Há 8 anos, quando da visita do Papa João Paulo II ao Brasil, as gravadoras também aproveitaram o momento para editarem vários discos com os registros alusivos ao evento histórico. Assim tivemos álbuns com a voz do Papa, sua biografia em narrações diversas e músicas relacionadas ao Vaticano. Edições que ficaram apenas como registro de um momento - inclusive o álbum duplo que produzimos, em colaboração com o pesquisador César Ribeiro, contendo a íntegra da passagem do Sumo Pontífice por Curitiba - e que ficou como um documento histórico. Pelo visto, a dimensão do Papa continua a justificar edições fonográficas e a mais notável delas foi lançada pela Polygram no final do ano passado: um álbum da Deutsche Grammophon, no qual Herbert von Karajan regente da Filarmônica de Viena, com a "Missa da Coroação", de Mozart e a "Grande Missa Solene na Basílica de São Pedro", para a festa dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo. Sem dúvida trata-se de uma gravação destinada não apenas aos que colecionam música clássica, mas ao público de fiéis que se preocupam em dispor de documentos ligados a Igreja. Gravado ao vivo na Capela Sistina, com dois corais notáveis - na Capella Musicale Pontificia Sistina, regida pelo Monsenhor Domenico Batolucci e a Singverein de Viena, regida por Helmuth Froshauer, este álbum reproduz um momento magnífico realizado há dois anos passados. A Santa Sé abriu mão de seus direitos sobre esta gravação em benefício da Caritas Internationales e o álbum, enriquecido por um belo encarte, é daquelas produções que merecem permanecer em catálogo, já que haverá sempre um público, pequeno mas fiel, em busca desta gravação. xxx Discretamente a imagem está colocando no mercado brasileiro algumas gravações que revelam talentos da Europa, desconhecidos até agora. É o caso da pianista Felicja Blumental, polonesa de Varsóvia, discípula de Karol Szymanowski, Goldberg e Dvzewiecki e cuja carreira iniciou antes da II Guerra Mundial. Em 1952, tendo emigrado para a América do Sul, fez seu primeiro concerto importante no Rio de Janeiro e em 1955, já se destacava como solista. Apesar desta ligação afetiva com o Brasil - e o fato de sua carreira ter sido reconhecida pela crítica internacional, até hoje permanecia praticamente desconhecida entre nós. Razão que faz Jonas Silva, o bravo diretor da Imagem, merecer aplausos em lançar "Chopin Waltz", gravação original da Everest Records, com Felicja interpretando 17 valsas de Chopin, que tendo morrido aos 39 anos de idade (1849), produziu tantas obras-primas, que como escreveu um de seus biógrafos, Ernest Legouve, trazia "o som particular do piano assemelhando-se ao golpe de vista do seu olhar. A delicada e doentia debilidade de seus dedos eram aliados a poética melancólica dos seus noturnos e a cuidadosa atenção outorgada aos detalhes de sua roupa, ajudam a explicar a mundana elegância de algumas partes de sua obra". xxx Na área dos registros de clássicos, mais um destaque: o álbum em que o violoncelista Yo-Yo Mahler, como solista da Filarmônica de Berlim, sob regência de Lorin Maazel (gravação CBS Masterworks) interpreta o Concerto para Violoncelo e Orquestra de Antonin Dvorak. Da mesma forma que a Sinfonia "Novo Mundo", também este concerto para violoncelo e orquestra foi composto por Dvorak nos Estados Unidos. Mas ao contrário da sinfonia, em que o compositor procura elementos musicais locais, neste concerto o caráter eslavo é predominante. A obra é tão feliz em sua concepção que Brahms, depois de terminar a leitura da partitura, teria exclamado: "Por que diabos não sabia eu ser possível escrever um concerto para violoncelo como este?". O concerto foi composto entre 1894/95 e estreou em Londres no ano seguinte.

Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:

Veiculo: Estado do Paraná

Caderno ou Suplemento: Almanaque

Coluna ou Seção: Música

Página: 4

Data: 31/01/1988