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Aramis

Uma fundação para o FestRio sobreviver

Terminado o FestRio, uma questão era discutida nos bastidores: como será a terceira edição? Na tarde de sábado, 30, alguns cartazes - bem mais bonitos do que o turístico poster deste ano - já anunciavam o FestRio-86, sem mencionar o mês. Na festa de encerramento, o prefeito do Rio de Janeiro, Maurício Alencar, antecipou-se ao próprio secretário de Turismo, Trajano Ribeiro, para confirmar a noticia que já vinha sendo divulgada extra-oficialmente: a criação de uma fundação para garantir a continuidade deste festival que conseguiu classificação entre os eventos de primeira linha (Veneza, Cannes, Berlim, Montreal) e que dispõe de uma data privilegiada. Recordava-se que, por falta de uma estrutura independente do transitório jogo político, o antigo FIF - Festival Internacional do Filme, criado pelo governador Carlos Lacerda, se limitou a apenas duas realizações (1965/1966). Para evitar, portanto, que a simples saída do secretário Trajano Ribeiro, do Turismo - é o grande estimulador deste evento (consta que será candidato a Constituinte), signifique o esvaziamento da promoção, já está pronto o projeto de lei criando a Fundação FestRio, cuja aprovação foi prometida pelo presidente da Assembléia, Deputado Eduardo Chuahy (PDT), a autoridade mais importante na festa - já que o governador Leonel Brizola não compareceu nem na abertura (representado pelo vice, Darcy Ribeiro), nem no encerramento. xxx O que muitos discutiam, após a festa de encerramento do FestRio, é se Ney Sloulevich, continuará como o poderoso diretor geral do FestRio. Consta que a sua condição para se manter neste cansativo - mas muito agradável - cargo (afinal, uma das obrigações é comparecer em outros festivais de cinema que se multiplicam pelo mundo), seria de, por três anos, ter como diretores, quatro pessoas que já participaram da organização do FestRio: Cosme Alves Neto, diretor da Cinemateca do MAM (que este ano coordenou os seminários paralelos), produtores Luis Carlos Barreto e Paulo Thiago e Jean Gabriel Albicoco, ex-cineasta, hoje executivo da Alvorada-Gaumont. A preocupação dos organizadores do FestRio já em sua edição do ano passado - e ampliada agora - foi a de oferecer múltiplos eventos. Assim ao lado dos filmes em competição - 22 longas e nove curtas - houve reuniões de órgãos ligados ao cinema (comitê de cineastas latino-americanos, empresas governamentais de cinema, diretores de festivais, dirigentes de cinematecas etc.) seminários (sobre vídeo, telenovela, produção de TV/ cinema; direitos autorais, financiamentos), mostras em homenagens aos cineastas Daniel Schimidt (Suíça) e Nikita Mikhalkov (URSS) e filmes especiais, todos inéditos comercialmente (e que dificilmente terão lançamento no Brasil) no Fórum de Berlim, Midnight Movies (as mais movimentadas sessões, no Bruni-Ipanema), Olhar Feminino (muitos filmes franceses e americanos ), afora clássicos do cinema (Tesouros das Cinematecas), filmes para infância e juventude e as pré-estréias americanas, estas, naturalmente , já com programação comercial garantida (três da fitas ali levadas - "Quando Hollywood Dança", "Música e Lágrimas", e "Cocoon", já foram exibidas em Curitiba). Na área de vídeo, a programação também foi massacrante: além de quase 200 trabalhos levados nas partes competitivas e informativas, houve também mostras de vídeos produzidos no Centro Georges Pompidou, em Paris, uma antologia do melhor vídeo independente da América Latina, produções destinadas a infantaria e vídeos experimentais da Catalunha , entre outras manifestações. Enfim, um verdadeiro porre audiovisual, multiplicado em diferentes salas - três na área do vídeo - sem contar algumas dezenas de filmes brasileiros, muitos deles ainda inéditos comercialmente (como "Chico Rei", de Walter Lima Filho); mostrados no mercado de filmes e tapes, que funcionou com 26 stands - e cinco salas de projeção. Os números das vendas no mercado ainda são nebulosos. A "Folha do Festival", house-organ, circulação de 15 mil exemplares, (editado por equipe de jornalistas, mas estranhamente impressa em São Paulo) chegou a falar em negócios na ordem de US$ 20 milhões, o que soou, no mínimo como fantástica. Na verdade o próprio Ney Sloulevich admitiu, no penúltimo dia do festival, que os negócios de vendas de filmes e vídeos brasileiros para exibidores estrangeiros não foi tão grande porque "o cinema nacional não se renovou: os filmes brasileiros que estão ai são os mesmos que estiveram nos festivais de Cannes, Veneza, Moscou, etc. Os compradores esperavam por algo novo, o que não houve". Discretamente nos estandes montados no 2º andar do centro de convenções do Hotel Nacional, circulavam poucos compradores. Alguns estandes tiveram maior movimento, outros - como o da Soviexport, ficavam praticamente às moscas (apesar disto a TV soviética teria vendido US$ 2.300.000 para as televisões brasileiras). A Unifrance montou um estande apenas para promover a farta produção francesa, que, infelizmente, raramente tem distribuição comercial no Brasil. A eficiente Helena Zanotti, a mulher da Unifrance entre nós, não deixou por menos: além da exibição de filmes inéditos na mostra Olhar Feminino - inclusive com a presença de várias cineastas (como Caroline Huppert, irmã da atriz Isabelle, diretora de "Signe Charlotte"), ainda trouxe uma seleção de filmes recentíssimos, produzidos este ano e que tiveram sessões na luxuosa sala do Meredian, infelizmente, o filme que representou a França na parte competitiva foi o mais fraco de todos: a comédia "Três homens e um Bebê" , comédia de Coline Serreau (uma francesa sem papas na língua, bastante agressiva na sua entrevista) e que reúne elenco de artistas desconhecidos. Entretanto, em termos comerciais. "Trois Hommes et um couffin", a exemplo do italiano "Cosi Parló Bellavista", de Luciano de Crescenzo, é o tipo do filme com chances de fazer sucesso. Só falta aparecer alguém interessado em distribui-lo no Brasil. xxx LEGENDA FOTO 1: Coline Serreau, diretora de "Três Homens e um Bebê" LEGENDA FOTO 2: Uma comédia representou a França na competição do FestRio: "Três Homens e um Bebê". Na mostras paralelas, os filmes franceses foram melhores
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
11
05/12/1985

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