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Aramis

Um diplomata em diálogo com a classe artística

Entre os dias 5 de julho e 10 de agosto, o embaixador Sérgio Paulo Rouanet, 57 anos, que no dia 1º de março de 1991 substituiu a Ipojuca Pontes na Secretaria da Presidência da República, manteve um diálogo mais franco e aberto com a classe cinematográfica do que seus antecessores em muitos anos. Iniciando por sua diplomática participação no painel "O Cinema e o Estado" no seminário "Cinema Brasileiro Urgente" no Kubitschek Plaza, no XXIV Festival de Brasília do cinema Brasileiro e comparecendo ao final do 19º Festival de Gramado do Cinema Brasileiro, nos dias 9 e 10 de agosto, o ensaísta e diplomata Rouanet mostrou que em sua preocupação de fazer a reabertura com a intelectualidade brasileira - agredida e afastada no primeiro dia do governo Collor - é um programa prioritário. Dentro de uma linha soft, procurando o diálogo e o entendimento "de todas as maneiras, de todas as formas", o ex-embaixador do Brasil na Dinamarca - cargo que deixou para aceitar o convite feito pelo presidente Collor - vem conquistando a simpatia, admiração e respeito mesmo dos mais xiitas opositores do governo. Em comparação a estupidez e grosseria do período Ipojuca - e que eclodiu em quase desforços físicos, quando o então liquidante da Embrafilme, o cineasta Adnor Pitanga, compareceu ao Festival de Gramado no ano passado e tentou justificar a extinção da Embrafilme e da Fundação do Cinema Brasileiro (sendo quase linchado pelos seus colegas), Rouanet, com seus cabelos brancos, elegante, voz tranqüila, uma cultura sólida - que o faz um pensador dos mais respeitados, com uma obra das mais marcantes - representou tanto em Brasília como agora em Gramado uma grande esperança de que o pior já passou e, tal como no título do filme de Cacá Diegues, dias melhores virão. Sem trocadilho, mas para um filósofo da corrente iluminista - e que num de seus mais conhecidos livros ("As Razões do Iluminismo", Companhia das Letras, 1987), dedica ensaios em que faz citações de "Casablanca" de Michael Curtiz e "A Rosa Púrpura do Cairo" de Woody Allen, - a luminosidade não poderia ser maior. Nas suas participações em sessões abertas a todos os interessados ou em reuniões específicas com grupos de diretores, produtores, exibidores, etc., tanto em Brasília, durante o Festival, como nos dois dias em que passou em Gramado - (chegou na sexta-feira, 9 e retornou ao Rio de Janeiro, no domingo pela manhã) - Rouanet, ao lado de sua simpática e comunicativa chefe-de-gabinete, Tania Marotta e, do presidente do Instituto Brasileiro de Ação Cultural, Mário Drockmann muito ouviu, falou o suficiente para não estimular falsas esperanças mas transmitiu confiabilidade e respeito naquilo que disse. No avião da Varig, na manhã de domingo, quando nele embarcamos, a feliz coincidência de nossa poltrona ser a vizinha do embaixador Rouanet possibilitou que, num bate papo informal e descontraído, em que pudemos melhor conhecer o secretário da Cultura - trocando idéias sobre vários setores artísticos que, profissionalmente temos acompanhado nos últimos 30 anos, resultasse uma entrevista que mesmo sem anotações ou gravações, poderia ser desdobrada em várias páginas, pelo fato de que uma autoridade como o ministro Rouanet faz de cada frase fluir da forma sincera e importante.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
18/08/1991

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