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Aramis

Uma semana com variadas e excelentes opções

Excesso de bons programas traz angústia a quem se interessa em acompanhar todos. A eficiência de Francisco Alves dos Santos, programador das salas de exibição da Fundação Cultural, somada à chegada dos filmes nominados para o Oscar - e alguns premiados na noite de segunda-feira - faz com que falte tempo para se assistir a tudo que está em exibição. Por exemplo, nem bem foi encerrado o mastadôntico "Berliner Alexanderplatz", de Rainer Werner Fasbinder - que surpreendentemente teve um público fiel de 120 pessoas ao longo de suas 15 horas - já chega ao Ritz, o mais recente filme de Bergman ("Depois do Ensaio"), cuja retrospectiva, no Groff, possibilitou também uma reapreciação mais profunda de sua maravilhosa obra. Se não fossem os 7 Oscars que "Entre Dois Amores" (Out of Africa) obteve na noite de segunda-feira, talvez este maravilhoso - embora longo - filme de Sydney Pollack não resistisse a uma segunda semana em exibição: nos primeiros 5 dias, no Lido I, uma renda baixa (ao redor de Cz$ 50 mil) para aquela sala, mostrou que o público curitibano não está(va) se ligando como deveria à cinebiografia da escritora dinamarquesa Isak Deninsen (1885-1962), numa magnífica interpretação de Meryl Streep - uma das 11 indicações do filme ao Oscar. Melhor filme, direção, roteiro adaptado, fotografia, trilha sonora (John Barry), edição de som e direção artística, "Out of Africa" é um filme magnífico, belo e enternecedor, que merece ser visto. xxx Valendo, com justiça, o Oscar de melhor ator a William Hurt, "O Beijo da Mulher Aranha" só tende a crescer de público: na primeira semana já foi visto por mais de 15 mil espectadores e na previsão de Antoninho Coelho, o felpudo e gentil gerente do Palace Itália, o filme de Babenco deverá permanecer várias semanas em exibição. Quando, finalmente, sair, já há outro filme importante previsto para ali estrear: "A História Oficial", - Oscar de melhor filme estrangeiro, consagrado em vários festivais internacionais e mostrando a força do novo cinema político que se faz na Argentina. Aproveitando a evidência de Babenco, Francisco Alves dos Santos - (que esteve na semana passada no Rio, integrando o júri de pré-seleção dos filmes que concorrerão ao XV Festival de Cinema de Gramado, de 7 a 15 de abril) - programou a reprise de "O Rei da Noite", primeiro longa do diretor argentino. Rodado em 1975, com Marília Pera e Paulo José, "O Rei da Noite" é um filme fascinante, mergulho na solidão de um funcionário público, boêmio e seu relacionamento tumultuado com muitas mulheres. Vale a pena rever - ou então conhecê-lo. Já na Cinemateca, de 1º a 4 de abril, estará sendo projetado "Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia", de 1978 - enquanto - "Pixote - A Lei do Mais Fraco", produção de 1981, com Fernando Ramos, Marília Pera, Tony Tornado e Jardel Filho, será levado aos bairros, na próxima semana. xxx Das três estréias, a mais importante, em termos artísticos, é "Depois do Ensaio" (After Repetitionen), produção de 1985 de Ingmar Bergman, com um elenco mínimo - Erland Josephson, Ingrid Thullin e Lena Olin - e duração de apenas 75 minutos (ao contrário de "Fanny e Alexandre", seu penúltimo filme, de 3 horas de duração). Trabalhando com seu casal de artistas favoritos - Josephson e Ingrid - e um tema que tem marcado seus 40 anos de cinema - a vida dos artistas (desde "Noites de Circo", que deveria ter sido, aliás, incluído na retrospectiva, mas cuja cópia não possibilitou projeção, Bergman realiza um filme extremamente despojado. O cenário da história - se é que a palavra história pode ser usada - é o mais simples: um palco depois de um ensaio. Alguns móveis e algumas cortinas fazendo com que o envelhecido diretor Henrik Vogler se recorde de outras produções que tinha realizado. Está dirigindo a "Peça do Sonho" de Strindberg pela quinta vez. Duas mulheres ocupam o palco, alternadamente: Anna Egerman (Lena Olin) e Rakel (Ingrid Thulin). Anna representa a filha de Indra. Rakel só tem duas falas. Ela é alcoólatra, neurótica e, freqüentemente, irresponsável. Anna quer seguir a carreira como atriz e está disposta a fazer qualquer coisa para conseguir o que deseja. Ela volta para o palco depois do ensaio para procurar uma pulseira que nunca teve na verdade. É apenas uma desculpa para retornar. Henrik teve um caso de amor com a mãe de Anna no passado e ela pode ser sua filha. Elementos típicos de Bergman. Muitos diálogos e um corte visceral na alma humana. Com fotografia do permanente colaborador Sven Nykvist e três esplêndidos intérpretes num filme que, para Vincente Canby, o famoso crítico do "The New York Times", é tão apaixonante, inteligente e curioso sobre o mundo do teatro, quanto "A Noite Americana" de Truffaut o é sobre o cinema. AGNES DE DEUS - Um tema polêmico numa peça de sucesso nos Estados Unidos - mas fracasso em suas duas montagens feitas no Brasil, "Agnes de Deus" (do texto de John Pielmeier) acabou não levando nenhum Oscar, embora tivesse muita torcida para que os troféus fossem para Anne Bancroft (melhor atriz) e Meg Tilly (melhor atriz coadjuvante) . Dirigido por Norman Jewinson, cineasta que gosta de temas polêmicos - como o racismo ("No Calor da Noite", "A História de um Soldado") mas também tem incursionado pelo musical ("Violinista no Telhado" e "Superstar"), "Agnes de Deus" e marca o reaparecimento de Jane Fonda, como a psiquiatra Martha Levingston, que investiga o caso da irmã Agnes (Meg Tilly). Esta dá a luz a uma criança e assassina-a imediatamente. Jane tem uma excelente atuação. Entretanto, para quem já viu este filme, o grande destaque é a ótima Anne Bancroft, 55 anos, 30 de cinema - que em 1962 já havia ganho um Oscar por "O Milagre de Anne Sullivan" - e aqui interpretando a madre Mirian Ruth, superiora do convento que insiste na inocência da irmã Agnes, sugerindo a possibilidade de um milagre. Um filme voltado à religião, com três grandes interpretações femininas. De visão indispensável esta semana. Música de Georges DeLeRue (compositor francês, candidato ao Oscar) e fotografia de Sven Nykvist. REVISÃO DE VISCONTI - Os dez anos da morte de Luchino Visconti (Milão, 2/11/1906 - Roma, 17/10/1976), foram lembrados também por Francisco Santos, que programou para o Groff a reprise de seu último filme, "L'Innocente", inspirado na obra de Gabrielle D'Annunzio. Gravemente doente quando iniciou este filme, Visconti dirigiu as seqüências em cadeiras de rodas mas não pode completá-lo, o que foi feito por seus colaboradores. Assim, "O Inocente de Visconti" (título com que a Fox buscou explorar o nome do diretor) é um filme lento e claramente incompleto, sem a garra de "Violência e Paixão" (Gruppo di Famiglia in um Interno, 74), obra que merecia ser reprisada - enquanto se aguarda que chegue a versão completa de "Ludwig, A Paixão de Um Rei", que ele rodou em 1971 - mas que não pôde montar como planejara devido a problemas de saúde. Recuperado por seu ator favorito, Helmut Berger, "Ludwig" teve agora (a exemplo de "Nasce uma Estrela", 54, de George Cukor) uma respeitosa remontagem, já relançada na Europa. E se "A Star Is Born", na versão original (sem os cortes impostos pelos produtores) agora chega ao Brasil, é de se esperar que também "Ludwig", venha até nós. "L'Innocente" tem um ótimo elenco - Laura Antoneli, Giancarlo Gianini, Didier Hapedin e a americana Jennifer O'Neill ("Houve uma Vez um Verão"). Reprise indispensável. OUTROS PROGRAMAS - Capaz de surpreender - e certamente agradar aos que curtem filme de espionagem, "Memória de Um Espião" (Another Country) não tem nomes famosos no elenco: Ruppert Everett, Colin Firth, Michael Jenn e Gary Elwels. O diretor também é desconhecido - Marke Kanievska - mas este filme, em cartaz no Cinema I, merece verificação. xxx Depois de "Dois Heróis Bem Trapalhões" (Crimes Wave), outro filme de trapalhadas e correrias: "Os Dois Super-Tiras em Miami", de Bruno Corbucci, com a dupla Terence Hill e Bud Spencer - no Vitória (onde substituiu ao ótimo "Golpe de Tiras/Le Ripaux", de Claude Zici, que não teve bom público). Também com muita ação "A Jóia do Nilo" (The Jewel of the Nile), de Lewis Teague, seqüência a "Tudo Por Uma Esmeralda", com o mesmo elenco central (Michael Douglas, Kathlenn Turner e Danny DeVitto) prossegue no Plaza. No Bristol, em carreira surpreendente (e provando ter empatia com o público jovem) continua em exibição o meigo "O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas" (St. Elmo's Fire), de Joel Schumacher. "O Enigma da Pirâmide" (Piramid of Fear), de Barry Levinson - que também pode ser chamado de "A Primeira Aventura de Sherlock Holmes e Dr. Watson", continua no Condor. Concorreu ao Oscar de efeitos especiais (perdeu para "Cocoon"), seu elenco é de novas faces, mas a segurança do produtor Steven Spielberg garante a aceitação deste filme. Assim como "Rocky IV", no Lido II, continua faturando o suficiente para se manter no ringue. LEGENDA FOTO 1 - Anne Brancroft em "Agnes de Deus", um filme polêmico. Cine Astor. LEGENDA FOTO 2 - William Hurt, Oscar de melhor ator 86, em "O Beijo da Mulher Aranha". Cine Palace Itália. LEGENDA FOTO 3 - Robert Redford em "Entre Dois Amores" - o filme que ganhou 7 Oscars. Lido I. LEGENDA FOTO 4 - Para quem gosta de cinema pastelão: Terence Hill e Bud Spencer em "Os Dois Super-tiras em Miami". Cine Vitória. LEGENDA FOTO 5 - Novos atores em "Memórias de um Espião": Ruppert Everett e Colin Firth. No Cinema I. LEGENDA FOTO 6 - Um filme sobre a juventude de Holmes e Watson: "O Enigma da Pirâmide", em cartaz no Condor.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Seção de Cinema
32
30/03/1986

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