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Aramis

Uma fantasia com personagens impressionantes e verdadeiros

Ligado a várias instituições ecológicas - e presidindo atualmente o Instituto Terra, de âmbito internacional - Frederico Fullgraf caracteriza sua obra cinematográfica por corajosos documentários voltados a temas do meio ambiente. "Quarup - Adeus 7 Quedas", documentou, em imagens belíssimas, emolduradas com poema de Carlos Drummond de Andrade, o final de uma das maiores belezas naturais do mundo. Posteriormente, dois curtas dos mais corajosos: "Expropriado", sobre o êxodo provocado por Itaipu entre os agricultores do Oeste e, numa denúncia de alcance internacional, "DDD - Dose Diária Aceitável/O Veneno Nosso de Cada Dia", que foi premiado em festival de filmes ecológicos na França, e exibido em várias partes do mundo, inclusive no Japão. Paralelamente a "Átomos para a Paz" - originalmente "A Bomba da Paz" - outro projeto que tem ocupado Frederico nestes últimos anos é o de um longa-metragem contando a saga da emigração alemã no Sul do Brasil. Sem cair no documental tradicional, o roteiro tem um approach bem mais profundo, resultado de anos de estudos na área - dentro da organização que o caracteriza em tudo que realiza. O projeto, para fins de viabilização, virou uma trilogia para a televisão - tanto para a Alemanha (considerando sua possível integração a produção), como para a brasileira. O pano de fundo histórico será a véspera da II Guerra Mundial, com uma narrativa regressiva até os primórdios da fundação da cidade de Joinville, em Santa Catarina. Personagens reais entram na história, a começar por Carl Friedrich Phillip von Martius (1794-1868), o eminente botânico, autor da "Flora Brasileira" (44 volumes) que visitou o Brasil entre 1817/1820, passando por Julie Engel, ex-militante da Revolução de 1848 na Alemanha, e pioneiro da fundação de Joinville em 1851. Outra personalidade de grande vigor é o Dr. Hermann Blumenau, fundador da cidade que tem o seu nome. Mas dentro da visão de uma história redescoberta, talvez a figura mais curiosa seja de Karl von Koseritz: mercenário alemão contratado por D. Pedro II para lutar contra o ditador Rosas, desertor, tropeiro durante 5 anos no Rio Grande do Sul, cronista, jornalista e finalmente político teuto-brasileiro, "pioneiro do pensamento pan-germanista no Brasil, que deixaria Goebbels ruborizado de vergonha pelas amenidades que pronunciou - tamanha foi a veemência do estilo pré-nazista de von Koseritz", comenta Fullgraf, acrescentando: - "Von Koseritz é, para mim, a encarnação viva do teuto-brasileiro dividido entre uma e outra cultura". Outro personagem que o filme de Fullgraf vai redescobrir: Kurt "Niemuendajú" Unkel, o saxão que chegou ao Brasil em 1903 e morreu, índio entre os índios, em 1951, no Alto Solimões, na Amazônia. - "Todos estes personagens "obedecem" a uma trama comum: são viajantes em busca do desconhecido, do inesperado, do fantástico e mágico, deixando para trás a pátria ferida por guerras, pobreza material e a falta de novas perspectivas", explica. Com exceção de Von Martius, os personagens desta saga vieram ao Brasil para ficar, mas foi Von Martius quem melhor soube traduzir a sedução exercida pelo Brasil sobre o imaginário alemão de todas as épocas: "A América, este novo mundo, foi desde a época de sua descoberta, objeto da preferência e da admiração da Europa". Não será uma produção fácil. Fullgraf tem consciência disto - e tanto é que só mesmo com dólares vindos da Europa, num esquema altamente profissional, é que poderá desenvolver esta saga envolvendo personalidades tão marcantes. Só a reconstituição da Expedição Von Martius vai exigir um imenso esforço de marketing para subsidiar o seu custo. Será um verdadeiro "Camel-Trophy-Eco-Cinematográfico" de várias semanas, seguindo o roteiro descrito pelo botânico há 170 anos. Pensando grande, seríssimo em seus projetos - tanto é que nunca buscou simplesmente a subvenção oficial, paternalista, como fazem tantos picaretas e aproveitadores do cinema brasileiro, Fullgraf equaciona seus projetos a médio e longo prazo. A repercussão positiva dos documentários que conseguiu realizar - todos hoje com cópias percorrendo o Exterior - o credenciam a sonhar com um cinema de idéias, voltado a temas que, mesmo voltando ao passado, são mais atuais do que nunca. E que por isto mesmo lhe dão a credibilidade para merecer atenção de instituições internacionais, como as que está visitando neste mês.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
19/05/1990

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