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Aramis

Vale a locação - Sob o domínio do medo

San Peckinpah (1920-1984) foi um dos mais interessantes realizadores americanos. Na linha do cinema-ação de Samuel Fuller - cult-director que teve seus trabalhos (re)valorizados pelo "Cahiers du Cinema" - Peckinpah desde o primeiro western que dirigiu ("O Homem que Eu Devia Odiar", 1961), se revelou como um cineasta que fugia aos padrões tradicionais. Freqüentando outros gêneros - mas tendo sempre sua atração para a ação, buscando personagens de grande densidade - deixou uma filmografia marcada não apenas pela violência (como o clássico "Meu Ódio Será sua Herança" / The Wild Bunch, talvez sua obra mais conhecida), mas também pela colocação que sempre soube fazer do homem obrigado a uma atitude vigorosa, chegando a violência, quando pressionado por forças inesperadas. Em nenhum momento de sua obra, Peckinpah desenvolveu melhor esta questão do que em "Sob o Domínio do Medo" (Strawdogs), rodado na Inglaterra, em 1971 - e que agora está sendo lançado no Brasil pela Transvídeos (já a disposição na Master e Disc Tape). David (Dustin Hoffman, numa de suas melhores atuações), um tímido matemático americano, junto com a esposa inglesa (Susan George, que não fez carreira), vai para uma casa isolada numa cidadezinha na Escócia, para um trabalho de pesquisa. É um estranho numa cidade cheia de animosidade, que o trata com sarcasmo. Sua esposa é violentada por quatro homens que invadem sua casa - mas apesar desta violência ele não explode. O que só acontece quando David atropela o bobo da aldeia, que havia matado acidentalmente uma jovem - e que leva para sua casa. Um grupo de moradores da cidade decide linchar o bobo - o que leva David a defendê-lo. Os últimos 20 minutos são de extrema violência, mostrando até onde pode chegar a tolerância de um homem comum, que tenta ficar a distância da brutalidade - mas que é envolvido pela estupidez e ignorância. O thriller construído por Peckinpah é denso, dando aos atores (Peter Vaughan, Peter Arne e David Warner no elenco de suporte) excelentes atuações, num filme de intensa densidade e que justifica ser revisto por quem o conheceu há 16 anos, quando chegou nas telas do Cine São João (entrando inclusive em nossa lista dos 10 melhores do ano) e conhecido agora, por parte do público mais jovem.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
8
18/05/1989

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