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Aramis

Um historiador na busca da verdade

- "Joffily, entre tantas qualidades, tem a de encontrar personagens fabulosos, verdadeiros esquecidos na história brasileira." O comentário do jornalista Moacir Werneck de Castro, 59 anos, um dos mais respeitados articulistas brasileiros, que passou pelas redações dos maiores jornais do Brasil, define bem a personalidade de JoséJoffily como historiador: tocar sempre em assuntos que não foram levantados antes - ou, no máximo, interpretados superficialmente e com falhas. A partir dos títulos de suas primeiras obras - "Fatos e Versões" (1976) e "Distorções e Revisões" (1977), já sente-se a sua incansável vontade de rever a história oficial e, mesmo sem pretender destruir mitos ou lendas, restabelecer a verdade dos fatos. - "Nunca fui preguiçoso. Gosto de trabalhar!" Em sua sinceridade de rijo nordestino, que aos 16 anos já empunhava armas na Revolução de 1930 e, aos 21 anos, era baleado por fascistas no Rio de Janeiro, quando estudava Direito (episódios que relata em seu novo livro), José Joffily vem construindo uma obra marcante. Com toda razão, Moacir Werneck de Castro lembrou que "Harry Berger" tem elementos ideais para ser um transposto ao cinema - com tanta energia como os personagens de "Olga", de Fernando de Moraes (que após 3 anos de espera para ser filmado por Silvio Tendler, será realizado simultaneamente, em produções internacionais nos Estados Unidos e na URSS). Não foi sem razão que bastou à cineasta Tizuki Yamazaki ter lido "Anayde - Paixão e Morte na Revolução de 30", para decidir-se pela personagem como tema de seu segundo longa-metragem, um dos maiores sucessos do cinema brasileiro nos anos 80 ("Parahyba Mulher Macho"). O filho de Joffily, Zezinho, 39 anos, um dos melhores roteiristas do cinema brasileiro (acaba de estrear no Rio o seu primeiro filme como diretor, "Urubus e Papagaios"), tem pronto o roteiro de "Morte na Ulen Company - 50 anos depois" (Editora Record, 1983), como Anayde Beiriz, onde partindo de uma tragédia de amor faz o levantamento político de toda uma época, denunciando a interferência do governo americano na Justiça brasileira. Agora, ao se debruçar sobre a controvertida e esquecida personalidade de Harry Berger (Arthur Ernest Ewert, Prússia - 1890 - Berlim, RDF - 1959), o agente do Komintern, que, ao lado de Luis Carlos Prestes, foi um dos mentores da fracassada Intentona Comunista, Joffily mostra, como sempre com a mais completa documentação, todo o quadro político, buscando fatos sobre um personagem que apesar de toda sua participação em acontecimentos que repercutem até hoje ( haja visto as comemorações anuais promovidas pelas Forças Armadas), tem sido esquecido. Justamente, por denunciar o esquecimento de Harry Berger pelos próprios comunistas, em depoimentos, livros, artigos e ensaios, Joffily buscou, de todas as formas levantar dados sobre este militante alemão que enlouqueceu devido às torturas sofridas nos 9 anos que passou preso, após a Intentona. Foi um trabalho exaustivo, no qual Joffily, como sempre com seus próprios recursos (até hoje nunca teve qualquer ajuda oficial ou privada em suas pesquisas) esmiuçou tudo que foi possível a respeito dos fatos ligados a Berger e sua participação na política comunista no Brasil. Por três vezes entrevistou Luis Carlos Prestes, remexeu todos os arquivos, bibliotecas e fontes possíveis, buscou depoimentos de contemporâneos dos fatos ocorridos há meio século e o resultado é um livro marcante, polêmico - que ele deseja que seja discutido e provoque, como suas obras anteriores, polêmicas. Por isso mesmo, amanhã, dia 1º, após a sessão de autógrafos no hall do auditório da Reitoria, Joffily estará participando de um debate sobre os fatos que levantou. Professores, estudantes, interessados em história do Brasil - e, especialmente, os militantes tanto do Partido Comunista Brasileiro como do Partido Comunista do Brasil, foram convidados para este encontro. Lembrando sua formação democrática, de diálogo, Joffily diz: - "Eu adoro o debate, o calor das idéias, a discussão dos fatos." LEGENDA FOTO - O livro de José Joffily será lançado em Curitiba, amanhã, a partir das 18 horas, no hall do auditório da reitoria da Universidade Federal do Paraná.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
2
31/05/1987

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