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Aramis

A verdade dos palcos na visão de Marilu e Eloá

Corajosas e lúcidas as colocações que Marilu Silveira e Eloá Rodrigues Teixeira fizeram sobre o teatro e a dança no Paraná, em artigos para a edição especial do Boletim informativo do Instituto Nacional de Artes Cênicas, que, a propósito da realização do Mambembão - Ipiranga, mereceu maior número de páginas e distribuição nacional. Em 74 páginas, ao lado da apreciação dos diferentes grupos participaram dessa sétima edição do projeto "Mambembão", criado em 1978 para possibilitar uma salutar integração dos grupos de teatros regionais, o boletim do Inacem traz uma contribuição à bibliografia teatral brasileira. Através de textos de autores de vários Estados, faz-se um balanço de como estão as atividades teatrais e de dança. xxx Jornalista das mais atuantes, hoje editora de arte e cultura do "Correio de Notícias", Marilu Silveira é integrada ao teatro. Há anos, é a idealista coordenadora do grupo de teatro Gil Vicente, que, mesmo sem maior apoio, tem feito boas encenações de autores portugueses. Assim, Marilu reúne condições para apreciar, criticamente, nosso teatro. Ela inicia o artigo, lembrando que há verbas para montagens ("poucas, mas há"), assim como a Comissão Estadual de Artes Cênicas, o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões no Estado do Paraná, As Associações dos Produtores (que construiu, graças a José Maria Santos, o Teatro da Classe), a ATIC - Associação de Teatro Infantil de Curitiba, a Federação Independente de Teatro Amador e, por último, a Associação Brasileira de Teatro de Bonecos, agora presidida por Euclides de Souza, veterano titireteiro, que preferiu a vida artística do que a carreira de engenharia, ao abandonar, em 1962, o curso que fazia na UFP. Se, de um lado, há muitas entidades e também vários grupos, tanto profissionais como amadores, falta, diz Marilu no artigo (e com o que concordamos em gênero, número e grau) melhores resultados. "... O teatro feito aqui se encontra perto do inexpressivo. A [resposta ] da produção não condiz com a organização. Há gente de talento envolvida em trabalhos sem qualidade, pobre de idéias, pobre em realização cênica:. A crise talvez não seja apenas local. Ao menos assim entende Marilu, para quem não satisfaz também aquilo que aqui chega provindo do eixo Rio-São Paulo: grandes nomes, em peças sem expressão, problema esse agravado pelo elenco de apoio, nunca o original, sempre aquele preparado para viajar, na última hora. De tanto ver reinar o mal feito no palco, o público se afasta. E com sentido. O público se aprimorou. Evoluiu. E muitos autores ainda não perceberam esse fenômeno. O público se renova. O jovem está ligado a tudo. O ator, o mesmo ainda, pensa que está falando para a platéia do início de sua carreira. Há um contraponto nesse elo palco-platéia. No Paraná, onde é comum o ator ser o produtor, proliferam os grupos. E proliferam, também, os monólogos; quando muito, os diálogos (...) Levar a profissão a sério e não apenas contar vantagem. Os tempos são difíceis e no Paraná o teatro ainda não garante a alimentação do ator e de sua família (mas qual a profissão que hoje está garantindo isso?). O dinheiro é pouco. Mas nem por isso o ator deve se envolver num processo vicioso: faço teatro ruim, não tenho público, ganho pouco, me contento com a verba oficial. Não há empresário peitudo. O teatro não é visto como empresa, até agora. Há uma classe teatral - tão bonita - perdida no rumo. Uma classe sem efervescência cultural, que navega ao vento do que o oficial designa. E os tempos estão a exigir idéias, inventiva, renovação. Á beira de um novo século e a cabeça maquinando com quase dois outros séculos de diferença. A magia do próprio teatro é que tem de fazer mágica. Há que existir, outra vez, o namoro. Namoro entre palco e platéia, entre ator e texto, entre atriz e personagem, entre diretor e concepção total do espetáculo, entre técnico e elenco. Um todo vibrando no mesmo compasso. Aí está a mágica, a magia, a força do teatro. xxx Professora de educação artística, ex-diretora de arte e programação da Fundação Teatro Guaíra (afastou-se do cargo no ano passado, devido a discordar dos colegas Oracy Gemba e Leonel Amaral), Eloá Rodrigues Teixeira tem grande vivência, na dança, em Curitiba. Assim, sua análise para o boletim do Inacem é lúcida e corajosa, tocando num dos problemas mais sérios o que até hoje, por falta de coragem (e responsabilidade) de quem de direito, não foi ainda denunciado: a proliferação das academias, escolas e estúdios de dança, sem condições técnicas de funcionamento. Verdadeiras armadilhas, orientadas por incompetentes e que transformaram, nos últimos 5 anos, a área de dança num terreno arenoso onde se trava uma guerra-de-foice, na conquista de alunas. Eloá chega a firmar, no artigo, que, dentro do modismo da dança, há alguns que chegam a dar aulas até em butiques. Procuram atender à demanda de consumo, num ecletismo perigoso. Diz Eloá: " Este fenômeno de consumismo de exercício corporal ativou a ganância em ganhar dinheiro com a dança, não importando como dar aula. O importante é abrir uma escola ou academia para faturar bem, ou dar aulas em qualquer colégio ou jardim-de-infância. Por isso, o Paraná e acredito que o Brasil se defronta com um problema seríssimo que afeta diretamente a eclosão de vocações artísticas: o pouco ou nenhum conhecimento da metodologia para o ensino da dança clássica ou moderna por parte da maioria das pessoas que estão dando aulas. E dia a dia mais academias estão abrindo e professores despreparados estão se multiplicando a olhos vistos".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
14
18/08/1984

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