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Veteranos da MPB no encontro da pesquisa

O show que abriu o IV Encontro de Pesquisadores da Música Popular Brasileira, na noite de quarta-feira, 5, na sala Sidney Miller, no Rio de Janeiro, mostrou uma triste realidade: como o Brasil perde com a injusta marginalização de seus melhores talentos. Cinco artistas da maior expressão - a pianista Carolina Cardoso de Menezes e cantores Zezé Gonzaga, Violeta Cavalcanti, Roberto Silva e Gilberto Milfont, todos sexagenários, mostraram perfeita forma artística, apresentando um espetáculo emocionante - aplaudido por mais de 200 pessoas presentes ao encontro. Ouvindo-se uma pianista de habilidade como Carolina Cardoso de Menezes, a contagiante comunicação de Violeta Cavalcanti - uma das mais festejadas cantoras da rádio Nacional dos anos 40/50, a beleza vocal de Zezé Gonzaga - com toda razão chamada de "a cantora dos músicos", pela afinação e timbre; a segurança a classe do romântico) Milfont ou do artista Roberto Silva, uma questão se faz: por que no Brasil, ao contrário de outros países, artistas da chamada velha guarda, em forma, boa saúde e com muita categoria, são penalizados ao esquecimento, sem gravarem, sem fazerem shows, raramente aparecendo na televisão? Em compensação, nunca como nesta década, se viu (e ouviu) tanta mediocridade musical, especialmente em nome de uma síndrome da juventude que estimula o aparecimento de elepês e mais elepês dos piores grupos de rock & sucedâneos. xxx Abrindo com os artistas acima citados e encerrando com Isaurinha Garcia, (numa emocionante presença no palco) através da reverência e dedicação a grandes nomes de nossa MPB, em espetáculos idealizados e dirigidos com a sensibilidade de Hermínio Bello de Carvalho, a reunião dos pesquisadores de nossa MPB, onze anos após o primeiro encontro que aconteceu em Curitiba (Teatro Guaíra, de 28 de fevereiro a 2 de março de 1975) confirmou que apesar da falta de condições financeiras, pouco reconhecimento ao trabalho normalmente idealístico e anônimo e mesmo destruição de muitas fontes de referência e informação, a memória de nossa música recebeu muito fosfato nestes dez anos. Homens e mulheres que em trabalhos diferentes, espalhados por vários Estados, preocupam-se em identificar, estudar e preservar tudo que se relaciona a nossa cultura musical - gêneros, estilos, compositores, intérpretes, etc. - trocaram informações, analisaram pontos de vista e sobretudo, receberam uma injeção de otimismo em termos pessoais. Se há dificuldade para um trabalho que financeiramente representa encargos e não lucros - e dois respeitáveis profissionais da área, João Luiz Ferrete (São Paulo) e Ary Vasconcelos (Rio de Janeiro) ofereceram sinceros depoimentos a respeito - há também a alegria de ver que graças ao que se vem tentando fazer, ao menos alguma coisa ligado a nossa MPB tem sido preservado. Assim, a participação ativa de dois admiráveis compositores - o paraense Waldemar Henrique, 81 anos e o pernambucano Capiba (Lourenço da Fonseca Barbosa), 82 anos - ao lado da cantora Inezita Barroso - 64 LPs de música de raízes em 32 anos de carreira profissional - foram testemunhos ao vivo de aspectos de nossa música, que teve também o proseado bem humorado de Rolando Boldrin, falando de sua experiência no Som Brasil e a revigorante exposição-show do violeiro Roberto Corrêa, 29 anos, único professor de viola numa escola superior de música (Brasília). Uma bela exposição de desenhos e caricaturas de Miecio Caffé, baiano de Vitória da Conquista, 35 anos de São Paulo, que há 4 anos foi mostrada no hall do auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, durante o evento "Brasil de Todos os Cantos", foi outra atração especial do encontro - aberto ainda com o lançamento de um novo livro de crônicas e estórias da MBP do veterano Jota Efegê (João Ferreira Gomes, 84 anos), "Meninos, Eu Vi" (Edição Funarte, 265 páginas, Cz$ 35,00), que se acrescenta assim aos volumes de "Figuras e coisas da MPB" e a "Figuras e Coisas do Carnaval Carioca", do mesmo Jota Efegê - ao lado de Almirante e Lúcio Rangel, já falecidos, pioneiro da memorialística musical no Brasil.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17
11/03/1986

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