocando" e "Jazz" (quando gravou "Sina" e "Pétala", de Djavan) acrescenta agora este "Carioca", totalmente formado por canções de Djavan, compositor com quem Loredana se identificou profundamente. "Sina" - com o nome de "Jazz" - fez sucesso na Itália, dando condições a que pudesse desenvolver um projeto exclusivamente voltado a Djavan, gravado entre fevereiro a abril de 85, em estúdios de Milão e na Som Livre, no Rio. O tecladista Lincoln Olivetti participa. Djavan fez vocalise nas faixas e a Banda Berté, formada por Loredana associada a Guido Guglielmentti e Elio Ravagli cuidou dos arranjos. O repertório foi escolhido por Loredana e inclui, naturalmente, os maiores sucessos de Djavan (traduzidos por Enrico Ruggeri), como "Seduzir", "Íris", "Água", "Esquinas", "Samurai", "Infinito", "Transe", "Topázio" - além de uma parceria com Bruno Lauzi - "La Tigre e Il Cantautore". xxx Modesta produção independente, sem maiores referências, chega-nos às mãos o compacto de Cafuringa (João Batista Vitor), soldado da Política Militar do Estado do Paraná e que gravou no Audisom um compacto simples. Intitulando-se "A Estrela Negra do Sul", Cafuringa mostra origens gaúchas nas duas composições - bastante simpátcas: "Campeão de Rodeio" e "Gaúcho de Vacaria". Pena que este disco - como os de tantos outros artistas regionais - passe despercebido, sem qualquer divulgação especial. Inclusive por culpa do próprio artista, que nem sequer procurou os veículos de divulgação para promover o seu trabalho. xxx Mostrando suas habilidades de bom instrumentista em faixas como "Rock in Rio", "Rocha Miranda", "Baby Blues", tendo participações especiais de Tim Maia ("Deixa Rolar"), Evandro Mesquita (locução em "Em Hong Kong ou no Xingu") e Moraes Moreira ("Salve São Paulo"), Pepeu Gomes (Pedro Aníbal de Oliveira, Salvador, 1952), ex-Novos Baianos, faz um novo lp ("Energia Positiva/Ra", CBS, janeiro/86) dentro do marketing que adotou: um tipo andrógino mas de identificações com o público infanto-juvenil e agora até fazendo merchandising (na foto de capa) do boneco com sua imagem. A exemplo da esposa, Baby Consuelo (Dinorá de Carvalho Cidade, Niterói, RJ, 1952), Pepeu é um bom músico, compositor eclético, que, entretanto, vem há tempos fazendo uma produção extremamente comercial destinada a um público jovem. Para isto, ele e Baby adotam todos os macetes e truques de consumo, perdendo-se assim (ao menos temporariamente) artistas que poderiam dar uma contribuição mais séria à MPB. Mas afinal o aspecto comercial é que conta e enquanto a fórmula funcionar, eles estarão nesta. As composições são basicamente de Pepeu e Baby ("Mil e Uma Noites de Amor", "Loucos", "Deixa Rolar", "Ela é Demais"), mas assumindo também outros parceiros - como Evandro, do Blitz, em "Em Hong Kong ou no Xingu", Moraes Moreira e Biu Machado, em "Salve São Paulo". As três melhores faixas são as instrumentais, duas só de Pepeu e uma terceira ("Rock in Rio") com a participação na criação também do pianista Paulo Casarin.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
27
23/02/1986

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