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Aramis

Um sarau dos bons tempos (com o Época de Ouro)

Foram quase duas horas de emoção, daqueles momentos que não têm replay e, infelizmente, nem registros em discos ou vídeo. Num modesto restaurante inaugurado há poucas semanas no Bairro da Água Verde ("Recanto Paulista", Rua Petit Carneiro, 760), na madrugada de sexta-feira, 1º de setembro, aconteceu um sarau com o último dos grandes grupos de choros do Brasil: "Época de Ouro". Após ter encerrado a III Mostra do Choro, que Cidail César de Oliveira coordenou para o Sesc-Portão - do qual é o programador cultural - o grupo que teve em Jacob do Bandolim o seu grande idealizador, foi jantar no Recanto Paulista. Ali, num ambiente já simpaticamente musical - com o tecladista Arthur Passos e o multinstrumentista e cantor Osvaldo Pimentel (santista, há dois meses em Curitiba), os seis integrantes do Época de Ouro não resistiram e, buscando seus instrumentos, deram uma canja que se prolongou por mais tempo do que o próprio show que haviam feito pouco antes. Na grande tradição do choro - uma música de músicos & confraternização, tocada de forma informal - o sarau do Época de Ouro começou com uma homenagem a Valdir Azevedo (1923-1980) - o belíssimo choro "Você, Carinho e Amor", e prosseguiu com dezenas de outros clássicos, de várias épocas e autores. Os mestres Carlinhos (Ferreira Leite, 65 anos) e César Filho (70 anos, completados no dia 24 de fevereiro) - nos violões - e que junto com o pandeirista Jorginho (José da Silva, 60 anos), de formação original do regional de Jacob do Bandolim - mais os jovens que se agregaram ao Época de Ouro, nos últimos anos - Valmar Gama Amorim (40 anos, cavaquinho), Ronaldo Sousa Silva (39 anos, bandolim), e o caçula José Antônio de Azeredo Filho (28 anos, 8 de carreira, violão de 7 cordas) - mostraram toda a beleza do choro. Na genialidade de temas que exigem instrumentistas de real competência para suas execuções - "o que faz do choro um gênero mais fascinante do que o jazz" - como comentava, emocionado pelo momento que assistia, Ary Vasconcelos, os integrantes do Época de Ouro deram, na madrugada curitibana, uma pequena amostragem do que fariam na Praça Jacob do Bandolim, inaugurada há 10 anos no Jardim Schaeffer - e que eles ainda não conhecem - se tivessem merecido um convite da Prefeitura. Na manhã de sábado, na loja de Leon Barg, os músicos do Época de Ouro que se emocionaram ao receberem o elepê relançado pela Revivendo, com sete choros da primeira gravação do original Época de Ouro e, no lado A, a suíte "Retrato" que em 1964 o grande Radamés Gnatalli (1906-1988) dedicou a Jacob do Bandolim para, nas cores de seu virtuosismo, homenagear Anacleto de Medeiros, Chiquinha Gonzaga e Pixinguinha. Com o apoio do professor Olivo Ceçanello, diretor do Sesc-Portão, o entusiasta Cionei César de Oliveira, 35 anos - curitibano com uma vivência de 15 anos no Rio de Janeiro - vem realizando, ao menos uma vez por ano, momentos musicais de maior nível. Este ano, a 3ª Mostra do Choro homenageou Jacob do Bandolim (Jacob Pick Bittencourt, Rio de Janeiro - 14/03/1918-13/08/1969) e a programação incluiu apresentações além do Época de Ouro, também o Clube do Chorinho de Alceu Carta; Choro e Seresta, e o Nilo, Samba & Choro - além de projeções de documentários como "Chorinho e Violão" e "Tocando a Alma". Um evento que, ao menos em parte, poderia ter sido aproveitado para fazer com que o Teatro Paiol não ficasse às moscas ou com uma programação tão inexpressiva.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
07/09/1989

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