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Aramis

Uma sinfonia de som, luzes e encantamento

O Bamerindus não poderia ter feito melhor investimento cultural: a Sinfonia de Natal que iluminou a noite de sexta-feira, na Boca Maldita, ao som de Haendel, Ravel, John Philips Souza e outros mestres foi um dos mais belos espetáculos públicos já acontecidos em Curitiba. Milhares de pessoas, ocupando todos os espaços da Avenida Luiz Xavier, uma orquestra da maior competência - formada por 70 músicos de primeira fila de São Paulo e o coral da Fundação Teatro Guaíra, uniram-se num espetáculo de música e cores, que aos toques da sinfonia 1812, de Tschaikowsky, coloriu o céu da cidade com fogos de artíficio - enquanto o raio laser escrevia num grande painel - e sobre as árvores da Praça Osório, mensagens de Feliz Natal. xxx Diogo de Assis Pacheco, 63 anos, grande maestro do evento, estava feliz. Reger uma grande orquestra num espetáculo público sempre esteve entre seus prazeres, ele que com um curriculum dos mais expressivos - formação em Tanglewood, no Massachusetts (1960), onde acontece o mais famoso festival de música dos Estados Unidos - sempre gostou de inovações. Há 24 anos, em São Paulo, foi quem iniciou um movimento de popularização da música erudita, fundida com a popular, realizando concertos com Elizete Cardoso cantando as "Bachianas" de Villa Lobos, Alaíde Costa interpretando baladas medievais ("Alaíde e Alaúde"), além de apresentar até músicas de Roberto Carlos em estilo clássico, no Concerto Jovem Guarda, patrocinado pela Sociedade de Cultura Artística, em São Paulo. Jovial, chegando a ensaiar passos de danças, estimulando o público a se integrar ao concerto, Pacheco foi o animador do evento que comprovou a sensibilidade de pessoas simples para a boa música: respeitoso silêncio durante as quase duas horas em que eram apresentados o "Aleluia" de Haendel - primeiro na versão vocal em latim, depois no bis, em inglês; a "Bachiana" de Villa Lobos, com solo de Celina Imbert, "Adeste Fidelis"; "Noite Feliz"; "Danúbio Azul", de Strauss - e no grande momento da noite, 1812 - apoteótico, iluminado - numa integração de luzes e fogos, tal como, na noite de 27 de novembro, aconteceu no alto do Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, no encerramento do FestRio. Após o deslumbramento da sinfonia de Tschaikowsky, a euforia marcial de "Stars an streps forever", de John Philip Sousa (1854-193), cuja identificação popular só encontrou paralelo no "Bolero" de Rafael, hoje um hit assobiável depois da promoção que ganhou como leit-motiv do filme "Retratos da vida" (Bolero ou Les uns et les autres, 81, de Claude Lelouch). Entusiasmado, o público não arredava o pé da avenida: a beleza visual do espetáculo, com projeção de slide reproduzindo detalhes de telas famosas, tendo por tema as batalhas de Napoleão Bonaparte, os efeitos do laser - em cores verdes e os reflexos da avenida - tudo contribuía para um espetáculo único, praticamente inédito para a maioria do público presente. De pessoas humildes, que pela primeira vez ouviam/viam uma grande orquestra e coral - a apaixonados pela melhor música, como o casal Eduardo e Consuelo Guimarães, acostumados a aplaudir os melhores concertos em teatros europeus e americanos, a opinião era uma só: inesquecível. Consuelo Macedo Guimarães, jovem, sensível e inteligente senhora, segurando no braço do do marido, arquiteto Eduardo comentava: - A sensação é que estou vendo um espetáculo de son et lumière em Paris. Eduardo, afinada voz, acompanhava, com entusiasmo, o canto religioso de "Aleluia". Como eles, centenas de outras pessoas sentiam a mesma emoção. Se o Bamerindus, graças à sensibilidade de seus diretores - e o bom gosto de Sérgio Reis, da área de comunicação - tem sabido promover bonitos espetáculos, agora, como diz um de seus anúncios, passou da conta. Mas uma conta extremamente saudável, antecipando em 15 dias a mais bela noite de Natal. Uma noite musical para não ser esquecida.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
13/12/1988

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