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Aramis

Uma atriz visceral, profunda, emotiva!

Glauce nasceu na madrugada do dia 16 de agosto de 1930 em um sítio no local onde hoje passa a Avenida Calógeras, em Campo Grande. Nome de batismo: Glauce Elddé Araújo Rocha. Filha de um alagoano, tenente do exército, Leopoldino de Araújo Rocha e de Edelweiss Lingensfritz Rocha - de quem herdou a redução familiar, afetiva ("Elddé") do segundo nome. Quando tinha cinco anos, Glauce presenciou uma tragédia: numa festa numa localidade próxima a Campo Grande (Bela Vista), seu pai foi covardemente assassinado por um mau elemento, o cabo Cândido. O fato marcou sua vida. Diz Guizzo: - "Em 1965, quando interpretou "Electra", direção de Antunes Abujamra - considerado uma de suas maiores atuações - seu envolvimento era imenso e a cada espetáculo se dava por completo. Era como se houvesse um retorno ao pai perdido na infância". Glauce confessou a uma amiga esta dor, e também a dor de quem, por oito vezes, havia abortado. O fato de nunca ter chegado a ser mãe era uma de suas maiores frustrações. Com a morte do pai, sua mãe a internou num colégio religioso em Belo Horizonte. Em 1949, aos 19 anos, foi para Porto Alegre, onde morava sua avó. No Colégio Julio de Castilhos, onde fazia o terceiro ano científico, foi colega de um jovem que adorava teatro: Walmor Chagas. Em 1950, no Rio de Janeiro, no vestibular de Medicina, foi reprovada em Química. Como gostava de estudar línguas, uma amiga a levou ao antigo Serviço Nacional de Teatro onde havia um curso de inglês. Só que ali uma mulher maravilhosa, Luiza Barreto Leite, dava um curso de arte dramática, pelo qual Glauce se interessou. Seu talento e energia logo a fariam atuar na peça infantil "Rainha de Maringá". Passou a fazer teatro profissional e participou da peça que inaugurou o Teatro Dulcina. Trabalhando com a atriz Alda Garrido fez "Madame Sans Gene" e, depois, "Dona Xepa", em 1954 - que ficou anos em cartaz. Na televisão, que ainda dava os primeiros passos, Glauce também começou a fazer teleteatro. Em 1957, sob direção de Luiz de Lima, praticamente introduziu o teatro do absurdo no Brasil com as peças "A Cantora Careca" e "Os Rinocerontes" de Ionesco. A dramaticidade que a consagraria em "Electra", de Sófocles - não marcava apenas um lado de seu talento. Em "Tartufo", de Moliére, num papel cômico, mostrava sua versatilidade. Interpretou dezenas de personagens e a última vez que esteve em Curitiba, numa temporada no Auditório Salvador de Ferrante, foi com "O Exercício", de Lewis John Carlino (também diretor de cinema), ao lado de Rubens de Falco. Atriz até a medula, nunca se preocupou com o charme e autopromoção. Repetia sempre uma frase que pode servir de epígrafe ao livro de Guizzo: - "Minha função é ser atriz e não estrela". Generosa, sempre estava pronta para ajudar os colegas, ao ponto de ganhar o apelido de "Miss Dinners" - referência ao pioneiro cartão de crédito, que, na época, usava para salvar os amigos em dificuldades financeiras. Com formação católica, Glauce se politizaria através de um longo (9 anos) relacionamento com o seu segundo marido, Antônio Bulhões de Carvalho, médico, escritor, autor de muitas traduções de textos para a televisão. José Octávio analisa: - "Glauce nunca chegou a fazer parte do Partido Comunista, ao contrário de seu marido na época". Entretanto, tinha admirável consciência política e auxiliou muitos perseguidos pela ditadura. Foi também uma líder da classe, lutando pela regulamentação da profissão, pois não admitia chegar a um hotel e não poder identificar-se como atriz - profissão inexistente na época. Glauce também foi vítima da Censura - e uma das que mais a combateu. A peça "Um Uísque para o Rei Saul", de César Vieira, direção de B. de Paiva, sofreu inúmeros cortes que não aceitou. Foi a Brasília e conseguiu provar ao então ministro da Justiça, Gama e Silva, a imbecilidade dos cortes. Obteve uma liberação para todo o território nacional, mas assim mesmo tinha que brigar com as censuras estaduais. Seu último marido foi o psiquiatra Joaquim da Silva. Marcou já uma fase de maior recolhimento, embora com a mesma energia criativa que sempre caracterizou sua vida. LEGENDA FOTO 1 - Glauce e Walmor Chagas. LEGENDA FOTO 2 - Durante algum tempo, Glauce esteve na companhia de Eva Tudor. Aqui, numa cena de "Lotária", de Luiz Iglezias, ao lado de Eva, Leda Valle e Herval Rossano.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
5
25/12/1988

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