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Aramis

Uma visita para a história (I)

Às 11 horas da manhã de domingo, 6, na sacada do Palácio Iguaçu, frente a multidão que lotava a praça Nossa Senhora de Salete, subia pela Avenida Cândido de Abreu e chegava até a Praça Tiradentes - quase dois quilômetros de massa humana, um milhão de pessoas, segundo os mais otimistas, acima dos 750 mil, seguramente, segundo os mais realistas - a emoção era grande. E, no final da Santa Missa, quando 2 mil pombos voaram em direção norte, após circularem o altar onde o Papa João Paulo II dava a bênção aos paranaenses - ao som de << Aleluia >>. de Haendel, com um coral de 600 vozes, enquanto lágrimas desciam nos olhos mesmo de duros cidadãos, desmaios e emoções das centenas de pessoas (só no posto do IPE, no térreo do Palácio, 85 pessoas foram atendidas), ouviram-se algumas frases. O jornalista Luís Júlio Zaruch, 32 anos, há 9 assessor de imprensa da Prefeitura de Curitiba e, portanto, acompanhando de perto todos os eventos públicos da cidade, exclamou: << Hoje nem os maiores inimigos seriam capazes de odiar. É o mesmo clima do dia em que nevou em Curitiba >>. Há exatamente 5 anos e oito dias, quando Curitiba amanheceu coberta de neve (17/07/1975) - num fenômeno que desde então a população, no fundo, espera que se repita - foi um dia de congraçamento entre os homens: poucos trabalharam e todos se integraram numa emoção que os curitibanos não tinham deste 1928., quando, pela primeira vez nevou na fria Capital paranaense. São Pedro, primeiro Papa, colaborou para que a visita de seu sucessor, João Paulo II, a cidade onde houve a chamada << Missa das Etnias >>, acontecesse da forma mais bela possível. A chuva gelada dos dias que antecederam a aguardada chegada do Sumo Pontífice, desapareceu no sábado. Um dia cinzento, frio - que fez as centenas de jornalistas brasileiras e estrangeiros que acompanham a comitiva, tilintarem de frio (especialmente os que fizeram o percurso aeroporto-Estádio Couto Pereira no caminho que se colocou defronte o papamóvel) - não chegou, entretanto, a prejudicar a multidão que lotou os 60 mil lugares do Estádio Couto Pereira, enquanto outra metade brigava, fora dos portões, frustada por não conseguir entrar. E a multidão cresceu pelo menos 15 vezes mais ao longo da madrugada de domingo, de forma que com o clareae do dia, o espetáculo que se presenciava defronte o Palácio Iguaçu, na Praça Nossa Senhora de Salete, era << realmente indiscritível >>, como, em sua eficiente narração, dizia, emocionado, Didier Bettega, na transmissão para a Rede Estadual de Rádio - 98 emissoras em todo o Paraná - procurando descrever os momentos de emoção e religiosidade vivido pelos curitibanos no último fim de semana. Frente a concentração humana nunca antes ocorrida em Curitiba, um visual emoldurado pelas duas cruzes colocadas defronte o Palácio Iguaçu, a maior, ao lado do altar, e outra, em contraste com dois robustos Pinheiros, ao lado da Assembléia Legislativo, defronte o Tribunal de Justiça, era impossível deixar de sentir uma grande emoção. Independente do espaço religioso - no ecumenismo ético-pessoal da ocasião, as crenças se irmanavam em algo de maior significado - a presença carismática do Sumo Pontífice, na solenidade encerrando a sua visita pastoral a Curitiba, inicial 18 horas antes, fazia com que ninguém se sentisse cansado pelas longas horas de vigília - quer, pelo trabalho, entre as quase 10 mil pessoas que, de uma forma ou outra, se integraram em todos os preparativos, ou milhares de fiéis que percorrendo centenas (e até milhares de fiéis que percorrendo centenas ( e até milhares) de quilômetro, ou chegando dos bairros, madrugada adentro, lutavam pelo melhor lugar para acompanhar a Missa das Etnias. Mesmo possantes binóculos não conseguiam permitir o detalhamento da massa humana, tão grande era a sua concentração no maior espaço livre de Curitiba, num evento religiosos só comparável ao congresso eucarístico há 20 anos. *** Monsenhor Paul Marcinkus, presidente do banco do Vaticano e responsável-geral pelas viagens do Papa, repetiu, em pelo menos três ocasiões , de que Curitiba constituiu o << hight pointer >> da visita do Sumo Pontífice. Impressionando não só pela organização e calorosa recepção, o monsenhor Marcinkus destacou a forma ordeira com que transcorreram todos os eventos. Exceto o atendimento à algumas centenas de pessoas que, por diversas razões, sentiram-se mal durante as solenidades (na manhã de domingo, especialmente fome de crianças, devido a longa espera), nenhum fato mais triste marcaria a visita pastoral do Papa João Paulo II, se fosse a morte, na madrugada de domingo, do monsenhor boleslau Falarz. 67 anos, vigário-geral da Arquidiocesse de Curitiba, sepultado na tarde de ontem, no Ceminário Santo Antônio, na colônia de Nova Orleans, onde ele nasceu. Filho de poloneses e sofrendo coração a morte de monsenhor Falarz - que anteriormente foi vigário da Catedralm, emocionou a comunidade religiosa. Há algumas emanas, comentava com o engenheiro Raphael Grecca de Macedo, diretor da Casa Romário Martins, que era até curioso que, se no passado, os imigrantes poloneses, das colônias, eram ironizados, muitas vezes, pelo sotaque carregado, sua forma simples de trajar, hoje, são reconhecidos em sua << contribuição cultural >>, e , de certa forma, a eles se devia o fato de Karol Wojtyla, como primeiro Papa polonês da história da Igreja, ter feito questão de vir a Curitiba e aqui ter um dos momentos mais importantes de sua visita ao Brasil. *** Enquanto o Papa João Paulo II pronunciava, sua belíssima oração, na manhã de domingo, o monsenhor Marcinkus, breviário na mão, circundava o espaço entre o altar e a entrada do Palácio, local cercado pela segurança e onde poucas pessoas tinham acesso. Apenas quem se encontrava na sacada do Palácio Iguaçu observou aqueles momentos de concentração do monsenhor Marcinkus, que, há mais de 15 anos, é uma das mais poderosas personalidades do Vaticano. Tanto pelo fato de ter vindo a Curitiba há dois meses, checar os preparativos, da visita, como pela necessidade de verificar detalhes de toda a << operação >>, o monsenhor Marcinkus foi quem teve os contatos mais diretos com os principais coordenadores dos vários setores. *** Qual o destino da grande cruz de madeira, erguida ao lado do altar? Antes mesmo da missa terminar, havia quem sugerisse que a mesma deveria permanecer no local, como marco da visita de João Paulo II ao Paraná. Mas tratando-se do Centro Cívico da sede dos poderes Executivos e Legislativo, o símbolo da Igreja Católica, poderia, no futuro, constranger, autoridades que não sejam católicas. Embora não estivesse, até a tarde de ontem, acertado o que se fará com a cruz, o mais provável é que a mesma venha a ser fixada na fatura Igreja e São Pio X, na pároquia em organização no bairro do Seminário, que tem como patrono o Papa Pio X, cujo pontificado estendeu-se 1903 a 1914. Um esquema organizado da segurança impediu, diplomaticamente, que a multidão invadisse o altar, após a saída do Papa João Paulo II - ao contrário do que acontece em outras cidades. Apenas as flores foram disputadas pelos fiéis, que procuravam levar tudo que lembrasse o evento. Isso fez com que as 96 bandeiras mandadas confeccionar pela Prefeitura na casa Roskamp, por Cr$ 30 mil, para decorar a Avenida Cândido de Abreu, também fossem levadas pelos que primeiro conseguiram alcançá-las. No Estádio Couto Pereira, também as 12 mil dúzias de palmas brancas e vermelhas, com as quais a << Flor de Liz >>, confeccionou um peixe de 14x26 metros. segundo desenho do arquiteto Abrão Assad, transformaram-se em relíquias, após o fim da solenidade, na noite de sábado. A Flor de Liz cobrou Cr$ 40 mil para confeccionar o peixe, símbolo dos cristão no século 1. Das 15 mil cartas que o Raphael Macedo, como coordenador da decoração dos exteriores para a visita do Papa, enviou a famílias residentes nas ruas e avenidas por onde passou o Sumo Pontifície, ao menos 10% tiveram atendimento. Com maior ou menor sofisticação, janelas, sacadas e fachadas de prédios, residências, e mesmo lojas e indústrias foram decoradas. Mas houve também exageros e exploração publicitária de algumas empresas. O secretário Cleto de Assis, da Comunicação Social, teve que apelar, 48 horas antes da chegada do Papa, aos proprietários da << Época >>, firma de out-doors, para que retirasse dos painéis localizados próximos ao Aeroporto Afonso Pena, uma publicidade do pão pullman, com o título << Toda a delícia será santificada >>, ilustrada com uma foto do Sumo Pontífice. Na Rua André de Barros, em frente à sede da Café do Paraná, uma grande faixa branca, com letras azuis, dizia: << O 1.º Distrito Polícial de Curitiba saúda, o Papa João Paulo II >>. Por coincidência ou não, esta faixa, junto com a da Polícia Militar, defronte o quartel da PM, foi a única que atingiu os jornalistas que viajavam no caminhão da Volvo, com a carroceria em forma de escadaria, antecedendo ao << papamóvel >>. O que levou um profissional a comentar: << Será que até em faixas de saudação, a Polícia gosta de bater nos jornalistas? >> *** Além da emoção e dos aspectos espirituais da visita que o Papa João Paulo II fez a Curitiba, restarão também resultados práticos. A iluminação que a Prefeitura fez no prédio da Cúria, nas igrejas de São Estevão, São Vicente, Catedral, Sociedade Garibaldi e Praça João Cândido, permanecerá. A casa da família Pianowski, montada no Estádio Couto Pereira e que foi visitada pelo Papa João Paulo, será transferida para o Parque do barigüi, como sede do Museu do Imigrante. A aparelhagem de som, adquirida pela Secretaria da Comunicação Social - e que instalada sob supervisão dos técnicos Guido Cecato e Gebran Sabbag, funcionando extraordinariamente bem, veio preencher uma lacuna que existe na área evitando que, no futuro, o governo tenha que desperdiçar milhões com firmas << especializadas> (sic) em sonorização.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
08/07/1980

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