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Aramis

Um salto bem sucedido do teatro de Londrina

O exemplo vem do Norte. Não do Brasil, mas de Londrina. << Salto Alto >>, que após uma semana em cartaz no auditório Salvador de Ferrante será apresentado hoje, em Ponta Grossa, no Festival Nacional de Teatro Amador, se constitui num dos mais seguros, bem humorados e profissionalmente corretos espetáculos encenados em nosso Estado. Quem conhece Nitis Jacon, o mais respeitado nome da vida teatral no Norte do Paraná, sabe que esta mulher ativa e inteligente não costuma brincar em serviço. Desde seus tempos de acadêmica de medicina em Curitiba, quando integrava o Teatro do Estudante do Paraná, sempre se destacou pela seriedade com que fazia teatro. Em Londrina, onde se fixou, casou, teve filhos, mantém há anos um ativíssimo movimento - que embora oficialmente amador, é, artisticamente, melhor do que dezenas de medíocres grupos que se dizem profissionais. Com toda razão, << Salto Alto >>, uma peça de Mário Prata, escrita há 2 anos e que permanecia inédita lotou o cine-teatro Ouro Verde, em Londrina, por quase duas semanas - num recorde de público. Levado ao Rio, no início deste mês, foi aplaudida por 2 semanas no teatro Glaucio Gil e ganhou elogios da crítica. É uma produção em condições de ser levada a qualquer cidade do Brasil, dignificando o nome da Universidade Estadual de Londrina, instituição ao qual o grupo Proteu está ligado. xxx São 20 atores e atrizes em cena. Ricos figurinos, inventivos cenários e uma sonoplastia das mais ajustadas. Todos os intérpretes - sem exceção, entram firmes, decididos em cena. << Não titubeiam, passam uma energia >>, como observou o experiente ator Joel de Oliveira, que na noite de quinta-feira, 29, era um dos mais entusiastas espectadores. Ao final, há uma sensação de felicidade; o espectador viu uma comédia satírica, atual, inteligente, que não choca. Há muitos palavrões e uma cena de nu frontal de todo o elenco - mas em momento algum existe grosseria e apelação erótico - pornográfica. Ana Lúcia Barroso, interpreta a personagem central - Nenzica Del Campo, atriz do teatro de revista que tendo sua carreira castrada pelo casamento com um militar, o Ventura (José Carlos Cenovez), transfere para seu filho, Leovergildo Emboaba Ventura (Nilton Aparecido Marques) o sonho de ser capa da revista << Manchete >>. E nesta personagem, Ana Lúcia tem uma interpretação esplêndida: seu corpo e sua voz lembram a grande Itala Nandi, transmite sensualidade e humor - e sua presença domina a peça. Igualmente excelente é a atuação de Maria Fernanda Machado Vaz Pinto Coelho (ufa) como a << mãe >>. Mas todo o elenco, em papéis múltiplos, ao longo dos vários quadros que cobrem o período 1954/1983 - com um << flash back >> dos anos 30 numa cena de teatro mambembe (com emocionante tema circense) se mostra seguro. Isto se deve aos 3 meses de ensaios e a garra e amor com que todos se aplicaram à montagem. Um entusiasmo tão grande que a jornalista Célia Maria Borega não se intimidou com o desafio de ficar despida em palco - embora isto tenha lhe custado o emprego na televisão em que trabalhava. Com cachês simbólicos, gastando do próprio bolso, os jovens do grupo de Nitis dão uma lição de competência, valorizando o texto de Mário Prata, que com esta peça completou a sua << Trilogia do Deboche >> - iniciada com << Dona Beija >> e que prosseguiu em << Bésame Mucho >>. O texto de Prata ganha ainda na sua importância, dada à capacidade do autor no estilo, um misto de deboche e seriedade, numa comédia que pra deleite do público nem sente passar as quase duas horas de << injeção >> da história do teatro (e televisão) brasileiro. Colocando a narrativa em blocos, com informes de cada época - o espetáculo situa os personagens ( E espectadores) cronologicamente, com citações importantes. A sátira aos excessos do teatro político, a decadência do Oficina, a corrupção da televisão, a censura etc., fluem naturalmente - sempre com o bom humor espontâneo entremeado de uma coreografia dinâmica (trabalho do filho de Nitis, o jovem Fernando) e o clima musical, na abertura e encerramento com uma entusiástica canção-tema, letra de Nitis Jacon e Música de Marco Antônio Scolari. Existindo desde 1979, o grupo Proteu já montou cinco peças - incluindo << Um Trágico Acidente >> de Carlos Queiroz Telles, premiado no ano passado no X Fenata, em Ponta Grossa, onde, sem dúvida, << Salto Elato >> tem todas as condições de ser a grande vitoriosa novamente. Afinal, poucos espetáculos podem se igualar a esta montagem. A única restrição talvez seja justamente esta: uma encenação tão bem acabada que nada tem de amadora. Muito pelo contrário.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
02/10/1983

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