Login do usuário

Aramis

Uma Mulher

BIA, O MUNDO COM AS CORES DO SENTIMENTO Já houve uma época em que cada um de seus grandes desenhos era mesclado com uma frase-poesia. Tão suaves e leves, hai-kais suspensos em cores, como seus próprios traços e cores. Das poesias da adolescência e juventude ficaram algumas que, mesmo com um juízo mais rigoroso, poderiam merecer impressão e não envergonhariam ninguém. É possível que mesmo hoje, entre a regular produção artísitica, os encargos com Letícia - que aqui nasceu há três meses - e atenção com o marido, o diplomata João Almino, ainda sobre tempo para que a poesia tenha seu momento. Afinal, Bia sempre foi uma espécie de poesia em forma de mulher. xxx O francês foi uma segunda e natural língua. Filha de uma das mais estimadas mestres desta língua, a professora Maria das Dores Wouk, aprender o idioma de Moliére foi tão natural quanto engatinhar e caminhar. Depois, também naturalmente, vieram as aulas na Cultura Inglesa e, antes dos 15 anos, já conhecia - e muito bem três línguas importantes. Isto seria muito importante, tempos depois, quando passou a residir no Exterior. Nos quatro dourados anos em que viveu num cinematográfico studio na Ille de St. Louis, a poucas quadras da igreja de Notre Dame de Paris, fez da capital francesa o ponto de apoio para andanças pela Europa. Viver a juventude em Paris é um presente dos deuses - e que para ela, leitora de Gertrude Stein, Virginia Wolf e - não poderia faltar, é claro: Ernest Hemingway, foi mais do que tudo, um complemento no aprendizado de sentir e amar. Quatro mágicos anos de Paris, nos quais desenvolveu ainda mais sua sensibilidade e arte e encontrou o companheiro-marido, João Almino, diplomata de tradição familiar, escritor e filósofo, que hoje serve em Brasília num dos mais importantes cargos no Itamarati. xxx Depois do Céu, o Inferno. Uma temporada apenas, como na poesia de Baudelaire, mas suficiente para revelar um outro lado da vida. Recém-casada com João Almino, Bia conheceu os horrores da guerra religiosa de Beirute, onde ele, diplomata de carreira, serviu alguns meses. Uma experiência violenta, difícil, na qual ao invés da arte e cultura que havia se acostumado a respirar em Paris de sonhos, defrontava-se com bombas, explosões, edifícios destruídos, morte e miséria. Capaz de aprender a fazer do limão uma limonada, os meses de Beirute ficaram também na retina da experiência vivida. Depois, quatro anos da megalópolis na Cidade do México. Quente, com suas contradições humanas e sociais, riqueza de personagens & costumes, a capital mexicana também teria importância em seu curriculum - e ali, entre muitos amigos e artistas, faria parte de um movimento artístico marcante - conhecendo desde monstros sagrados curtidos dos tempos da adolescência, como Luiz Buñuel, até uma nova geração de cineastas, como o diretor Arturo Ripstein, para quem chegou a criar desenhos utilizados no filme "El Otro" (não teve distribuição no Brasil, mas representou o México no I FestRio, em novembro de 1984). Na Cidade do México, também participações em mostras importantes como "América Siglo XX", "Arte Conteporâneo de América", "Gráfica Brasileña", "50 Años de la Galeria de Arte Mexicana" e 4º Salon Mexicano del Textil em Miniatura. Exposições estas que se somaram às tantas outras participações em coletivas, salões e mesmo nas bienais (1973/75) de São Paulo. Hoje, em noite de sofisticação, com bom vinho branco e abraços de centenas de amigos, Bia inaugura na Simões de Assis - Galeria de Arte, sua 13ª individual em 13 anos de uma regular atividade de artista plástica. Aos 34 anos, mas uma aparência de adolescente aluna de colégio religioso, um riso meio sapeca enfeitando seu belo rosto, Bia Wouk (a Maria Beatriz só aparece nos documentos oficiais), coloca em seus quadros a visão de uma artista que procura o outro lado das imagens, num trabalho que levou o crítico Mark Berkowitz a compará-la à mítica "Alice" de Lewis Carrol, pelo mundo mágico que propõe em sua arte.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
23/10/1986

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br