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Aramis

Uma fundação para Radamés

Durante um almoço com o professor Alceu Schwaab, da Associação dos Pesquisadores de MPB e que trabalha atualmente num levantamento da relação do Cassino Ahú (1939/1946) com a música brasileira, o violonista Rafael Rabello teve a alegria de ver no estudioso paranaense um dos maiores admiradores de Radamés Gnatalli. Uma idéia que já vinha amadurecendo na cabeça de Alceu poderá se concretizar: a gravação por Rafael, de um álbum especial, exclusivamente com peças de Gnatalli, em edição financiada pelo próprio Schwaab. Os 54 anos de diferença entre Radamés Gnatalli e Rafael Rabello não impediram que entre os dois estabelecesse uma das maiores amizades da música brasileira. O talento e o virtuosismo do Rafael fez com que o grande Radamés lhe dedicasse uma especial atenção, o que foi fundamental para a própria evolução musical do jovem instrumentista. Juntos desenvolveram vários trabalhos - inclusive o "Tributo a Jacob do Bandolim", que teve sua estréia nacional no Teatro Guaíra em agosto de 1979, em homenagem aos 10 anos da morte de Jacob Bick Bittencourt (1918-1969) - perpetuada num álbum histórico da WEA, produção de Sérgio Cabral, do espetáculo dirigido por Hermínio Bello de Carvalho. Rafael e sua irmã, Luciana, são daquelas pessoas que, nestes últimos anos - ao lado de Antônio Carlos Jobim e Sérgio Sarraceni, entre outros, mais de perto tem estado com Radamés. Há mais de um ano, com a grave doença do maestro gaúcho, Rafael tem sido incansável ao lado do maestro, numa dedicação total. Uma preocupação maior de Rafael: criar, ainda em vida de Gnatalli, uma fundação que venha preservar sua obra, especialmente na guarda dos milhares de partituras (centenas delas inéditas) que se acumulam em armários na residência do maestro. O patrimônio musical que Radamés Gnatalli representa para o Brasil - como arranjador, regente, pianista e, sobretudo, compositor, reconhecidamente tendo influído na formação dos grandes nomes a começar por Antônio Carlos Jobim, necessita ser catalogado e preservado. Sérgio Sarraceni, compositor, grande amigo de Radamés e que vem se dedicando a criação de trilhas sonoras ( em 8 de outubro último, esteve em Curitiba participando de mesa-redonda a respeito, paralela a Mostra do Cinema Latino-Americano) iniciou inclusive um documentário sobre Radamés Gnatalli, interrompido por falta de recursos. Agora - numa homenagem que desejam fazer ainda em vida, Rafael, Sérgio, Tom e outros amigos pensam numa fundação para sua obra. Algo extremamente necessário é que pode dar a empresa disposta a financiá-la um lugar de destaque dentro dos projetos culturais que, estimulados pela Lei Sarney, multiplicam-se nem sempre com os resultados esperados. LEGENDA FOTO: Radamés Gnattali
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
07/11/1987

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