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Aramis

Uma antologia (pianística) Chopiniana

Em um lançamento duplo, temos uma verdadeira antologia chopiniana: com Maurizio Pollini (*), foram reunidos os 24 "Études" (Opus 10 e 25), 24 Prelúdios (Opus 28) e as sete "Polonaise" que Frederic Chopin (1810-1849) legou para a posteridade. Para o musicólogo Paolo Petazzi, se reconhecermos na pesquisa do timbre do piano, na exploração da potencialidade do instrumento, na busca do som, da técnica e da escritura pianística um aspecto essencial da poética de Chopin, pode-se afirmar que nos Estudos e nos Prelúdios, ele aparece, por assim dizer, no estado quimicamente puro, porque a exploração do teclado do piano, com todas as suas implicações técnicas e tímbricas, é declaradamente o problema centras nestas composições. Elas se colocam de fato em uma posição de relevo excepcional na década de 1829/39, que pode ser considerado o período da primeira maturidade de Chopin: os Estudos Opus 10, compostos entre 1829/32 - e publicados em 1833, com dedicatória a Franz Liszt (1811-1886) - são sua primeira obra-prima consumada, genial revelação de um assombroso ímpeto inventivo. Em sua maioria, os "Estudos" de Chopin se atem a forma então já definida para o gênero: cada um se concentra em apenas um problema técnico e é substancialmente monotemático, articulando-se normalmente como uma exposição, uma segunda parte que transpõe o material temático em várias tonalidades e uma espécie de recapitulação. A sucessão de modulações na segunda parte tinha a função didática de fazer o pianista exercitar uma fórmula técnica em tonalidades diferentes, mas em Chopin a riqueza da harmonia e das modulações assume um significado bem diverso, como meio de explorar audaciosamente novas justaposições de tonalidade, novas relações e para trazer potencialidades tímbricas inéditas. Já em relação aos Prelúdios, publicados em 1839, Schubert chegou a escrever um famoso comentário em que definia-os como "esboços, inícios de estudos, ruínas, plumas de águia arrancada, tudo selvagemente disposto e de maneira desordenada", revelando uma certa inquietude e perplexidade diante de uma série de peças que o encantava, mas onde encontrava também "algo de doentio, de febril, de repulsivo", evidentemente porque, em alguns dos Prelúdios, vai presentes esses aspectos da poesia de Chopin diante dos quais também ele se mostrava preocupado. Finalmente, no itinerário curto e extremamente intenso da atividade criadora de Chopin, a "Polonaise" é um gênero presente desde a época dos primeiríssimos esboços até a avançada maturidade obviamente com características estilísticas profundamente diferentes. Em 1817, com apenas 7 anos, escreveu uma breve "Polonaise" em Sol Menor, baseando-se neste gênero que surgiu na Europa a partir do século XVIII. Ao longo de sua obra, a evidente evolução das polonaises compostas em Varsóvia representaram o amadurecimento do pensamento musical de Chopin e a situação existencial do exílio. Na dimensão que criam o afastamento e o distanciamento, as características nacionais da polonaise são reinventadas sob uma nova luz, de extraordinária riqueza poética. Para o entendimento da obra pianística de Chopin - através da genialidade de um dos mais notáveis pianistas contemporâneos - esta edição em CD duplo, com Maurizio Pollini executando "Edutes / Préludes / Polonaises", com gravações desenvolvidas em Munique (janeiro/maio de 1972, os "Estudos", junho/julho de 1974 "Préludes" e na Sala do Musilkverin, de Viena, em novembro de 1975, "Polonaises", se coloca como um dos discos do ano. Nota (*)Maurizio Pollini. 49 anos, pianista italiano, aluno de Michelangeli, outro virtuose. Venceu em 1960 o Concurso Internacional Chopin e seu repertório inclui obras clássicas e modernas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
4
03/11/1991

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