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Aramis

Um homem, Uma mulher

GEBRAN, OS TECLADOS - Se conseguisse dedicar-se apenas a sua oficina eletrônica ele seria um homem quase rico. Ao menos, dono de uma empresa que poderia concorrer até na fabricação de aparelhos de som. Afinal, poucos conhecem tão bem os segredos da eletrônica. Se tivesse dedicado-se apenas ao teclado, poderia estar no mesmo nível de tecladistas como Cesar Camargo Mariano ou Luisinho Eça. Afinal, seus dedos nas brancas teclas produzem sons que vem do coração. Entretanto, Gebran Sabbag preferiu ficar em Curitiba, dividindo-se entre o trabalho na Secretaria da Comunicação Social da Prefeitura, demorados serviços de reparos de aparelhos na pequena oficina dos fundos de sua casa na rua Gregório de Mattos e, de quando em quando, deliciando os ouvidos com sua arte no piano. Como vem fazendo agora, num restaurante do Batel, infelizmente com o piano mal posicionado, ao lado da entrada dos banheiros - sem que se possa ter uma visão melhor do pianista. Ele mesmo, brincando, diz: - "É duro ser pianista num piano-banheiro!" Mas compensa ouvir Gebran. Com uma memória privilegiadíssima, capaz de lembrar os mais distantes temas, seu estilo tem a suavidade de um Michel Legrand e a criatividade de um Luisinho Eça - este, aliás, seu amigo e admirador. Aos 57 anos, 30 de vida musical - mas com longos intervalos - o piano de Gebran já marcou época na cidade. Nos bons tempos em que Chico Messina tinha o Zum-Zum, ali dividia o jazz na madrugada com o baixo de Marinho e a bateria de Frank Roeder (este, hoje no Canadá). Mais tarde, com o inesquecível Guarany - baterista da Bossa Nova que chegou a gravar um lp com João Gilberto - e Norton Morozowicz, quando o hoje maestro era ainda um apaixonado jazzista no baixo, formou o Ludus Tercius, uma das melhores formações musicais já ocorridas no Paraná. O piano de Gebran é suave, terno e emocionante - e, na sua modéstia, explicando que aceitou voltar a noite "apenas para complementar o orçamento e pagar as prestações da camionete que adquiri". DENISE, O PALCO - Estrelas brilham nos cabelos punk de Denise Stoklos, a iratiense que deu certo e hoje é o nome maior da mímica no Brasil. Viagens internacionais, destaque nas páginas de "Status", como aqui registramos há alguns dias, e, finalmente, a viabilização de um projeto que tentou fazer em Curitiba mas que fracassou (e nem poderia ser diferente) face à ignorância da paquidérmica (e inútil) Secretaria da Cultura e Esportes: a montagem de "Mary Stuart", com apenas duas intérpretes. Agora, sem esperar qualquer ajuda de seu Estado, Denise já está em fase de produção desta peça, dirigida por seu amigo Antônio Abujamra e ao lado de Beth Goulart/Nicete Bruno e que viveu sua primeira infância em Curitiba, quando o casal aqui atuava no TCP (ah! bons tempos de 1963/65, em que o nosso teatro tinha grandes momentos). A cabeça de Denise estava cheia de projetos para este primeiro semestre: uma nova peça de Dario Fó, temporada em Nova Iorque, viagens à Europa. Mas o que mais a tentou, foi a peça que a italiana Dácia Maraini fez sobre "Mary Stuart", que Denise define como "uma espécie de "Macbeth" feminino em que o poder patricarcal é discutido do ponto de vista da mulher, num enfoque já pós-feminista de reflexão". A peça tem apenas duas atrizes - vivendo Mary Stuart e a rainha Elisabeth (que prendeu sua prima por 22 anos, antes de mandar decapitá-la a 8 de fevereiro de 1587) sem que as duas tivessem se visto uma única vez). Diz Denise: - "Era uma época em que se exercitava a crueldade com o respaldo da sociedade. A crueldade era a moeda da Renascença e esse dado interessou muito a mim e ao Abujamra. O fato dessa situação, mostrada na peça, estar tão distanciada historicamente de nossa realidade é a nosso ver positiva na medida em que oferece ao público a possibilidade do distanciamento crítico. Porque o teatro para mim é isso, é a representação da realidade. Não quero fazer um documentário".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
2
15/06/1986

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