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Aramis

Um filme de imagens

GODFREY REGGIO nasceu em NEW ORLEANS. Pertenceu, durante 14 anos, à Ordem de Ensino da Irmandade Cristã, onde começou como professor primário e longo passou a trabalhar com grupos de rua, em SANTA FÉ, NOVO MÉXICO. Sempre se interessou pelo impacto da "mídia" para implantar idéias e, em 1974, REGGIO concebeu KOYAANISQATSI, uma idéia sobre um filme não verbal, que integra imagens, música e idéias. Com o apoio da IRE, INSTITUTE FOR REGIONAL EDUCATION, uma instituição sem fins lucrativos sediada em SANTA FÉ, começou a produzir a obra. Sete anos mais tarde, REGGIO assistiu à "premiére" de seu filme KOYAANISQATSI, no "Radio City Music Hall", no Festival de Cinema de Nova Iorque. Desde então, o filme tem sido um ponto alto nos festivais mundiais de cinema e tem passado com êxito em todo o mundo. Nesta entrevista, REGGIO fala sobre as idéias que geraram KOYAANISQATSI e o processo de realizar o filme. - Quando você começou a produção de KOYAANISQATSI, em 1975, já tinha um tipo de mapa conceitual com o qual trabalhar ? "Sim. Eu queria mostrar a vida do dia-a-dia sob um outro ponto-de-vista. As imagens no filme são imagens que as pessoas que vivem num ambiente urbano, contaminado pelo progresso, vêem todos os dias mas que não questionam mais, porque já fazem parte do cenário. É como o velho ditado, "não se pode ver a floresta por causa das árvores". Eu queria mostrar o dia-a-dia sob o ponto-de-vista de um estranho olhando a vida neste lugar que chamamos de lar". - Você inicialmente tencionava fazer um filme totalmente não verbal ? "Sim, mas nunca pensamos em fazer um filme mudo. Sabíamos que sem diálogo, deveria haver alguma coisa para unir as imagens. E o som nunca foi imaginado como pano de fundo. Queríamos que o som tivesse o mesmo peso que a imagem". - O que levou à música de PHLIP GLASS ? "Já que o filme fala sobre a vida sem equilíbrio, eu queria uma trilha sonora que falasse sobre a natureza do equilíbrio, do ritmo, da harmonia. Encontrei todas essas qualidades na música de PHILIP: ela permite às pessoas se deixarem levar e abrirem suas mentes conscientes a outras possibilidades".. - Os créditos de KOYAANISQATSI mostram que há um bom número de gente talentosa envolvida no filme. Como você coordenou o processo criativo deste filme ? "O processo de trabalho foi uma troca entre os artistas e o pessoal da criação. Nossa disposição foi a de explorar, através da experimentação, uma estrutura dramática diferente da convencional. Assim chegamos a um casamento entre imagem e som, que é diametralmente oposto ao usado normalmente no filme comercial". - Vejo uma contradição óbvia no fato de você ter usado a melhor tecnologia do Séc. XX para comunicar seus pontos-de-vistas contra a tecnologia ? Você pode explicar ? "Eu sabia de antemão que se filmássemos em 35 mm com câmera Mitchell, obteríamos uma imagem espetacular. Eu queria usar esta beleza magnética para alcançar o maior número de audiência possível. Com o devido respeito às pessoas que acreditam que nossa salvação está na tecnologia - eu não concordo com tal ponto-de-vista. Não acredito que a tecnologia seja neutra e que nossos problemas estejam no uso ou abuso da tecnologia. Se nossas cidades são poluídas, a solução não é colocar uma redoma de vidro sobre elas para eliminar a poluição. A resposta seria examinar nossa necessidade de produzir a poluição". - Como o público tem reagido a KOYAANISQATSI ? "Estou gratificado com o sucesso comercial do filme até agora, e também pelo fato que as pessoas se tocam ao vê-lo. O filme foi projetado [para] ser uma experiência, não apenas um exercício conceitual. A mente é um produto da programação, mas as entranhas estão em contato direto com o que nos relaciona à terra. Eu queria que o filme atingisse os instintos, em vez da mente, para que a audiência pudesse vivenciar - através da mágica do filme - o que é viver num megamonstro altamente centralizado e industrializado, que se acelerou além do que podíamos imaginar". Sua idéia original de KOYAANISQATSI mudou durante a produção ? "O interessante é que a idéia original não mudou nem uma vírgula. A idéia foi a dinâmica que permitiu o andamento do projeto. Foi clara para mim no início, e é clara ainda hoje".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Claudio
Up-to-date
7
24/11/1985

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