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Aramis

Uma boa orquestra que deu certo. Em Blumenau

Antonio Menezes, hoje o violoncelista brasileiro de maior prestígio mundial, vencedor de concursos em Moscou e Munique, solista da Filarmônica de Berlim, sob regência de Herbert von Karajan e que tem uma agenda preenchida por dois anos - com cachês acima de US$ 5 mil - estará dia 13 de agosto no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto. Será o solista da Orquestra de Câmara de Blumenau, dentro de um roteiro patrocinado pela IBM Brasil, que inclui apenas duas outras capitais - Porto Alegre e São Paulo. Depois de já ter acompanhado virtuoses da dimensão de Ingrid Harler (piano), Jean Pierre Rampal (flauta) e Maurice Andre (trumpete), a Orquestra de Blumenau, regida por Norton Morozowicz, foi escolhida para mais esta tournée, uma vez que seu prestígio hoje está consolidado nacionalmente. E embora sediada em Blumenau, a orquestra representa a confirmação do talento de jovens músicos paranaenses, já que do curitibano Norton aos seus violinistas, violoncelistas, baixista, etc., mais de 60% de seus integrantes são curitibanos - ou aqui radicados. xxx Esta semana começou a ser distribuído o quarto álbum que a Orquestra de Câmara de Blumenau grava em apenas 5 anos de existência. Poucas orquestras do País conseguiram se firmar em tão curto prazo de tempo, e pela segunda vez, a Basf decidiu patrocinar um álbum de música brasileira na interpretação dos músicos de Câmara de Blumenau. Assim, se no ano passado, houve o belíssimo álbum com as canções de Alberto Nepomuceno (1864-1920) - muitas das quais inéditas em disco - tendo como solistas e soprano Ruth Staerke (catarinense radicada há anos no Rio de Janeiro), este ano, o maestro Norton Morozowicz teve uma feliz idéia: homenagear dois octagenários gigantes de nossa música, ambos insuficientemente divulgados. Assim, de Radamés Gnatelli (Porto Alegre, 6 de janeiro de 1906) temos o Concerto para Bandolim e Cordas, dedicado a Joel Nascimento e a Suite Antiga para Cordas, dedicada a própria orquestra de Blumenau, ambas em primeira execução. De Waldemar Henrique (da Costa Perea, Belém, 15-02-1905), a emocionante gravação de oito de suas mais belas canções - todas inspiradas em motivos folclóricos - tendo como solista Ruth Staerke: "Trem de Alagoas", "Senhora Dona Sancha", "Matintaperera", "Coco Peneruê", "Tamba-Tajá"(que se tornou sucesso popular com Fafá de Belém, há 11 anos), "Uirapuru", "Cobra Grande" e "Foi Boto, Sinhá!". Tendo como intérprete sua irmã, Mara Costa Pereira, as canções de Waldemar Henrique são conhecidas no Brasil do Norte a Sul, mas tem poucos registros. Ao regravá-las, com arranjos de Guerra Peixe, o maestro Norton Morozowicz teve idéia das mais felizes. Em relação a importância de Radamés Gnatalli não é preciso falar muito. Aos 80 anos, mais de 60 dedicados a música - tanto popular como erudita, este genial gaúcho é a própria MPB, reconhecido em sua dimensão a partir da admiração que lhe dedica Antonio Carlos Jobim (que aliás, ficou entusiasmado com a gravação da Orquestra de Câmara de Blumenau). Com uma imensa obra erudita - embora pouco divulgada por falta de gravações, Radamés compôs o concerto para bandolim e cordas em homenagem ao talento de Joel Nascimento, virtuose deste instrumento, um dos fundadores da Camerata Carioca, grupo que, aliás, fez duas estréias nacionais no auditório Salvador de Ferrante, com a participação do grande Gnatalli: "Tributo à Jacob do Bandolim" (11 de agosto de 1979) e "De Vivaldi a Pixinguinha" (6 de junho de 1980), ambos dirigidos por Hermínio Bello de Carvalho. xxx A qualidade do álbum "80 Anos de Música Brasileira", homenageando a Waldemar Henrique e Radamés Gnatalli, levou a direção da Basf a já encomendar a Norton um terceiro álbum, a ser planificado nos próximos dias, em reunião que o maestro terá em São Paulo, com o coordenador de comunicação social, jornalista Ricardo Botelho e a própria presidência da empresa - que, por sinal, é uma das que tem mais investido na área cultural. xxx Ainda este ano, sairão mais dois álbuns da Orquestra de Câmar de Blumenau: um com patrocínio da Bosch do Brasil - que em comemoração aos seus 100 anos, também levará a orquestra a várias capitais brasileiras - e outra comemorativa aos 50 anos da Artex, de Blumenau - cujo presidente, é um dos mecenas que tornou possível a implantação deste conjunto de câmara. O disco da Artex já foi gravado ao vivo - como sempre com o trabalho do competente Frank Justo Acker - e reúne a "Pequena Serenata Noturna" de Mozart, com duas das mais belas "Bachianas" de Heitor Villa-Lobos: a para oito violoncelos (nas quais, entre outros, participam os virtuoses Antonio Del Claro, Watson Cliss, Marcio Mallard e Jacques Morelembaum) e a número 5, que tem como solista a soprano Maria Lúcia Valadão. xxx Com solidez e critérios artísticos apoiada pelo empresariado catarinense, a Orquestra de Câmara de Blumenau é um exemplo a ser seguido. Norton Morozowicz, 39 anos, durante 21 anos o primeiro flautista da Sinfônica Brasileira, reconhecidamente o mais perfeito executante deste instrumento no Brasil, conseguiu fazer naquela cidade catarinense aquilo que a inveja e mediocridade dos "donos do poder" cultural impediram que pudesse realizar em seu Estado. Uma história trágica que, elegantemente, Norton evita comentar. Mas basta comparar o prestígio da Orquestra de Blumenau com as tentativas locais, para se sentir o quanto faz falta um regente de dimensão, competência, para dar a uma orquestra a projeção que ela busca. LEGENDA FOTO 1 - Norton Morozowicz, regente da Orquestra de Câmara de Blumenau: reconhecimento nacional.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
26/06/1986

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