Um livro com aquilo que nosso Poty não escreveu
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 20 de janeiro de 1987
Inúmeras pessoas, desavisadas do temperamento tímido e introvertido de Poty Lazarotto, nosso mais importante artista plástico, lhe tem sugerido que escreva um livro sobre uma das técnicas da qual é mestre: a xilogravura. Em seu mutismo, o grande Poty limita-se a sorrir e dizer:
- "Eu faço arte. Quem escreve são os outros. Como o Valêncio" - dirigindo-se, naturalmente a Valêncio Xavier, 50 anos, seu amigo de muitos anos e parceiro em vários livros, inclusive o recente "Falando de Figurinhas".
Se Poty, curitibano do dia 29 de março, jamais fará um livro didático sobre a xilogravura, os que desejam conhecer um pouco desta técnica têm agora uma opção: a editora Tchê está lançando "Xilogravura, Arte e Técnica", de Anico Herskovitz (160 páginas, Cz$ 150,00).
Sua autora explica que realizou este livro "com o objetivo de permitir que qualquer estudante que nunca tenha feito uma 'xilo', consiga fazê-lo após ler o mesmo". Afinal, Anico trata de detalhes pequenos mas decisivos para uma boa xilogravura, como cuidados com a matriz, escolha do papel, ferramentas, entintamento, manejo de impressora e aspecto histórico desta que é a precursora das técnicas de gravar.
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O projeto do livro ganhou há 3 anos o concurso Ivan Serpa, da Funarte, cujo prêmio era a sua publicação. Mas com a mudança de administrações, o prêmio foi esquecido. O editor Ayrton Ortiz conseguiu então os direitos para lançá-lo pela Tchê, cada vez diversificando mais o seu catálogo. Uma decisão oportuníssima, aliás, já que a última publicação de uma obra a respeito, no Brasil foi a de Oswaldo Silva, desenhista d a Casa da Moeda, editada em 1941 - e naturalmente hoje esgotada.
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Uruguaia de Montevidéu, Anico Herskovitz estudou na Escola de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e, em 1971, começou a participar do atelier livre da prefeitura de Porto Alegre. Entre 1973/74 esteve nos festivais de inverno de Ouro Preto, deslanchando uma carreira nacional como gravurista. Este ano, ilustrou com xilogravuras o vanguardista livro "&", de Jorge Rein, também editado pela Tchê e lançado na última Bienal do Livro, em São Paulo.
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A propósito do bom Poty, mais uma prova de sua modéstia: o secretário municipal da Cultura, Carlos Frederico Marés de Souza, propôs o seu nome para o futuro Centro Cultural que a Fundação está adaptando no desativado terminal rodoviário no bairro do Portão. Seria uma forma de gratidão da cidade pela doação que Poty e sua falecida esposa, Célia, fizeram, passando ao município um acervo de obras de arte que vale milhões de cruzados. Poty nem considerou a proposta, recusando-a imediatamente. Para ele, qualquer homenagem em vida é "risco de morte".
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