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Aramis

A viagem de El-Khatib

Só mesmo o grande amor que tem pelo Brasil, onde se encontra há 45 anos, fez com que o editor Said Mohamad El Khatib, 59 anos, recusasse um convite que recebeu ao visitar a sua aldeia natal, no Líbano: ser o prefeito de Khebet-Ruora, pequena localidade de 3 mil habitantes, onde nasceram e viveram seu avô e seu pai. Em 7 meses que passou no Oriente Médio, o editor El Khatib desenvolveu uma série de contatos e, em sua aldeia, conseguiu realizar algumas obras - que lhe valeram o pedido da população para que ali ficasse, como prefeito. Em 1949, quando retornou pela primeira vez ao Líbano, já com sua esposa, a paulista Maria e os seus quatro filhos, Said conseguiu realizar vários trabalhos comunitários na aldeia, entre os quais o funcionamento de uma escola. Agora, embora permanecendo menos tempo, deu condições para que funcionasse um ginásio - que iniciou as atividades com mais de 50 alunos. Mas, Said não ficou apenas em Khebet-Ruora durante os sete meses em que esteve fora de Curitiba: na Arábia Saudita e no Kuwait manteve contatos com altas personalidades, mostrando a importância do mundo árabe ter uma presença, cultural e religiosa, mais ativa no Brasil - principalmente agora que as relações entre o nosso país e aqueles países se tornam mais fortes. Como resultado, obteve a promessa da vinda de novos Sheih - padres muçulmanos, para orientação espiritual e, a curto prazo, a instalação em Brasília de uma mesquita e de um centro islâmico - o primeiro do país. Um dos primeiros Sheih virá para o Paraná, para atender a comunidade árabe da região de Foz do Iguaçu, enquanto um outro irá ou para Barretos, interior de São Paulo ou Porto Alegre. No Paraná já há três Sheih - que aqui estão concluindo mesquitas islâmicas: Hassam Saleh Annan, em Curitiba; seu irmão, Abdo Azis Annan, há 50 dias no Brasil, em Paranaguá e Ahmed Mohaere, em Londrina. No resto do Brasil, só há um Sheih, em São Paulo. No Kuwait, Said Mohamad El-Khatib foi recebido pelo ministro Rachid Farhan, do Patrimônio Religioso, que se entusiasmou com seu propósito de lançar no Brasil literatura religiosa e difundir a cultura árabe aliás, o que já está fazendo, sem qualquer auxílio dos governos daqueles países, há muitos anos: em 1965, Said publicou, em 3 volumes, "A Civilização Árabe" de Gustavo Le Bohn e agora, há poucos meses, editou o "Arkan Il-Islam" - pilar do Islamismo fundamentado em 5 mandamentos, uma espécie de catecismo daquela religião. Existindo no Brasil cerca de 6 milhões de árabes, dos quais cerca de 300 mil são muçulmanos, é legitima a preocupação de Said El-Khatib em difundir a cultura e a religião de Alah e seu profeta Maomé, principalmente entre os filhos dos imigrantes que não tiveram oportunidade de conhecer a terra de seus pais. LEGENDA FOTO 1 - El-Khatib.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
4
04/01/1975

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